A intervenção federal no Rio de Janeiro acaba oficialmente na próxima segunda (31), mas uma solenidade na sede do Comando Militar do Leste, nesta quinta (27), marcou de forma simbólica o fim da operação. O interventor, general Walter Braga Netto, fez um balanço positivo da operação: "Após dez meses de trabalho, [a intervenção] atingiu todos os objetivos propostos, de maneira a recuperar a capacidade operativa dos órgãos de segurança pública e baixar os índices de criminalidade. Temos a convicção de que trilhamos um caminho difícil e incerto, mas cumprimos a missão", afirmou.
Um levantamento feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) mostrou que parte da missão realmente foi cumprida, houve redução nas mortes violentas e em oito dos 12 tipos de roubos monitorados pelo instituto. Somente no mês de novembro deste ano, os roubos de carga diminuíram 23%, comparado com o mesmo mês no ano anterior. Durante 2017, foram registradas 10.599 ocorrências desse tipo de crime. No comparativo entre os meses de março a novembro, a diminuição dos roubos de cargas foi de 19%, em relação ao mesmo período do ano passado.
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Outras modalidades também diminuíram, como o roubo de veículos, que em novembro teve uma queda de 3% em comparação com o mesmo período do ano anterior. No acumulado de março a novembro, os roubos de carros, caíram 7%; e os roubos a pedestres, diminuíram cerca de 6%.
Menos homicídios, maior letalidade da força policial
Crimes de “letalidade violenta” também apresentaram queda. De acordo com o ISP, em novembro, o número de mortes por homicídio doloso, latrocínio e lesão corporal seguida de morte diminuiu 13% em relação a novembro passado. Nesse mesmo período de comparação, os casos de latrocínio – roubo seguido de morte – foram 37,5% menores, e os de homicídios dolosos, ou seja, quando há intenção de matar, diminuíram em 18%. Mesmo com a queda, o número de homicídios dolosos em novembro, chegou a 374.
Entretanto, as mortes causadas por intervenção de agentes do estado aumentaram. De janeiro a novembro, foram 1.444 mortes causadas pelas forças policiais, chegando em quase 40% a mais na comparação ao mesmo período do ano passado. Cerca de quatro pessoas foram mortas por dia no mês de novembro por agentes de segurança, num total de 134 casos registrados.
Investimento
O Governo Federal investiu R$ 1,2 bilhões na operação, 74% desse valor – R$ 890 milhões – já foram empenhados pelo Gabinete de Intervenção Federal (GIF). O general Laelio Soares de Andrade, secretário de administração do GIF, garantiu, em entrevista ao "RJTV", da TV Globo, que o montante empenhado chegará a 90% do orçamento porque grandes licitações estão chegando ao fim.
O dinheiro deve ser usado para a compra de coletes a prova de balas para a Polícia Civil, "alguns veículos", três helicópteros e pistolas "para todos os órgãos". A intenção é empenhar 90% do valor até o final desta semana.
Continuidade
A intervenção teve início em 16 de fevereiro de 2018, as Forças Armadas já tinham atuado em outras operações recentes no estado para reforçar a segurança. O desafio era conter a escalada de violência e a falta de recursos que aprofundava a crise. Nos últimos 10 meses, os militares concentraram a chefia das forças armadas do estado, das polícias, bombeiros e do sistema prisional, apesar de não poderem exercer o papel da polícia, por exemplo, realizando prisões.
O interventor Braga Netto defendeu, durante a cerimônia que marcou o encerramento da intervenção, a importância da continuidade da integração das forças. “Os desafios da segurança pública só serão vencidos se enfrentados de forma integrada, onde cada organização oferece as suas melhores capacidades para atingirmos o bem comum”, ressaltou. Também estiveram presentes, o governador em exercício, Francisco Dornelles (PP), do ministro da Justiça, Torquato Jardim, e o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas.
Durante a cerimônia, o ministro da Justiça apresentou uma mensagem de áudio gravada do presidente Michel Temer (MDB) elogiando o “brilhante trabalho” realizado pela intervenção. Sem detalhar os números, Temer destacou a queda em indicadores de criminalidade e o apoio da população. “Não foi sem razão que a população do Rio de Janeiro em todas as pesquisas revelava o aplauso à intervenção”, afirmou Temer, acrescentado que decretou a intervenção, em fevereiro deste ano, após negociação com o governo estadual.