Eleito para seu primeiro mandato como deputado federal com 465.310 votos, o estudante de direito e líder do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri (DEM-SP), de 22 anos, já é um velho conhecido da política brasileira. Agora, quer ir além. Em entrevista por telefone à Gazeta do Povo, ele reafirmou sua candidatura à presidência da Câmara e defendeu a realização de um debate público entre os postulantes ao cargo.
“Sou capaz de fazer a ponte com o governo e tocar a pauta”, disse Kataguiri. “Tenho proposto o debate entre os postulantes à presidência da Câmara, porque se ficar público que eu sou despreparado, que eu não conheço o processo legislativo, vai ficar claro que eu não posso ser candidato”, afirmou. A plataforma para o debate poderia ser a TV Câmara, jornais ou mesmo uma transmissão através da internet, sugere o deputado eleito.
Reforma da Previdência
Sua prioridade, seja qual for seu destino na Câmara depois da posse, é a reforma da Previdência. Para o deputado, está claro que a situação das contas públicas é insustentável e que o grande desafio do governo e dos setores que apoiam a reforma é comunicar essa urgência à população. “É fundamental estruturar essa reforma para que seja profunda, para que a gente nunca mais precise fazer outra”, disse.
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Além disso, a aprovação representaria, por parte do governo do presidente eleito, “uma demonstração de força política gigantesca que faz com que os parlamentares tendam muito mais a votar (com o) governo”. Para Kataguiri, uma eventual derrota do governo nessa área seria quase um impeditivo para avançar em outras reformas prioritárias, como a tributária e a política.
DEM no governo Bolsonaro
Participante ativo das negociações e conversas para composição da Câmara, Kataguiri avalia que o governo Bolsonaro não está negociando apoio com os partidos em troca de cargos. “Não tem esse tipo de conversa”, afirmou.
Questionado sobre o espaço que o Democratas (DEM), partido pelo qual é filiado, está tendo no futuro governo Bolsonaro, Katiguiri diz que o partido não negociou os cargos. “Nem o próprio DEM pode ser considerado hoje base do governo, porque tem essas indicações de ministérios que não são do próprio partido, são do próprio Bolsonaro.”
1.º ESCALÃO: Todos os nomes já anunciados por Bolsonaro
Três dos ministros já indicados por Bolsonaro são filiados ao DEM, o que torna a sigla a com mais espaço na equipe ministerial. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) vai ocupar a Casa Civil; a deputada Tereza Cristina (DEM-MS), a Agricultura; e o deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), a pasta da Saúde.
O líder do MBL ressalta, ainda, que Bolsonaro tem indicado nomes com capacidade técnica para integrar os ministérios, embora esse, na sua visão, não seja o maior desafio do presidente eleito. “Acho que o problema do governo vai ser mais político, referente ao que precisa ser feito no Congresso Nacional, do que de capacidade técnica”, disse.
Escola sem Partido
Nesta semana, o MBL lançou um braço acadêmico chamado MBL Estudantil, que tem como objetivo “orientar, municiar e preparar os estudantes, com palestras, encontros, videoaulas e recomendações de leitura para que eles consigam combater a doutrinação de esquerda dentro das instituições de ensino e das salas de aula”.
“O projeto é para que os estudantes tenham uma visão liberal e conservadora que eles não vão aprender na escola”, resumiu Kataguiri. O deputado eleito, no entanto, não considera esse esforço complementar ao projeto Escola sem Partido (PL 7.180/2014), que tem como objetivo fazer os estudantes e professores conhecerem seus direitos e deveres na escola.
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Kataguiri, aliás, é voto contado para aprovação do projeto, caso a pauta se estenda para o próximo mandato parlamentar. “Apoio o relatório do deputado Flavinho [PSC-SP]”, disse. A votação do relatório é alvo de obstrução na Comissão Especial que discute o tema e já teve a votação adiada quatro vezes desde que os parlamentares voltaram a discuti-lo, após o segundo turno das eleições.
O movimento Escola sem Partido, porém, pretende continuar apoiando o projeto que considera mais abrangente, o PL 867/2015, do deputado Izalci (PSDB-DF), que está apensando ao PL 7.180 de 2014.
Guinada liberal e conservadora
O Escola sem Partido é só mais uma das pautas que devem ganhar força com a nova configuração política no Brasil, avalia Kataguiri. “Pode aguardar uma bela de uma guinada liberal e conservadora”, disse a respeito do resultado das urnas em 2018, não sem alertar para o perigo das expectativas frustradas. “O tempo regimental da aprovação das propostas é maior do que a população espera”, afirmou.
Rota de colisão com filósofo guru do núcleo familiar do governo Bolsonaro
Conhecido por seus vídeos publicados na internet sobre economia desde antes de fazer 18 anos, o então estudante de Ensino Médio ganhou proeminência com a fundação do MBL em 2014 e o posterior papel que o movimento teve no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
A maneira como conduziram o processo de impeachment, no entanto, levou o então estudante e o MBL a uma rota de colisão com o filósofo Olavo de Carvalho, que se tornou uma espécie de “guru” da ala familiar do governo Bolsonaro. Ele foi responsável direto para a indicação de dois ministros para o governo: Ernesto Fraga Araújo, para as Relações Exteriores, e Ricardo Vélez Rodríguez, para a Educação.
Olavo chegou a classificar as manifestações de rua de 2015 como uma “ejaculação precoce” e a criticar duramente o envolvimento das lideranças do MBL com a política partidária.
Hoje, Kataguiri minimiza esse antagonismo. “Isso é uma coisa bem menor, uma coisa que já era pequena à época e hoje nem precisa ser considerada”, disse, quando perguntado sobre sua relação com o futuro governo.
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