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| Foto: Apu Gomes/AFP

O domingo (24) não foi de trégua na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), onde desde a última sexta-feira (22) as Forças Armadas realizam operação para combater os traficantes de drogas. Além da operação propriamente dita, o dia também foi marcado pelo pronunciamento de autoridades.

O governador do estado, Luiz Fernando Pezão, disse desconhecer informações sobre invasões de residência de moradores da Rocinha. Nas redes sociais, no entanto, foram compartilhadas fotos de portas arrombadas, casas reviradas e relatos de agressões gratuitas, verbais e físicas, além de roubo de pertences pessoais, como celulares e pares de tênis. As ações são atribuídas a agentes de segurança.

Entenda a guerra de facções na Rocinha

“Eu não tenho informação sobre isso. Estou em contato permanente com muitos moradores que conheço da Rocinha. A PM, com o Batalhão de Choque, o Batalhão de Operações Especiais, o Batalhão de Cães, fica o tempo que for necessário para continuarmos com as apreensões de drogas e fuzis e levar paz àquela comunidade. Ainda tem muita informação que chega ao setor de inteligência”, declarou.

O político participou do lançamento, no Rock in Rio, do calendário de eventos “Rio de Janeiro a Janeiro”, que tem como objetivo turbinar o turismo no estado e principalmente na capital, gerar emprego e renda e dar mais chances aos jovens de comunidades pobres. Seu sucesso pressupõe uma solução para a área de segurança, que viveu relativa melhora entre 2008 e 2012, com o sucesso inicial do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e se mostra dramática nos últimos dois anos.

Quem também esteve no Rock in Rio e falou sobre a operação foi Marcelo Crivella (PRB). O prefeito do Rio disse que a cidade precisa de segurança no mesmo nível da Olimpíada para dar tranquilidade aos turistas que vão à cidade.

Carl de Souza/AFP

“Precisamos de uma Olimpíada todo ano. Na Olimpíada tivemos absoluta tranquilidade. Agora, os eventos terão a mesma estrutura. A segurança da cidade depende de eventos como a Olimpíada, por isso chamei os principais organizadores de evento da cidade, fizemos um calendário e levamos a Brasília. Para dar certo, precisamos de segurança”, afirmou, referindo-se a nomes como Roberto Medina, presidente do festival.

Ainda sobre a Rocinha, Pezão negou que tenha demorado a pedir auxílio ao governo federal para conter a situação. A guerra de traficantes estourou no domingo passado (17), a despeito da presença de uma UPP na favela. Um bando rival atacou o que vinha dominando a venda de drogas e explorando moradores com taxações de serviços como o fornecimento de botijão de gás e de galões de água. Houve tiroteios intermitentes ao longo da semana, o que deixou a população do morro apavorada e presa em casa, sem poder se deslocar para o trabalho.

O governador disse que o Exército auxilia no controle da entrada de bandidos pela parte baixa da Rocinha, liberando a polícia para se manter dentro da favela.

“Precisamos de uma Olimpíada todo ano. Na Olimpíada tivemos absoluta tranquilidade” (Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro)

“Não é de uma hora para a outra que eles [Forças Armadas] entram. Excepcionalmente entraram na sexta-feira (22), quando tivemos um recrudescimento [da violência]. Pedimos às 9h30 e às 15h30 já estavam disponibilizados quase mil homens e tanques. A gente está fazendo isso com muita integração e trabalho e cada vez vamos fazer com mais aprimoramento. Ontem à noite o presidente Michel Temer reiterava que vai permanecer com as forças militares aqui no Rio até o fim de 2018”, afirmou o governador.

Integração sem prazo para acabar

Também no Rock in Rio para lançar o “Rio de Janeiro a Janeiro”, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Moreira Franco, afirmou que a integração entre os governos federal e estadual para controlar a violência na cidade não tem prazo para acabar, nem deve durar apenas “um governo”.

“Terá o prazo necessário para diminuir a arrogância e a prepotência do crime organizado. A situação é terrível, constrangedora, inquietante”, reconheceu.

O calendário de eventos anunciado durante o festival de música começa no Réveillon de Copacabana e se estende até dezembro de 2018. São cerca de 100 eventos, nas áreas de cultura, esporte, moda, gastronomia, entre outras. Os proponentes receberão chancela e recursos federais, num total de R$ 150 milhões. A meta é elevar o volume de turistas no Rio em 20%, o que geraria 170 mil empregos e movimentação de R$ 6,1 bilhões, segundo estimativa da Fundação Getúlio Vargas.

