Em seu último dia útil à frente da Procuradoria-Geral da República (PGR), que coincidiu com seu aniversário de 60 anos, o procurador-geral, Rodrigo Janot, ganhou um arco e flecha da etnia Xokó, de Sergipe, durante evento com servidores e procuradores do órgão na tarde desta sexta-feira (15).
O presente é uma referência à frase “Enquanto houver bambu, lá vai flecha”, dita por Janot em uma palestra em São Paulo. A declaração foi criticada pela defesa do presidente Michel Temer, alvo de uma segunda denúncia de Janot ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (14), sob acusação de chefiar organização criminosa e obstruir a Justiça.
Segundo relatos de pessoas que participaram do evento, Janot ficou visivelmente emocionado e com a voz embargada durante sua fala. Ele apresentou um balanço com números de sua gestão, desde 2013. “Juntos vivemos e escrevemos um capítulo muito especial na história do país e do Ministério Público. A esperança ainda triunfa nesta casa. Valeu a pena para mim cada minuto de labuta e até de sofrimento”, disse.
Janot, o vice-procurador-geral da República, Nicolao Dino, e o secretário-geral do Ministério Público da União, Blal Dalloul, foram aplaudidos de pé por cerca de 400 pessoas, segundo informou a assessoria da PGR. O evento foi fechado para a imprensa.
Janot recebeu homenagens de membros do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e das unidades do Ministério Público Federal nos estados. Um dos discursos mais emocionantes, segundo uma pessoa presente, foi o do procurador Vladimir Aras, secretário de Cooperação Jurídica Internacional de Janot. Ele classificou a gestão como “uma história de fé na Justiça e amor pelo Brasil”. “De sua cadeira solitária chacoalhou o país para fazê-lo melhor, na missão de promover a Justiça onde quer que seja”, disse Aras à plateia.
Janot enfrentou na reta final o momento mais tenso de seu mandato, que culminou na rescisão do acordo de delação de Joesley Batista, dono da JBS, e Ricardo Saud, executivo do grupo. Desde que o acordo foi assinado, em maio, a PGR enfrentava críticas por causa da imunidade concedida aos delatores, mas Janot vinha repetindo que faria tudo de novo.
A crise foi causada pela suspeita de que um ex-auxiliar do procurador-geral, o ex-procurador Marcello Miller, ajudou os delatores da JBS a fechar o acordo com a PGR. Miller deixou o Ministério Público Federal em abril e foi trabalhar em um escritório de advocacia contratado pela JBS.
Janot diz que não foi chamado para posse
Rodrigo Janot não irá à cerimônia de posse de sua sucessora, Raquel Dodge, marcada para as 8 horas de segunda-feira (18). Sua assessoria informou que ele não foi convidado. A solenidade será realizada na sede da PGR e terá a participação do presidente Michel Temer, responsável pela nomeação da nova chefe do Ministério Público Federal.
Procurada, a assessoria de Dodge disse que o cerimonial da PGR enviou convites eletronicamente para Janot e todos os subprocuradores-gerais. Não haveria como saber, porém, se ele viu o e-mail.
Em setembro de 2013, quando Janot tomou posse, seu antecessor, Roberto Gurgel, compareceu à cerimônia. Na última semana, Dodge visitou ministros do Supremo Tribunal Federal para entregar a eles convites impressos.
Números finais da gestão Janot
Segundo balanço divulgado pela PGR, de setembro de 2013 a agosto de 2017, o gabinete do procurador-geral recebeu 18.954 processos judiciais e deu saída em 18.406 (97%).
Só em agosto deste ano, houve 622 manifestações, sendo 212 do Grupo de Trabalho da Lava Jato, 189 da Assessoria Jurídica Criminal, 88 da Assessoria Jurídica Constitucional, 61 da Assessoria Jurídica Cível, 36 de processos trabalhistas, 25 da Assessoria Jurídica de Tutela Coletiva e 11 da Assessoria Jurídica de Matéria Administrativa.
“No final de agosto, o gabinete apresentava um acervo de 595 processos judiciais remanescentes, uma redução de mais de 70% do número de processos, comparado a setembro de 2013, quando [Janot] tomou posse. À época estavam registrados 2.330 autos judiciais”, informou a instituição.
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