O que era para ser “greve geral” virou “dia de paralisação nacional”. Declarações de centrais sindicais indicam que a mobilização marcada para a próxima sexta-feira (30) não chegará perto da realizada em 28 de abril – quando, pelas contas dos organizadores, 40 milhões de pessoas deixaram de trabalhar.
A nota conjunta assinada por nove centrais na sexta-feira (23), após uma reunião para debater o “calendário de luta”, fala em “parar o Brasil”. Mas não usa a expressão greve geral.
Centrais recomendam que, na medida de suas possibilidades, os trabalhadores cruzem os braços por meia hora, uma hora ou até o dia todo, em seus locais de trabalho e regiões com aglomerações de fábricas, por exemplo. Ou seja, sem necessariamente se reunir em grandes atos nas regiões centrais das principais cidades.
Há pelo menos três razões para a expectativa de uma adesão mais baixa em 30 de junho, com manifestações difusas e paralisações pontuais. A primeira é que categorias importantes, como os motoristas de ônibus e ferroviários de São Paulo, já avisaram que não vão aderir.
Embora os metroviários paulistanos prometam parar o dia todo, a tendência é de que a população da maior cidade do país – e também de outras capitais onde o transporte coletivo vai parar apenas parcialmente, como Curitiba – tenha menos dificuldade em comparecer ao trabalho que no dia 28 de abril.
A segunda razão é que a reforma da Previdência, a mais temida pelos trabalhadores, parece ter ido para a geladeira e não representa um risco iminente. A terceira razão, não menos importante, é que as centrais sindicais estão divididas sobre o enfrentamento ao governo Temer.
Racha nas centrais
A CUT, que é historicamente ligada ao PT e se recusa a dialogar com o Planalto, assinou a nota conjunta das centrais, mas em seus comunicados individuais mantém o discurso de greve geral. A central divulgou nesta segunda-feira (26) resoluções em que convoca as bases “para mais uma demonstração de força da classe trabalhadora contra a reforma trabalhista proposta pelo governo ilegítimo e golpista de Michel Temer”.
Mas, mesmo sendo a maior central do país, com 30,4% dos trabalhadores sindicalizados, a CUT não conseguirá sozinha fazer uma greve geral. Organizações como a UGT e a Força Sindical – respectivamente a segunda e a terceira maiores centrais, com 11,3% e 10% dos sindicalizados – não cultivam a ambição de igualar ou superar o 28 de abril.
“Na greve geral de abril, a Justiça acabou impondo multas pesadas a algumas categorias, como os motoristas de São Paulo. A própria categoria ficou com medo de repetir e levar mais uma multa. O que as centrais resolveram? Fazer paralisações pontuais”, explica Paulo Rossi, presidente da seção paranaense da UGT.
A ideia, segundo o sindicalista, é mostrar para os trabalhadores o que eles vão perder com a reforma trabalhista e previdenciária e “cobrar uma posição política muito clara dos parlamentares” com ações nos aeroportos e em Brasília.
A Força Sindical, cuja direção nacional apoiou abertamente o impeachment de Dilma Rousseff e a posse de Temer, considera importante manifestar a contrariedade com as reformas. Mas avalia que greve geral é um trunfo a ser guardado para momento mais propício.
“A gente pressiona, faz mobilização, para negociar alguma coisa. A gente não faz greve por fazer. E a gente negocia com todo mundo, não interessa se o governo que está aí é o Michel Temer, o Lula, a Dilma. Temos que negociar com quem está no poder e no comando”, diz João Carlos Gonçalves, o “Juruna”, secretário-geral da Força Sindical.
A Força tem conversado com o governo e espera que uma medida provisória (MP) de Temer volte a permitir a cobrança de contribuição assistencial de não sindicalizados, que foi proibida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Há rumores de que o governo possa garantir, também via MP, a continuidade do imposto sindical obrigatório, principal fonte de financiamento de boa parte dos sindicatos, que será eliminado caso a reforma trabalhista seja aprovada. Mas, segundo Juruna, a central trabalha para eliminar esse item da reforma, sem depender de uma MP posterior.
“Entre hoje (27) e amanhã (28) vamos ao Senado conversar com o presidente da Casa, com os senadores, fazer um corpo a corpo. Para tentar convencê-los a modificar a reforma”, explica.
Ao contrário da Força e da maioria das centrais, a CUT é favorável à extinção do imposto sindical. Por isso, uma eventual concessão do Planalto nesse aspecto não deve sensibilizar a entidade.
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