Há eventos já bastante tradicionais, como o desfile das escolas de samba no carnaval e o festival de animação Anima Mundi, e outros novos, como a Corrida de Drones e o Rio Piro Festival, de fogos de artifício.

No lançamento, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Sérgio Etchegoyen, afirmou: “Tem solução para o Rio, e começa aqui. Nosso trabalho muitas vezes é silente e invisível. Não haverá nenhum passo atrás”.

Suspeito preso

O domingo ainda foi marcado pela prisão de Emanuel Bezerra de Araújo, 19 anos, conhecido como Maicon ou Playboy. Ele foi preso em casa, no alto da favela da Rocinha, após uma denúncia. Bezerra é integrante do grupo de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157.

O suspeito possui dois mandados de prisão, sendo o mais recente deles de 20 de setembro, já em meio à operação na Rocinha. Araújo também apresenta um ferimento à bala na mão direita, recente. Aos policiais, afirmou ter sido punido por Rogério 157, mas não revelou o motivo.

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Os PMs chegaram ao paradeiro de Araújo após receberem um bilhete de uma mulher na sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha. O papel tinha informações completas sobre o suspeito, incluindo endereço e nome da mãe. Os policiais o prenderam em casa e não houve resistência. Uma réplica de pistola foi encontrada com ele.

Enquanto se preparavam para encaminhar Emanuel Araújo para a 11ª DP, os PMs se depararam com um menor de idade bastante machucado na rua. Ele não revelou o motivo dos ferimentos, mas os PMs suspeitam que ele tenha vindo da mata próxima à Rocinha. O menor declarou já ter sido apreendido no passado e foi encaminhado à DP para averiguação.

No sábado (23) outras cinco pessoas já tinham sido presas, entre elas o traficante Luiz Alberto Santos de Moura, o Bob do Caju, apontado como um dos comandantes da invasão de criminosos na Rocinha, no domingo passado.

Apreensão de armas e drogas

Além de prisões, apreensão de armas de drogas marcaram o fim de semana na Rocinha. Na manhã deste domingo (24), soldados do Exército apreenderam 100 frascos de lança-perfume e outros 31 de gás - semelhante ao utilizado em isqueiros - na parte alta da favela. O material foi encaminhado à 11ª DP. Os frascos estavam depositados no interior de um freezer abandonado na Rua 2. Um machadinho e uma caderneta também foram recolhidos. Não foram encontradas outras armas ou drogas.

“Terá o prazo necessário para diminuir a arrogância e a prepotência do crime organizado. A situação é terrível, constrangedora, inquietante” (Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República)

Na madrugada de sábado (23), as operações integradas resultaram na apreensão de 16 fuzis, forte armamento, carregadores, munição, equipamentos de rádio transmissores, dinheiro e drogas. As informações são da Agência Brasil.

De acordo com a Polícia Civil, entre os fuzis, 10 foram apreendidos na comunidade do Caju, na região portuária do Rio, após informações recebidas pela DRF (Delegacia de Roubos e Furtos). Outros cinco fuzis foram apreendidos em uma ação de agentes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e um em uma Operação do Exército na Rocinha.

Ainda na madrugada o motorista de táxi Marcelo Paz foi abordado por quatro criminosos armados que o obrigaram a subir a Rocinha. Em um dos acessos à comunidade foram interceptados por uma equipe do Bope e após confronto conseguiram escapar, mas além dos cinco fuzis, deixaram para trás carregadores de diversos tipos de armas, sete granadas e drogas.

Guerra de facções

A Rocinha enfrenta guerra entre facções pelo controle do tráfico desde domingo (17). A guerra pelo controle da Rocinha envolve os traficantes Antônio Bonfim Lopes, o Nem, preso em 2010, e seu sucessor no comando, Rogério Avelino, o Rogério 157.

Nem estaria insatisfeito com a atuação de Rogério, que passou a cobrar os moradores por serviços como água e mototáxi. Determinou a invasão de dentro de presídio federal em Rondônia, com apoio de criminosos da facção ADA (Amigo dos Amigos), a segunda maior do Rio. Rogério foi reforçado por bandidos do CV (Comando Vermelho).

Na quinta (21), Pezão e o ministro Raul Jungmann haviam divulgado um acerto para retomar a ação das Forças Armadas, após divergências sobre que papel as tropas teriam.

A polícia indiciou 11 suspeitos de participar da invasão de domingo. Na última sexta-feira (22), um homem se entregou à Polícia Federal e foi levado para depor — Edson Antônio Fraga, o Dançarino, era alvo de três mandados de prisão. A atuação do Estado foi criticada pela Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) e pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

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