O presidente Michel Temer (PMDB) usou o seu segundo pronunciamento público depois da delação da JBS para um contra-ataque. Se na quinta-feira a tônica foi a de que o presidente não renunciaria, na tarde de sábado disse que a fita da delação em que ele conversa com Joesley Batista foi editada, o que anularia a validade das denúncias contra ele. "Li hoje notícia no jornal Folha de S.Paulo de que perícia constatou que houve edição no áudio de minha conversa com o sr. Joesley Batista. Essa gravação clandestina foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos.", disse Temer. Abaixo, assista à integra do pronunciamento e os comentários da equipe de Brasília da Gazeta do Povo:
Pronunciamento do Presidente da República, Michel Temer (Ao vivo, de BrasÃlia)
Publicado por Gazeta do Povo em Sábado, 20 de maio de 2017
Investigação
Temer disse que vai pedir a suspensão da investigação contra ele. "Incluída no inquérito sem a devida e adequada averiguação levou muitas pessoas ao engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil. Por isso, no dia de hoje estamos entrando com petição no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender o inquérito proposto até que seja verificada em definitivo a autenticidade da gravação clandestina."
“Crime perfeito”
O presidente afirmou que Joesley cometeu "o crime perfeito". "O autor do grampo está livre e solto passeando pelas ruas de Nova York. O Brasil que já tinha saído de sua mais grave crise econômica, vive agora dias de incerteza. Ele não passou um dia na cadeia, não foi preso, não foi punido. Pelo jeito não será. Cometeu o crime perfeito." Temer acusou ainda Joesley de especular contra o real. "Graças a essa gravação fraudulenta, especulou contra a moeda nacional. A notícia foi vazada e antes de entregar a gravação comprou um bilhão de dólares porque sabia que isso provocaria o caos no câmbio."
"Por outro lado, sabendo que a gravação também reduziria o valor das ações de sua empresa, vendeu-as. A JBS lucrou milhões de dólares em menos de 24 horas. Este senhor nos dois últimos governos teve empréstimos bilionários no BNDES. Prejudicou o Brasil, os brasileiros e agora mora nos Estados Unidos", disse.
Incoerências
Temer acusou a delação de incoerência. "O que ele fala em seu depoimento não está no áudio. E o que está no áudio demonstra que ele estava insatisfeito com o meu governo". E disse que isso é uma operação para derrubá-lo para que ele não saneie o BNDES e outros órgãos do governo. "Há quem queira me tirar do governo para fazer tudo o que faziam com dinheiro público sem prestar contas. Quebraram o Brasil e ficaram ricos."
Temer negou ter feito qualquer favor a Joesley. "Simplesmente ouvi. Nada fiz para que ele obtivesse vantagens no governo", declarou. "Que crime é me livrar do interlocutor indicando outra pessoa para ouvir suas lamúrias", afirmou. Sobre a suposta compra do silêncio de Eduardo Cunha, Temer repetiu seu discurso de quinta. "Não comprei o silêncio de ninguém. Não obstruí a Justiça. Houve falso testemunho à Justiça. Chegam ao desplante de me atribuir frases, senhas e palavras chulas que jamais cometeria. Atentam contra o meu vocabulário."
“Conhecido falastrão”
Para se livrar da acusação de omissão e de prevaricação, Temer disse que não havia motivo para crer que de fato Joesley estava conseguindo barrar a Lava Jato. "Não acreditei na narrativa de que teria segurado juízes etc. Ele é um conhecido falastrão."
Delação da JBS
A delação de Joesley Batista e seu irmão, Wesley, donos da JBS, foi homologada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, nesta semana. Nela, uma fita mostra Temer supostamente agindo de maneira conivente com o empresário quando ele fala em subornos ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e em métodos usados para impedir o avanço da Operação Lava Jato. Na quinta, vários aliados defenderam a renúncia imediata de Temer. Imaginava-se que ele podia usar seu pronunciamento para isso.
Entre quinta e sábado, porém, houve duas mudanças importantes. Primeiro, o áudio veio à tona e a conversa pareceu, na visão de alguns, menos grave. Depois, o governo disse ter detectado, por meio de perícia, edições no conteúdo do áudio. No entanto, o clima continua difícil para Temer, com vários partidos abandonando o governo e jornais afirmando que a renúncia dele se tornou necessária. Temer também enfrenta uma investigação no Supremo Tribunal Federal, pedida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Em nota, grupo J& F minimiza pronunciamento
O grupo J&F, ao qual estão ligados o frigorífico JBS e a marca Friboi, divulgou nota para dizer que é natural neste momento tentar desqualificar os executivos e funcionários da empresa que firmaram acordos de delação premiada. O texto foi divulgado poucas horas depois do pronunciamento de Temer.
“A J&F considera fundamental ressaltar a importância do mecanismo da colaboração premiada, que está permitindo que o Brasil mude para melhor. Fica cada vez mais claro que não seria possível expor a corrupção no país sem que pessoas que cometeram ilícitos admitissem os fatos e informassem como e com quem agiram, fornecendo indícios e provas.
A colaboração de Joesley Batista e mais seis pessoas é muito diferente de todas que já foram feitas até aqui. Além da utilização de ação controlada com autorização judicial, houve vastos depoimentos, subsidiados por documentos, que esclarecem o modus operandi do cerne do sistema político brasileiro.
Quanto mais sólida e forte uma delação, maiores os graus de exposição e desgaste dos delatores. No caso dos sete executivos, eles assumiram e ainda assumem um enorme risco pessoal, com ameaças à sua vida e à segurança da sua família.
A negativa de denúncia e o perdão judicial são previstos pela legislação em vigor. A possibilidade de premiação excepcional para uma colaboração igualmente excepcional é de grande importância para o êxito do mecanismo da colaboração premiada.
É natural que, nesse momento, em função da densidade das delações, surjam tentativas de desqualificá-las.
Quanto ao áudio envolvendo o presidente Michel Temer, Joesley Batista entregou para a Procuradoria Geral da República a íntegra da gravação e todos os demais documentos que comprovam a veracidade de todo o material delatado.
Não há chance alguma de ter havido qualquer edição do material original, porque ele jamais foi exposto a qualquer tipo de intervenção.
Joesley Batista e outros colaboradores ressaltam a sua segurança com a veracidade de todo o conteúdo que levaram ao conhecimento do Ministério Público. Eles não hesitarão, se necessário, em fornecer os meios para reforçar as provas que entregaram.”
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Deixe sua opinião