Setenta anos após serem proibidos no Brasil, os cassinos fazem suas apostas e voltam à mesa de negociações no maior país da América Latina. Um dos ícones mundiais do setor de jogos, o americano Sheldon Adelson, presidente da Las Vegas Sands, maior empresa de cassinos dos Estados Unidos, se reuniu recentemente com o prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Porém, a visita do multibilionário empresário não é a única. Também esteve na cidade recentemente James Murem, que comanda o grupo MGM Resorts, famoso por seu empreendimento em Las Vegas, um dos locais mais conhecidos quando o assunto é jogo.
A lista de empresas interessadas em explorar a atividade de cassinos no país vem crescendo a cada mês. Até uma das figuras mais conhecidas de Las Vegas, Jan Laverty Jones, ex-prefeita da cidade, esteve em Brasília, já que hoje é uma das principais executivas do Caesars Entertainment Corporation, dona do Caesars Palace, um dos mais conhecidos da Las Vegas Strip. Já esteve por aqui nos últimos meses ainda o grupo dono da rede Red Rock, com espaços na Califórnia e Michigan, nos EUA.
Mas não são apenas os americanos. Os europeus Estoril Sol, de Portugal, e até a estatal austríaca que administra cassinos em Viena estiveram em Brasília apresentando a indústria do cassino e do entretenimento como ferramenta para impulsionar a indústria do turismo no Brasil.
Resorts
A legalização dos cassinos, porém, é um assunto cercado de polêmica no Brasil. Muitos grupos criticam a proposta de legalização argumentando que o jogo pode levar à lavagem de dinheiro, à criação de organizações criminosas e ao vício. Do outro lado, o próprio governo já se convenceu de que a legalização dos cassinos poderia ajudar no desenvolvimento da economia. Segundo o deputado Elman Nascimento (DEM-BA), presidente da comissão especial da Câmara que analisou o tema, a expectativa é de investimentos de R$ 80 bilhões.
“O Brasil é um dos únicos países democráticos em que o cassino não é liberado. Há interesse desses grupos em investir no país, criando um resort integrado com cassino. Há uma disposição alta para investir. Mas é preciso segurança jurídica para que esses investimentos ocorram no país. Além dos grupos dos Estados Unidos e da Europa, há ainda empresas de Argentina e Uruguai de olho no país”, disse Nascimento.
Nos encontros, o empresário Sheldon Adelson tem dito que pretende levantar um projeto de US$ 8 bilhões no Brasil. A ideia do bilionário americano é fazer um complexo nos moldes do de Macau, na China, que gera hoje mais de dez mil empregos diretos e reúne centro de convenção e até shopping center. Segundo uma fonte, o magnata tem dito em seus encontros que, para receber esse empreendimento, a cidade precisa ter uma infraestrutura de hotelaria de 4 a 5 estrelas para absorver os clientes.
O prefeito Marcelo Crivella recebeu o empresário para uma reunião no Palácio da Cidade, em Botafogo. Antes da reunião, Crivella disse que o motivo do encontro era “trazer investimentos” para o Rio, sem mencionar a palavra cassino.
“Ele é um dos grandes investidores no setor imobiliário. Vamos falar sobre turismo. É seguramente uma das maiores fortunas americanas e tem muito interesse pelo Rio. Quem sabe não pode nos ajudar no Porto Maravilha? Vou mostrar para ele a infraestrutura que foi feita e, quem sabe, podemos instalar ali hotéis, praças de alimentação, cinemas. Ele é um dos grandes empreendedores de Las Vegas”, afirmou Crivella.
Rio de Janeiro na mira
A assessoria de Adelson não quis comentar. De acordo com outra fonte, grupos do exterior já estão conversando com hotéis no Rio de Janeiro e procurando terrenos. Uma das conversas em fase mais adiantada prevê a possibilidade de um cassino no antigo Hotel Nacional, em São Conrado, da HN Construtora, reaberto recentemente sob a administração do grupo espanhol Meliá.
“Foi feito um pré-acordo para a construção de um cassino no hotel, em um projeto de US$ 50 milhões”, disse uma das fontes que não quis se identificar.
Existem propostas na Câmara e no Senado para legalização
O Hotel Nacional não retornou à reportagem. Hoje há duas propostas para legalizar os cassinos no Brasil: uma na Câmara dos Deputados e outra no Senado. Na Câmara, o relatório substitutivo da Comissão do Marco Regulatório do Jogo já foi votado e está na mesa do presidente da Casa, Rodrigo Maia. No Senado, o projeto está na Comissão de Constituição e Justiça. Segundo fontes, os dois projetos vão convergir para um só, como forma de agilizar a votação no Congresso. A ideia é que o texto vá a plenário após a votação da reforma da Previdência.
Já está certo que, ao unir as duas propostas, o projeto vai federalizar a criminalização de todas as modalidades de jogos, como bingo e jogo do bicho. Pela proposta da Câmara, estados com até 15 milhões de habitantes poderão ter um cassino; locais entre 15 e 25 milhões, dois; e estados acima de 25 milhões, três. A proposta do Senado fala em até três estabelecimentos por estado.
“É preciso uma legislação uniforme. A exploração fraudulenta do jogo e sem autorização passa a ser crime federal. Isso traz segurança para o investidor. Pelo projeto, as máquinas dos cassinos serão ligadas aos sistema da Receita Federal, no qual haverá um acompanhamento online”, destacou Nascimento.
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