“Não te viram?”, perguntou o presidente Michel Temer ao executivo Joesley Batista, em áudio gravado pelo empresário, na noite de 7 de março, no Palácio do Jaburu. A gravação indica que o empresário teve acesso livre à residência do presidente.
Na conversa, Temer supostamente deu aval à compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), condenado a 15 anos e quatro meses de prisão na Lava Jato. E foi informado sobre uma mesada de R$ 50 mil ao procurador Ângelo Goulart Villela para vazar investigações. Foi ao final da reunião, de cerca de 40 minutos, que o presidente questionou o empresário sobre como ele foi Jaburu.
Leia mais sobre a operação Lava Jato
Inicialmente, Joesley disse ter marcado com “Rodrigo” para chegar junto com ele ao Alvorada. Temer orientou o empresário a procurar o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB/PR) – que foi assessor do presidente até março de 2017 – para tratar de assuntos de seu interesse.
Loures voltou a exercer o mandato na Câmara, após Osmar Serraglio assumir o Ministério da Justiça – ele era suplente do atual chefe da pasta no Congresso.
O parlamentar é acusado de defender, em troca de propinas, os interesses da J&F no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). As propinas chegavam a R$ 500 mil semanais por um período de 20 anos. O montante somado chega a R$ 480 milhões.
Quando explicou a Temer que foi sozinho ao Jaburu, o executivo da JBS declarou:
Joesley: Eu gostei desse jeito aqui.
Temer: Desse jeito?
Joesley: Eu venho dirigindo, nem venho com motorista, eu mesmo dirijo.
Temer: Ou você vem com o Rodrigo e o Rodrigo se identifica lá.
Joesley: Eu tinha combinado de vir com ele. Eu vim sozinho, mas aí eu liguei para ele era 10h30. Aí, deu 9h50 eu mandei mensagem pra ele. Ele não respondeu. Deu 10h05 e eu liguei para ele eu disse: cadê? Ele: puta, eu tô num compromisso. Vai lá. Eu passei a placa do carro. Fui chegando, eles abriram, nem dei meu nome.
Temer: Não te viram?
Joesley: Não, fui chegando, eles viram a placa do carro, abriram, eu entrei .
Temer: Melhor, então.
Joesley: Funcionou super bem.
No diálogo, Joesley deu a entender que estava pagando uma mesada a Eduardo Cunha e a Lúcio Funaro, apontado como operador de propinas do ex-presidente da Câmara, também preso na Lava Jato, para que ambos ficassem em silêncio. “Eu tô de bem com o Eduardo”, disse o empresário. “Tem que manter isso, viu?”, respondeu Temer.
Joesley falou ao presidente também sobre a compra do procurador da República Ângelo Goulart Villela, para quem ele confessa ter pago R$ 50 mil por mês para vazar investigações. Villela era integrante da equipe do vice-procurador geral Eleitoral, Nicolau Dino, e recentemente estava cedido à força-tarefa das Operações Greenfield, Cui Bono e Sépsis, que apuram crimes relacionados à JBS.
O procurador teria tido encontros com representantes do grupo frigorífico sem comunicar os colegas. Ele foi preso nesta quinta-feira (18) pela Operação Patmos.
Clima e super-ricos: vitória de Trump seria revés para pautas internacionais de Lula
Nos EUA, parlamentares de direita tentam estreitar laços com Trump
Governo Lula acompanha com atenção a eleição nos EUA; ouça o podcast
Pressionado a cortar gastos, Lula se vê entre desagradar aliados e acalmar mercado