Um dos ministros mais ativistas do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso esteve em Curitiba nesta segunda-feira (21) para defender o combate à corrupção diante de uma plateia formada por empresários. Durante sua fala, que durou cerca de uma hora e meia, o ministro colocou o sistema político como protagonista no cenário de corrupção desvendado no Brasil nos últimos anos, principalmente na operação Lava Jato.
Apesar do quadro atual, que caracterizou como devastador, o ministro disse “ter fé” em uma melhora no cenário brasileiro de enfrentamento à corrupção. “A sociedade já mudou, já se mobilizou; a iniciativa privada está mudando profundamente; o Judiciário está mudando lentamente; e a política ainda não mudou, mas vai mudar”, disse Barroso a jornalistas, ao chegar para o evento na Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), em Curitiba.
Durante sua fala, Barroso apontou consequências da corrupção no Brasil, como apropriação privada de recursos públicos, comprometimento de programas de desenvolvimento e distribuição de renda e falta de legitimidade dos governantes. “Sistema político está na origem do problema que enfrentamos”, disse o ministro.
Barroso também apontou alternativas para o combate à corrupção. Entre as soluções, o ministro destacou o papel da ética, a necessidade de criação de instituições políticas e econômicas inclusivas e sujeitas ao controle social e de um direito penal moderado, mas eficiente.
“Um direito penal incapaz de atingir qualquer pessoa que ganha mais de cinco salários mínimos criou um país em que os ricos são inconsequentes. É preciso quebrar esse círculo vicioso”, disse o ministro.
Para ele, o Brasil precisa passar por mudanças como a redução do tamanho do Estado e a reforma do sistema político. “Sem essas mudanças estruturais não vamos conseguir avançar o suficiente”, profetizou. “A fotografia do momento atual é devastadora, mas o filme da democracia brasileira é bom. Vamos empurrar a história para o caminho certo”, completou Barroso.
Dallagnol também defende reformas
Convidado para participar de um painel sobre “Programas de Integridade e o papel dos gestores e empresas contra a corrupção”, o coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, também defendeu reformas e centrou críticas ao sistema político brasileiro. Apesar das críticas, Deltan negou que esteja “demonizando a política”.
“Chega um ponto em que as pessoas chegam a flertar com meios não democráticas, quando a única solução para esse problema que corrói a nossa democracia é mais democracia, é participação da sociedade na coisa pública. Nós não demonizamos a política, a única solução é via política. O que nós precisamos é de políticos comprometidos com mudanças”, disse o procurador.
Deltan afirmou que a corrupção no Brasil é um círculo vicioso que “deturpa a democracia e torna a sociedade prisioneira”. “O que é essencial para entender o Brasil é entender para onde todo esse dinheiro desviado vai. Uma parte desse dinheiro vai para o bolso dos envolvidos. Agora, a outra parte do dinheiro vai para um destino ainda mais grave: as eleições. É o financiamento eleitoral. Por que isso é mais grave do que colocar no bolso? Porque isso gera um círculo vicioso de campanhas eleitorais caríssimas, turbinadas por propinas, que fazem qualquer candidato parecer um anjo, e geram a permanência dos corruptos no poder”, disse.
Deltan aproveitou a deixa para defender a campanha encabeçada pela ONG Transparência Internacional, em parceria com a Fundação Getulio Vargas, que elencou uma série de medidas necessárias ao combate à corrupção. O procurador destacou os três principais pilares da campanha: passado limpo dos candidatos, compromisso com democracia e endosso ao pacote anticorrupção criado pelos órgãos.
Barroso e Deltan participaram do Fórum Transparência e Competitividade, organizado pela Fiep. O objetivo do encontro é discutir o os impactos da corrupção para a economia.
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