O horário de verão acaba na virada deste sábado (16) para domingo (17), quando os relógios deverão ser atrasados em uma hora em dez estados – Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Assunto que divide tantas paixões quanto o futebol, o horário de verão está na corda bamba há pelo menos dois anos.
Antes, aproveitar dias de sol mais longos representava uma bela economia de energia elétrica, o que justificava sua adoção. Mas esse apelo econômico já não é mais o mesmo e é o governo de Jair Bolsonaro (PSL) que vai decidir se essa foi a última edição do horário de verão ou se ele volta em outubro de 2019 – aí sim uma decisão política e mais ligada a aspectos culturais.
Em 2017, houve uma grande discussão sobre manter ou extinguir o horário de verão. Na ocasião, a Presidência da República recebeu um documento que mostrava que o horário de verão “deixou de se justificar pelo setor elétrico”, mas ressaltando que a manutenção do modelo ainda exige uma avaliação mais ampla. Na gestão de Michel Temer (MDB), a decisão foi por manter o horário para o ciclo 2017/2018. Já este ciclo que se encerra no próximo sábado, o 2018/2019, foi encurtado a pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que solicitou alteração na data de início do horário de verão.
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Por determinação legal, o horário de verão sempre começa no terceiro final de semana de outubro e é encerrado no terceiro final de semana de fevereiro – mas são permitidas alterações. No ano passado, o TSE entendeu que a alteração do horário prejudicaria a apuração do resultado para a eleição presidencial, caso houvesse segundo turno, e solicitou que a mudança no horário fosse feita só em novembro.
O governo acatou, e quase mudou a data novamente para não coincidir com a aplicação do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio – nesse caso, primeiro houve uma sinalização pela mudança na data de início, mas o governo acabou recuando e mantendo o plano original.
Para este ano, cabe à nova equipe do Ministério de Minas e Energia, sob o comando de Bento Albuquerque, avaliar o cenário e decidir se vai manter o horário de verão ou acabar com ele.
Mudanças no padrão de consumo mudam efetividade
O padrão de consumo de energia elétrica dos brasileiros vem mudando ao longo dos anos. Antes, a adoção do horário de verão evitava uma sobrecarga no sistema no fim da tarde – as pessoas passavam mais tempo fora de casa e os setores produtivos (comércio e indústria) encerravam o expediente ou diminuíam o volume de produção. Com o tempo, o pico de consumo mudou de horário e é no meio da tarde em que os brasileiros “gastam” mais luz – o ar-condicionado é apontado como um dos fatores para esse boom de consumo.
Dados do Ministério de Minas e Energia e do Operador Nacional do Sistema (ONS) mostram que, embora haja um alívio aos cofres da União pela adoção do horário de verão, essa economia vem diminuindo. Em 2013, por exemplo, foram poupados R$ 405 milhões – o equivalente a 2.565 megawatts. A partir daí, a economia só diminuiu: no ano passado, esse número caiu para cerca de R$ 140 milhões.
No Boletim Energético de outubro de 2018, da FGV Energia, os pesquisadores Gláucia Fernandes, Guilherme Pereira e Vanderlei Martins, mostraram que de 2000 para 2018 a folga obtida com a não sobreposição do consumo residencial e de iluminação com o consumo industrial e comercial passou a não ser significativa. Eles explicam que em 2000, “este descasamento das cargas, acabava por reduzir o horário de ponta, tornando a operação do sistema mais segura e barata e com menos riscos de apagões”.
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Mas a situação mudou. O avanço tecnológico permitiu a adoção de produtos que economizam mais energia -- um exemplo é a troca das lâmpadas incandescentes por modelos mais eficientes. A o horário de pico migrou do fim para o meio da tarde.
“A partir desses fatos, as autoridades do governo brasileiro e alguns agentes do setor elétrico questionam a manutenção e a necessidade do horário de verão, para melhoria da operação do sistema elétrico. Apesar do ONS indicar que há benefícios no armazenamento dos reservatórios, a economia de energia reduz a cada ano”, aponta o artigo.
Não há um consenso sobre custos e benefícios do horário de verão no Brasil, e outros países que adotam o modelo também estão reavaliando a política. Um exemplo é a União Europeia, que fez consulta pública sobre o tema em 2018, para discutir vantagens e desvantagens.
Os pesquisadores ainda fazem uma ressalva, de um aspecto que pode ser investigado: haveria algum benefício trazido pelo horário de verão para a geração de energia solar? “Durante os meses do horário de verão, como há disponibilidade solar até por volta das 19h, parte da geração solar coincide com um período de carga elevada, o que pode ser atraente para parques solares e consumidores da Microgeração e Mini-geração Distribuída (MMGD). Contudo, deve-se ressaltar que as placas solares perdem eficiência em temperaturas elevadas. Logo, torna-se necessário realizar estudos para entender se há benefícios reais para a geração fotovoltaica durante o horário de verão”, ponderam.
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