O governo Michel Temer estuda incluir a Caixa Econômica Federal (CEF) no pacote de privatizações que já têm Eletrobras, Infraero e Casa da Moeda, entre outras. A informação é do portal especializado em economia Relatório Reservado, que publica uma newsletter diária encaminhada a agentes do mercado financeiro.
Segundo o site, o anúncio oficial deverá ser feito no final do ano, depois da privatização da Eletrobras, junto com outras medidas de reestruturação da máquina pública, além do anúncio de que o programa Bolsa Família será incluído na Constituição Federal. Procurada pela Gazeta do Povo, a assessoria da Caixa não confirmou e nem negou a informação, embora estivesse a par do assunto.
Segundo o Relatório Reservado, a responsabilidade pelo desenho da privatização está nas mãos do presidente da Caixa, Gilberto Occhi. Não fica claro, porém, se a empresa estatal seria vendida em sua totalidade ou apenas uma parte.
De acordo com a reportagem, a “venda da CEFé uma das raras operações capazes de gerar os recursos extraordinários para o equilíbrio das contas públicas, em 2018, um ano em que os calendários fiscal e eleitoral se entrechocam”. O governo vive uma fase de desajuste das contas públicas – o déficit primário deste ano deve chegar a R$ 159 bilhões, mesmo valor previsto para 2018 – e qualquer incremento de receita nesse cenário é mais do que bem vindo.
Privatização da Caixa: bom demais para ser verdade
Venda do banco estatal serve apenas para lembrar que a equipe econômica quer um tipo de liberalização intragável para os políticos
Leia a matéria completaUm negócios das arábias
Se ocorrer, a privatização da Caixa envolveria número superlativos. O banco estatal tem um patrimônio líquido de R$ 63,6 bilhões e ativos totais na ordem de R$ 1,277 trilhão. No primeiro semestre deste ano, a CEF teve um lucro líquido de R$ 4,073 bilhões, segundo o Banco Central.
O resultado do primeiro semestre é bem superior ao lucro de R$ 2,4 bilhões nos seis primeiros meses do ano passado. Já no primeiro trimestre deste ano, a Caixa havia informado um lucro líquido 81,8% maior em relação ao mesmo período do ano passado, de R$ 1,488 bilhão. A Caixa tem cerca de 80 milhões de clientes e 95 mil funcionários. O Grupo Caixa conta com duas subsidiárias: a Caixa Participações e a Caixa Seguridade.
Além da liderança absoluta na concessão de crédito habitacional no país, a Caixa é responsável pelo pagamento de bilhões de reais em benefícios e programas sociais aos brasileiros – só em 2016 foram pagos R$ 242,1 bilhões. Mais de 355 mil cidadãos recebem no banco o programa Minha Casa Minha Vida, num total de R$ 41,4 bilhões pagos.
A expectativa do governo, segundo o Relatório Reservado, é atrair investidores estrangeiros com a privatização da Caixa, possivelmente chineses.
“Um assunto por vez”
Indagado sobre uma possível privatização da caixa em agosto pelo jornal Valor Econômico, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, desconversou. “Tem que ser tratado um assunto por vez”, disse, por ocasião do lançamento da 17.ª edição do anuário Valor 1000. “A privatização da Eletrobras é histórica, e acho que não é o momento de discutir outras privatizações. No geral, a minha opinião é favorável a privatizações, mas o país tem que estar preparado para essas ações”, afirmou o ministro.
O governo já mostrou disposição publicamente de vender o braço de seguros do banco, a Caixa Seguridade, mas o processo até agora não avançou. O processo mais avançado é a venda da Lotex, a rede de loteria instantânea do banco público, prevista para ocorrer neste ano.
A informação, reproduzida na intranet do Banco do Brasil, caiu como uma bomba entre os bancários. “Isso não trará nenhum benefício para o Brasil e a população”, destaca a presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva. “Não podemos aceitar essa lógica de privatização. Não podem fazer isso sem passar pelo Congresso Nacional e chamo todos os brasileiros a resistirem e defenderem a Caixa como empresa pública”, disse.
Procurada pela Gazeta do Povo, a assessoria de comunicação da Caixa informou que já estava a par da notícia e disse que encaminharia uma nota oficial sobre o assunto. Mas, depois, em um segundo contato, informou que a questão seria respondida assim que fosse possível.
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