Integrantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) fizeram uma megainvasão em um terreno particular no bairro Assunção, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. São cerca 6,5 mil famílias no local, distribuídas em barracos feitos com ripas de madeira e plástico.
Segundo o líder do movimento, Guilherme Boulos, essa é a maior ocupação realizada pelo MTST nos últimos anos. O número de famílias supera as 3,5 mil que estavam na ocupação Copa do Povo, em Itaquera (zona leste de São Paulo), meses antes do Mundial.
As primeiras 500 famílias, muitas com desempregados, chegaram no dia 2 de setembro. Segundo Boulos, o MTST decidiu ocupar a área após fazer um levantamento nas favelas de São Bernardo que indicou falta de moradia na região do ABC. “O trabalho demonstrou que o problema [de moradia] era crítico, como o crescimento da ocupação demonstrou. Ninguém veio aqui por escolha.”
Segundo Boulos, o movimento decidiu ocupar o terreno porque ele estava vazio havia mais de 30 anos. O local é organizado por setores e tem uma cozinha comunitária. A área fica na rua João Augusto de Sousa e pertence à construtora MZM, que no dia 6 conseguiu na Justiça a reintegração de posse.
Em nota, a empresa não disse o que pretende fazer no terreno. Afirmou apenas que já tomou as providências cabíveis, “está resguardada pela Justiça e aguarda que a reintegração seja cumprida pelas autoridades”. A decisão ainda não foi cumprida.
Na tarde desta quarta (13), parte dos sem-teto fez uma passeata do local da ocupação até a Prefeitura de São Bernardo do Campo para discutir uma alternativa com o prefeito Orlando Morando (PSDB).
Boulos disse que o movimento não vai deixar a área enquanto não conseguir uma “solução pacífica que contemple o direito de moradia das famílias”. “Temos que tratar a questão com política pública. Moradia não é caso de polícia”, afirmou Boulos.
Prefeitura
A Prefeitura de São Bernardo do Campo disse que recebeu uma comissão de integrantes do MTST na tarde de quarta (13). Na ocasião, apresentou a política habitacional da gestão Morando, que desde janeiro obedece ao número de 1.980 famílias cadastradas que recebem bolsa aluguel.
Não disse, no entanto, se vai atender às reivindicações dos sem-teto.
Em nota, a prefeitura diz que não concorda com o “modelo de invasão por moradia” e ressalta que muitas das pessoas no terreno não moram em São Bernardo.
Sobre a reintegração de posse, a prefeitura diz que aguarda as providências por parte da Polícia Militar. Já a PM disse que ainda não foi informada da data da reintegração, o que é definido pela Justiça.
Desemprego
Ocupar o terreno em São Bernardo do Campo foi a alternativa das famílias para conseguir a casa própria.
O serralheiro desempregado Hélcio Bonfim, 47, está na ocupação desde terça (12). Casado e pai de três filhos, ele disse que não tem mais condições de pagar R$ 600 de aluguel de uma casa em Diadema (ABC).
Bomfim e a vizinha, a ajudante de cozinha desempregada Patrícia dos Santos Silva, 37, disseram que esta foi a primeira vez que participam de uma ocupação. “Soubemos por amigos e decidimos participar. Em vez de ficar em casa, decidimos reivindicar a nossa casa”, disse Patrícia.
O ajudante de cozinha desempregado Fernando José da Silva, 31, e a mulher, a dona de casa Jaciara do Carmo Souza, 27, chegaram no primeiro dia com o filho Davi, de 1 ano e 10 meses. Eles moram em São Bernardo e disseram que não têm mais condições de pagar R$ 500 de aluguel. “Esperamos vencer essa batalha”, afirmou Silva.
Vendedores ambulantes aproveitaram a movimentação na ocupação para ganhar um dinheiro extra. Em uma das principais entradas do terreno invadido há dezenas de camelôs vendendo refrigerantes, água, sorvete e churrasquinho na brasa.
A autônoma Rosa Rodrigues da Silva, 61, decidiu fazer da garagem da casa dela, na rua João Augusto de Sousa, que dá acesso à área invadida, uma lojinha de doces e salgados.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião