Quem viveu os anos 80 no Brasil certamente lembra da célebre última cena do personagem Marco Aurélio, interpretado por Reginaldo Faria, na novela Vale-Tudo. Enquanto alguns peixes pequenos da trama de Gilberto Braga iam para a cadeia, ele dava uma banana para o Brasil da cabine do jatinho que o levava para os Estados Unidos. Vale a pena ver de novo...
A cena vem imediatamente à cabeça diante da delação de Joesley Batista, o dono da JBS. O empresário relatou crimes estarrecedores. Se tudo for comprovado, Michel Temer tem de ser corrido no Palácio do Planalto e a superlotação dos presídios será acentuada por um punhado de políticos - dois ex-presidentes à frente.
Acontece que Batista não é um observador independente do esquema ou uma vítima de um sistema perverso. Ele é parte atuante do esquema. Tão criminoso quanto os demais envolvidos na troca de favores milionários patrocinada pelo dinheiro público, que voltava com juros aos cofres da JBS por meio de leis, concessões e financiamento do BNDES.
Joesley Batista é tão participante dos crimes que denuncia quanto Marcelo Odebrecht é dos que delatou. Marcelo Odebrecht está preso. Joesley Batista é tão participante dos crimes que denuncia quanto Léo Pinheiro é dos que negocia delatar. Léo Pinheiro está preso. Joesley Batista é tão participante dos crimes que denuncia quanto Pedro Barusco é dos que cometeu. Pedro Barusco está preso e teve de devolver R$ 274,3 milhões aos cofres públicos.
Barusco, ex-gerente de serviços da Petrobras, uma peça no esquema, pagou R$ 274,3 milhões. A JBS, pivô de outros esquemas, terá de pagar R$ 225 milhões de multa. Quantia que a empresa tirou com sobras graças à agora sob investigação operação de compra e venda de dólares desta semana. A compra, um dia antes de o diálogo de Joesley com Temer vir à tona; a venda, um dia depois, com dólar na estratosfera e Bolsa no fundo do oceano.
Como se não bastasse a multa pequena, Batista poderá transferir sua empresa para os Estados Unidos (para onde fugiu com a família), não irá para a cadeia nem mesmo vestirá a constrangedora tornozeleira eletrônica.
O acordo é um desrespeito com o cidadão brasileiro e um desserviço à própria Operação Lava Jato e tantas outras de combate à corrupção. Oferece um salvo conduto a quem delinquiu. Alimenta a crença de que o crime compensa.
Joesley Batista parece ter plena consciência disso. A revista Época revelou que, na quinta-feira, ele estava eufórico em Nova York com a repercussão da sua delação e a possibilidade real de derrubar um presidente da República. Talvez até tenha dado uma banana para nós durante um passeio no Central Park. Se é que já não fez isso enquanto seu avião levantava voo para deixar o Brasil com excesso de impunidade na bagagem.
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