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 | Marcelo Elias/Arquivo/Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Elias/Arquivo/Gazeta do Povo

Quando chegou a São Paulo para prestar vestibular, na década de 1960, Rodrigo Rocha Loures, pai e homônimo do filho deputado preso em Brasília, não conseguia dormir por causa do barulho. “Aquele barulho de trem, de bonde”, contou, numa palestra a estudantes.

Nascido em Curitiba, de tradicional família paranaense, seu destino era cuidar das fazendas dos Rocha Loures no Norte do Paraná – pelo menos assim queria o pai.

Em vez disso, o jovem que sonhava em ser empreendedor cursou Administração e foi um dos fundadores da Nutrimental, empresa paranaense de alimentação com faturamento de R$ 300 milhões, pioneira em barrinhas de cereal no Brasil.

O filho, atualmente detido no presídio da Papuda sob suspeita de receber propina da JBS, integrou um importante capítulo da história da empresa, que hoje vive um período de vacas magras – mas não por causa da prisão de Rodriguinho, afastado da diretoria desde 2002.

Ele foi o responsável, como gerente de marketing e novos mercados, por encampar a ideia da barrinha nos anos 1990, que virou o carro-chefe da empresa.

“É o Zé Alencarzinho do Paraná”, cunhou o ex-presidente Lula sobre o então candidato a vice-governador do Paraná, na chapa de Osmar Dias (PDT), que perdeu a eleição. A comparação com o vice-presidente, o industrial José Alencar, parecia apropriada.

À época, a Nutrimental registrava recordes de faturamento. Fundada em 1968, ela foi uma das principais fornecedoras de merenda escolar no país. “Nós inventamos uma sopinha bem brasileira”, costuma dizer Rocha Loures, o pai, sobre o processamento de pó de feijão, cebola, alho e macarrão. A mistura, feita com tecnologia inédita, foi vendida em todo o Brasil por pouco mais de 20 anos.

Em 1991, suspeitas de superfaturamento suspenderam os contratos da empresa e de outras concorrentes com o governo federal. O Tribunal de Contas da União (TCU) relatou sobrepreço, pagamentos antecipados e aditivos em excesso. O governo deixou de pagar o que devia, e a maioria das empresas quebrou.

“Pé de moleque gringo”

A barrinha foi a salvação da Nutrimental, inspirada em um “pé de moleque gringo”. Quem levou a sugestão foi a antropóloga Mary Allegretti, que trabalhava com comunidades amazônicas e experimentou barrinhas de castanhas brasileiras nos EUA. Ela queria desenvolver produto semelhante numa empresa nacional, usando castanhas amazônicas e revertendo parte da renda aos produtores.

Mary não conhecia Rodriguinho. “Bati na porta e quem me atendeu foi o próprio”, conta à reportagem. Recém-formado em Administração, ele tinha 24 anos. Foi “muito receptivo” à ideia, diz a antropóloga, e chegou a viajar ao Acre e Amapá para conhecer a produção de castanhas. “A equação era: a menor quantidade de castanha ao maior valor agregado possível”, contou o deputado, numa entrevista concedida em 2009. A ideia era preservar a floresta, sem extrair matéria-prima excessivamente.

A Nutrimental tinha tecnologia para isso: poucos anos antes, havia desenvolvido alimentação desidratada para o navegador Amyr Klink, que atravessou o Atlântico.

Ao longo dos últimos 20 anos, a empresa se profissionalizou. Proibiu a ocupação de cargos executivos pelos sócios ou seus herdeiros, como forma de proteger a companhia, e instituiu um sistema de gestão horizontal, em que os funcionários participam das decisões. Pai e filho se afastaram da direção.

Demonstrando inclinação à política, o patriarca foi presidente da Federação das Indústrias do Paraná por oito anos e concorreu à prefeitura de São José dos Pinhais, sede da Nutrimental, em 2012. Ficou em segundo lugar.

“A empresa que só pensa no lucro é pobre. Não tem grandeza. A causa é que move as pessoas”, afirmou, em entrevista recente, Rocha Loures pai, que é considerado uma referência em sustentabilidade e inovação. Hoje, se dedica à defesa do filho.

Com a crise, a Nutrimental reduziu os investimentos a quase zero e cortou funcionários. O prejuízo nos últimos anos é de R$ 31 milhões. Ainda é, porém, líder no mercado de barrinhas. Em 2016, parou de fornecer à administração pública brasileira – mercado que “não tem mais importância econômica para os negócios da empresa”, segundo a diretoria.

Na sua última campanha para deputado, em 2014, Rodriguinho esteve na Nutrimental. Circulou pela fábrica e distribuiu santinhos aos funcionários. Não se reelegeu.

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