A greve dos caminhoneiros no Brasil completou uma semana nesta segunda-feira (28) com propostas “extremamente vantajosas” para a categoria encerrar a paralisação, segundo o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun. A equipe formada pelo presidente Michel Temer anunciou nesta tarde, pela terceira vez, o fim da greve, enquanto motoristas de carga continuam parados em 566 pontos em estradas do país.
A situação mostra a falta de habilidade política do time escalado pelo governo, que faz com que os caminhoneiros tenham uma vantagem maior na mesa de negociação. Praticamente todos os membros do gabinete de crise são do segundo escalão da política – com exceção do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que já foi ministro dos Transportes.
Marun, por exemplo, é deputado atualmente licenciado e integrou o grupo que deu sustentação ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) – atualmente preso em Curitiba na Lava Jato. O ministro foi um dos fiéis defensores do ex-deputado, que acabou cassado pelo Conselho de Ética. Marun estava em seu primeiro mandato como deputado federal quando assumiu o cargo no ministério.
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Os ministros da Fazenda, Eduardo Guardia, e do Planejamento, Esteves Colnago, também não têm experiência política. Ocupam as pastas desde que os titulares se afastaram para disputar as eleições – ambos eram secretários-executivos dos ministérios que hoje chefiam. No Gabinete de Segurança Institucional, o general Sergio Etchegoven também não se mostra preparado para o diálogo – críticos apontam que o setor de inteligência subordinado à pasta falhou em não prever a insatisfação dos caminhoneiros.
Para o cientista político Márcio Combra, falta profissionalismo à equipe do governo encarregada de dar fim à crise gerada pela greve. “Você tem um time de neófitos que está comandando as negociações dentro do governo, são pessoas que não têm muita experiência nesse tipo de trabalho. A não ser o ministro Eliseu Padilha, que está na política há muito tempo, e o presidente Michel Temer, você tem deputados de primeiro mandato e deputados que eram do baixo clero”, explica Coimbra. “Se você tem deputados do baixo clero que estão dando as cartas nesse governo é porque a gente vê que existe um vácuo de poder”, completa.
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“Você tem muitos ministros que são burocratas, autoritários e insensíveis”, corrobora o cientista político da PUCPR Cezar Bueno Lima. “Os ministros parecem que funcionam e se orientam em torno de pautas econômicas racionais abstratas desconectadas da realidade. São burocratas insensíveis que não têm habilidade política para colocar numa mesa de negociação”, completa.
A irritação do time montado por Temer para dialogar com os caminhoneiros é visível em praticamente todas as coletivas de imprensa concedidas para tratar do assunto. O grupo já subiu o tom contra os manifestantes, ao falarem sobre o decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que colocou as Forças Armadas para atuar nas estradas, e do decreto de requisição de bens. Mesmo assim, os caminhoneiros não arredaram o pé e continuam de braços cruzados.
A responsabilidade de Temer
O próprio Michel Temer tem tido dificuldades na mesa de negociação. O presidente gastou todo seu capital político em 2017 para se livrar de denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República – duas vezes – no Congresso Nacional e tem a menor aprovação popular desde a redemocratização. Temer também falhou ao subestimar o tamanho do problema causado pela greve dos caminhoneiros, que chega a uma situação cada vez mais crítica.
Na quinta-feira (24), quando já começava a faltar combustível nas bombas, o presidente resolveu sair de Brasília e deixar a negociação a cargo do ministro Eliseu Padilha. O resultado foi que a maior representante dos caminhoneiros – a Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam) – abandonou a mesa de negociação no meio da reunião e, mesmo assim, o governo anunciou o fim da paralisação no início da noite.
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Para Coimbra, é preciso retroceder um pouco além da crise gerada pelos caminhoneiros para entender a vantagem que a categoria tem para negociar. “O presidente Michel Temer mostrou desde o começo da administração dele que tende a ceder”, explica. “Isso faz com que qualquer categoria que enfrente o governo saiba que pode esticar muito a corda que o governo, ao final, é um governo medroso, um governo fraco”, completa.
“O ponto mais importante que se coloca e se evidencia nessa greve é a falta de legitimidade do governo. Sem entrar em questionamento se é certo ou errado, é um governo fraco do ponto de vista de que ele não tem soberania popular eleitoral para fazer valer sua vontade”, diz Cezar Lima.
Os grevistas já deram sinais claros de que não confiam no governo e haviam prometido que só encerrariam a paralisação com as medidas negociadas publicadas em Diário Oficial. O governo cumpriu o combinado, e mesmo assim não viu o fim da greve até agora.
O papel dos governadores
Nos estados, os governadores começam a sentar à mesa para negociar com os grevistas, na esperança de solucionar – pelo menos em parte – o problema do desabastecimento. O detalhe é que quase todos os governadores, ou estão em clima de fim de feira, apenas esperando pelo fim dos mandatos, ou estão mais preocupados com a reeleição, em outubro.
“Esses governos têm dificuldade de fazer um enfrentamento e propor uma solução. Eles não querem o desgaste. Existe uma crise econômica, uma crise institucional, e temos um ano em que temos eleições. Muitos governos estão mais preocupados com a plataforma política dos próximos quatro anos do que com esse momento de crise”, explica Lima.
As concessões do governo
Na noite de domingo (27), Temer anunciou uma série de medidas para que a categoria encerre a paralisação. O custo estimado das medidas adotadas por Temer é de R$ 10 bilhões no orçamento. E mesmo assim, os caminhoneiros continuavam parados na manhã desta segunda-feira (28). “O governo falhou em lidar com a greve porque ele tem pessoas fracas, não tem nomes fortes dentro do governo e não tem aprovação. E outra, o governo subestimou a crise desde o princípio”, avalia Coimbra.
Entre as medidas anunciadas pelo governo no domingo estão a redução do preço do diesel, a criação da Política de Preços Mínimos para o Transporte Rodoviário de Cargas, a proibição da cobrança de pedágio sobre os eixos suspensos de veículos de transporte de carga que circularem vazios e a determinação para que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) contrate caminhoneiros autônomos para transportar até 30% de seu transporte rodoviário de cargas.
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