| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

A Infraero passou por um choque de gestão nos últimos três anos, que foram do corte de mordomias para diretores até a redução de mais de 6 mil servidores. Com o objetivo de tornar a empresa sustentável e pronta para uma abertura de capital, as medidas conseguiram uma economia com folha de pagamentos de mais de R$ 800 milhões. As profundas mudanças atingiram até o plano de saúde dos funcionários, agora com contrapartida, que resultou em mais R$ 60 milhões de economia ao ano. 

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O próximo passo no corte de gastos e no conjunto de medidas “moralizadoras” é reduzir mais 1,2 mil postos de trabalho para deixar o quadro de funcionários da empresa aeroportuária em 6 mil servidores, afirmou o presidente da Infraero, Antonio Claret, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo. Claret já sabe como conseguirá mais essa redução: passando a gestão do espaço aéreo, feita através das torres de comando, para a Aeronáutica, que hoje divide a atividade com a Infraero. 

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Claret é um executivo com atuação de 33 anos em empresas privadas que chegou na estatal no pós-impeachment, fazendo mudanças que foram desde cortes no cafezinho e na quantidade de garçons, copeiras e motoristas para a diretoria até o enxugamento de 216 funções de comando, como diretores (foram reduzidas três diretorias), superintendentes e gerentes. 

“Começamos balançando a empresa para ver o que caia de podre”, diz Claret. “A podridão era feita também de pequenas coisas. As pessoas me perguntavam de que adianta cortar o cafezinho. Mas nós cortamos várias coisas. Tínhamos 15 garçons para atender a diretoria, 36 copeiras, cada diretor tinha um carro com dois motoristas. Essas coisas que a gente foi cortando uma por uma, não foram fáceis. Eu tenho na mão a caneta mais pesada, mas vou te dizer que não é fácil. São diretorias fortes, muito bem sustentadas. Reduzimos todas essas coisas que as pessoas chamam de ‘peanuts’, mas faz parte do moral eliminar carros, cafezinho, ter controle de despesas de viagens e controle de assiduidade”, afirmou o presidente. 

Ele também “apertou o cerco” sobre as faltas. Com um quadro formato majoritariamente por empregados da carreira pública de aeroportuário, o absenteísmo da Infraero custava R$ 70 milhões ao ano. Fazer gestão de pessoas em um ambiente com forte lobby do funcionalismo mostrou-se tarefa complicada: um acordo firmado com os servidores em 2011, na gestão do PT, proíbe a empresa de demitir mais de sete funcionários por ano. Tal acordo está vigente até 2020. 

Cortes refletiram no resultado operacional 

Os cortes na folha de pessoal e em gastos ajudaram a reverter o resultado operacional negativo encontrado pela atual gestão em 2016, com uma virada de quase R$ 1 bilhão. Em 2015, a operação da Infraero não conseguia se bancar e registrava saldo negativo de R$ 230 milhões. No ano seguinte, na atual gestão, já com o corte de pessoal e gastos em andamento, o saldo negativo foi reduzido para R$ 126 milhões, e em 2017 a empresa obteve saldo operacional positivo, de R$ 505 milhões. 

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Mesmo assim, fruto do modelo da concessão dos primeiros aeroportos que pertenciam exclusivamente à Infraero e passaram a ser 49% da estatal e 51% de sócios privados, a empresa ainda tem um resultado geral de balanço negativo em R$ 3,9 bilhões em 2017, carregando investimentos que a Infraero teve de fazer para acompanhar os sócios privados. Nessas primeiras operações, também foi falha a modelagem do que seria feito com o excedente de pessoal, já que não havia reserva financeira para realização de planos de demissão voluntária. 

“Assumi essa empresa com um resultado de balanço de R$ 10 bilhões acumulado negativo. Mas esse investimento feito nos cinco aeroportos nunca trouxe resultado para nós”, disse Claret, comentando as concessões feitas durante o governo Dilma Rousseff, que colocam sócios privados para a Infraero na gestão dos aeroportos Galeão (RJ), Confins (MG), Guarulhos e Viracopos (SP) e Juscelino Kubistchek (DF). 

Abertura de capital de R$ 13 bilhões deve ficar para próximo governo

Antônio Claret de Oliveira é presidente da Infraero 

A empresa está pronta para uma abertura de capital, na visão de Claret, que poderia se dar na Bolsa de Valores com emissão de ações, ou em uma fusão com outra empresa do ramo. Com as melhorias de gestão, a empresa alcançou o melhor nível no índice do governo federal de gestão das estatais (IG-SEST). 

Claret admite que não há mais tempo para fazer a abertura de capital este ano, que pode render até R$ 13 bilhões no total e levantar ao menos R$ 8 bilhões para investimentos nos 45 aeroportos Infraero. Mesmo alguns leilões de aeroportos que estão previstos para dezembro não devem mais caber na agenda de 2018, admite. Ainda assim, quer deixar a casa arrumada para desestimular decisões políticas que mudem o rumo da atual gestão após 2019.  

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“Pretendo deixar uma empresa de uma forma tão estruturada que você tenha que, pelo menos, pensar duas ou três vezes antes de mexer na estrutura. O ideal era deixar o capital aberto, aí eu poderia dormir tranquilo”, afirmou o executivo. “Sou esperançoso, acredito no meu país e acredito que esse resultado vai influenciar pessoas, até mesmo o próximo presidente do país. Claro, existe questão política, mas em todo lugar tem gente boa e gente ruim. No governo A, B ou C, se tiver gente com inteligência, vai ver que é uma oportunidade violenta de fazer um bom negócio.” 

Ainda está em estudo qual seria o modelo ideal da abertura de capital, mas a União continuaria sócia majoritária no negócio. “Vamos estudar o que é melhor para empresa. Eu entendo que o que é melhor para a empresa é melhor para o governo e para o cidadão”, disse. Segundo o executivo, diversas empresas internacionais do setor aeroportuário, como a espanhola AENA, procuraram a Infraero interessadas em investir ou se associar.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]