Quem é ele? Provável candidato à Presidência da República, crê em um Estado forte e intervencionista, tem sérias restrições ao capital estrangeiro, nunca foi um entusiasta da independência do Banco Central, absteve-se na votação da lei da terceirização, tem restrições à Reforma da Previdência, se eleito pode rever a PEC do Teto e é chamado de “mito”...
Segundo cientistas políticos e economistas, Jair Messias Bolsonaro, deputado federal pelo PSC do Rio de Janeiro e que está de malas prontas para o PEN (que já anunciou que vai trocar de nome para Patriota), guardaria mais similaridades com o campo da esquerda e com o próprio PT do que poderia supor um “bolsominion” (como são chamados seus apoiadores). “Com ele, o país caminharia, sem dúvida, para a velha tradição populista e nacional-desenvolvimentista, cujo último exemplo foi o governo de Dilma Rousseff. O contrário do que, no meu entender, o Brasil precisa”, disse o cientista político Bolívar Lamounier.
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Embora venha repetindo o mantra do estado mínimo, Bolsonaro não consegue tocar no assunto sem fazer ponderações que costumam colocar liberais em alerta. Já declarou ser “favorável, de modo geral, às privatizações”, mas que faz ressalvas para setores estratégicos, como energia. Em relação à privatização da Petrobras, enviou sinais trocados. Declarou que antes seria preciso recuperar a empresa e que não se pode “sair entregando”. Mesmo em relação a exploração do nióbio (mineral que o deputado costuma citar em suas entrevistas), ele já declarou que ela deve se dar com “empresários brasileiros”.
Na avaliação do cientista político Christian Lohbauer (USP), Bolsonaro representaria “o velho nacionalismo”. “Ele se ampara na burocracia militar-desenvolvimentista. Não fala sobre concorrência e representa um nacionalismo de proteção. Não fala em integração comercial, das cadeias produtivas, não fala em inserir a economia nas cadeias internacionais....”
Na Câmara dos Deputados, Bolsonaro se absteve a votar a lei da terceirização com o argumento de que sofreria uma “enxurrada de críticas”. Votou pela PEC do Teto, mas já disse que poderia mudar o texto se fosse eleito presidente. Sobre reformar a Previdência, não é claro, mas afirmou ser contra qualquer mudança na aposentadoria dos militares. O cientista político Rogério Battistini, da Universidade Mackenzie, diz que Bolsonaro é representante de “um liberalismo sem consistência teórica”.
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Mercado apreensivo
O deputado, que não gosta de falar de economia mas já declarou não ser favorável à independência do Banco Central, é visto com apreensão por especialistas.
Para o analista político da XP investimento, Richard Back, ele significa volatilidade nos mercados. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, diz que já na campanha Bolsonaro deverá pregar contra reformas que interessam ao sistema financeiro. “Ele tem um modelo nacional-desenvolvimentista, um pouco antimercado.” O professor da FGV Joelson Sampaio considera que o mercado “reagiria mal a uma vitória de Bolsonaro” porque significaria incertezas.
Bolsonaro reage às críticas. “Os economistas que dizem entender muito de economia são os mesmos que levaram o Brasil para o buraco”, afirma o deputado. Sobre definições de direita e esquerda, diz ser “bobagem”. “Mas acho que posso ser definido como alguém que faz oposição à esquerda.”
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