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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Vários indicadores mostram que no dia primeiro de junho, quando sair o dado do PIB do primeiro trimestre deste ano, o governo Michel Temer poderá anunciar o fim da recessão. Pelo menos estatisticamente, poderemos dizer que o país teve algum crescimento.

Essa possibilidade foi reforçada pelo bom desempenho da produção industrial no primeiro bimestre e pelo indicador IBC-Br do Banco Central, divulgado na segunda-feira (15) , que acumulou uma alta de 1,1% no primeiro trimestre na comparação com os últimos três meses do ano passado. Esse índice resume um apanhado de indicadores de atividade e mostra a tendência geral para o PIB, embora não seja uma prévia do número oficial do IBGE, como muita gente tem divulgado.

Sim, houve atividade mais forte no primeiro trimestre, mas é provável que o crescimento seja um pouco menor do que sugere o dado do BC. E também não é um sinal de que o crescimento está em um ritmo mais forte do que vêm apontando os economistas de mercado – as projeções vão de 0,5% a 2%, com a maioria dos analistas centrando as apostas na metade inferior dessa escala.

Há uma convenção de que uma economia entra em recessão quando passa dois trimestres seguidos em retração – sempre na comparação chamada de “na margem”, ou seja, na passagem de um trimestre para outro e não na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. A oficialização de fato de um ciclo recessivo é um pouco mais complicado do que isso: no Brasil, o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) faz suas contas com alguns meses de intervalo e emitiu em agosto de 2015 um comunicado dizendo que realmente a economia entrou em recessão no segundo trimestre de 2014.

Assim, é bastante provável que seja anunciado o fim da recessão em junho mas que esse fato só seja confirmado depois de alguns meses – afinal, ainda há um risco grande de o segundo trimestre ainda em curso ser de pouco ou nenhum crescimento. Os dados de março divulgados nas últimas semanas pelo IBGE mostram que o comércio teve um mês muito ruim. Também há sinais mistos no mercado de trabalho, com fechamento de vagas formais em março (63,6 mil postos de trabalho) e abertura em abril (59,8 mil vagas).

A queda mais acelarada da inflação, apesar de ser uma boa notícia para a política monetária por abrir espaço para uma queda mais rápida dos juros, é também sinal de que não há qualquer pressão de demanda no país no curto prazo. Este segundo trimestre começou com números ruins na produção de veículos (queda de 18,8% em relação a março) e sem o impulso do agronegócio, que se concentra nos primeiros três meses do ano.

Assim, pouca gente espera que a retomada pós-recessão seja em ritmo forte. Ou pelo menos não forte o suficiente para evitar que o desemprego continue crescendo. Essa é a variável mais lenta da economia. O desemprego começa a subir alguns meses depois de a economia travar e só volta a cair quando as empresas têm certeza de que há demanda para voltar a contratar.

A estimativa do banco Itaú é de que o desemprego continue crescendo até o fim do primeiro trimestre do ano que vem. Ou seja, teremos mais um ano inteiro com mais gente entrando na procura por uma vaga. Para o banco, a taxa de desemprego, hoje em 13,7%, chegará a 14% antes de começar a cair. Para se ter uma ideia do desastre, a grande recessão nos EUA entre 2007 e 2009 teve um pico de desemprego de 10%.

Mesmo se a economia surpreender de forma positiva, com uma retomada um pouco mais vigorosa do que os números sugerem, o desemprego só voltará para um dígito em dois ou três anos. Isso porque, como explica o relatório do Itaú, o primeiro momento de uma retomada é de crescimento da produtividade, de se fazer mais com o mesmo número de pessoas. Só depois de a produtividade ser normalizada as empresas passam a contratar mais.

Esse será, no fim, um componente importante nas eleições de 2018. A economia poderá estar crescendo em um ritmo de 4% ao ano, inflação sob controle e juros no menor nível da história. Mas com desemprego de dois dígitos. A estabilidade poderá angariar um capital político ao governo insuficiente para compensar tantos anos de renda estagnada e desemprego alto.

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