Talvez único remanescente do grupo que refundou o Partido Socialista Brasileiro (PSB) no pós-ditadura, em 1985, o senador João Capiberibe (PSB-AP) é um crítico do que está acontecendo do outro lado do Congresso, na Câmara, com parte da bancada de seu partido.
Um grupo dissidente adota posição diversa do partido e apoia as reformas trabalhista e previdenciária do governo, além de desejar a permanência de Michel Temer. E ainda negocia sua ida para o Democratas, mas não descarta seguir rumo ao PMDB. Um pedaço do PSB imortalizado por Miguel Arraes está sendo leiloado na Era Temer, para desgosto de quadros históricos da legenda.
Um pouco de história
O PSB passou a existir no final da década de 1940, se opôs a Getúlio Vargas, se afastou da UDN e foi para a clandestinidade na ditadura. Foi criado com os apoios de Evandro Lins e Silva, Rubem Braga, Antônio Houaiss e Sérgio Buarque de Holanda. Fim da ditadura, ressurge como uma esquerda moderada e em 1989 alia-se ao PT, oferecendo José Paulo Bisol para vice de Lula na chapa derrotada por Fernando Collor de Mello.
Além de Capiberibe e Arraes – que ingressou no PSB em 1990 –, o partido produziu lideranças em outros estados, casos de Saturnino Braga e Jamil Haddad, no Rio, e Célio de Castro, em Minas. Alguns deles deixaram a legenda quando Anthony Garotinho ingressou no partido e disputou a Presidência da República pelo partido, em 2002. Os membros históricos nunca receberam bem nomes estranhos e incompatíveis com seu programa.
É o que Capiberibe enxerga nesses “dissidentes”. Para ele, são parlamentares que estão no partido de passagem e que sequer leram o que o PSB prega nos seus documentos. Para o senador, a abertura dessa porteira se deu na candidatura de Eduardo Campos, neto de Arraes, em 2014.
“A candidatura do Eduardo Campos abriu as portas do PSB para gente que não tinha nenhuma afinidade com o partido, mas que garantia palanques nos estados. E aí, nessa abertura, veio gente de direita, que sequer leu o estatuto do partido. Terminou entrando no partido sem atentar para os conteúdos políticos e ideológicos que marcaram a história do PSB”, diz Capiberibe.
O PSB agregou quem desejava da esquerda, mas não o PT, e quem namorava com a direita, mas não necessariamente com o PFL, hoje Democratas. E acolheu também políticos com perfil que jamais os fundadores imaginariam um dia ver no mesmo flanco. É o caso do deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), que passou dez anos na Arena, no período de chumbo da ditadura.
“O PSB sempre foi um partido que gozou de simpatia e com compromissos de centro-esquerda. Construiu na esquerda esse caminho. Mas muitos conservadores se aninharam entre nós. Seria muito bom que saíssem logo e que deixassem o partido”, afirmou o senador.
Reencontro com as origens
Capiberibe acha que essa “dissidência” surge num momento que o PSB está buscando se reencontrar, dentro de seus propósitos. O partido, reconhece, precisa deixar esse vai e vem.
“Em 2014, o partido se inclinou à direita ao apoiar Aécio Neves no segundo turno. E apoiou o impeachment da Dilma, com algumas exceções. Esse ano estamos voltando ao nosso campo ideológico. Decidimos no voto contra as reformas trabalhista e previdenciária e nos posicionamos pela renúncia de Temer. E vemos essa dissidência ser disputada hoje pelos berços de onde vieram, o DEM e o PMDB”.
Os dois partidos governistas travaram uma disputa pública nesta semana pela filiação dos dissidentes do PSB, que chegou a causar atritos entre o presidente Michel Temer (PMDB) e o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) .
Porém, mais do que uma disputa de poder, a disputa aberta por deputados do PSB tem um aspecto econômico importante. O relatório de Vicente Cândido (PT-SP) sobre a reforma política em discussão na Câmara prevê que o deputado leve consigo parte do bolo do Fundo Eleitoral a ser criado no caso de uma troca de partido. Cada parlamentar do PSB, de acordo com tamanho da bancada, pode levar para onde for R$ 3,4 milhões para a nova sigla.
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