O policial federal aposentado Newton Ishii, “o Japonês da Federal”, ficou famoso em todo o país por conduzir presos poderosos em diversas operações da Lava Jato, em Curitiba, entre 2014 e 2017. Ganhou até marchinha de Carnaval. Mas o que pouca gente sabe é que ele já foi espião do governo durante a ditadura militar.
A história foi contada pelo próprio Ishii em entrevista no programa Conversa com Bial, da TV Globo, e confirmada à reportagem da Gazeta do Povo. O Japonês contou ter se valido de sua condição de estudante universitário para se infiltrar em diretórios acadêmicos. Sem especificar o período de atuação ou a maneira como agia, disse que no início da carreira integrou o que chamou de “setor de inteligência do regime militar”. “Era um momento em que o governo queria ter controle de tudo, precisava de informações. Como estudava Administração, e depois Direito, consegui participar de muitas reuniões”.
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O agente, que se aposentou em fevereiro de 2018, depois de 40 anos de carreira, entrou na Polícia Federal em 1975. Ele não quis dizer em quais universidades ou faculdades atuou como espião, mas sua atuação possivelmente ocorreu na segunda metade da década de 1970. Indagado se vê alguma semelhança entre o trabalho naquela época e nos dias de hoje, na Lava Jato, foi enfático ao dizer que os ‘tempos são outros’. “Agora vivemos uma democracia, graças a Deus.”
Carcereiro na Superintendência da PF, em Curitiba, Ishii ganhou notoriedade ao aparecer em fotos e imagens de TV levando inúmeros políticos e empresários para carceragem. Sempre com seu inseparável óculos escuro. Em março deste ano, teve sua ausência sentida até pelo ex-presidente Lula – “Ué, mas cadê o japonês?” – teria dito ao ver os federais à sua porta para cumprir um mandado de condução coercitiva na Operação Aletheia.
Em abril deste ano, o Japonês da Federal se filiou ao partido Patriota e teve candidatura cogitada para a Câmara Federal na eleição deste ano. Entretanto, toda exposição que teve não foi o suficiente para que sua candidatura seguisse adiante. Recentemente, ele lançou o livro “O Carcereiro”, escrito em parceria com o jornalista Luís Humberto Carrijo, em que conta como foi a adaptação dos políticos presos na Lava Jato à rotina carcerária.