O governo de São Paulo transfere na manhã desta quarta-feira (13) o chefe máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, para um presídio federal. Além dele, estão sendo transferidos em forte esquema de segurança outros 21 membros da facção, parte também integrante da cúpula.
A operação teve início na madrugada.Desde novembro, já havia previsão de transferência dos membros do PCC para unidades federais, após a descoberta de um plano de resgate de Marcola e de mais integrantes da facção do presídio de Presidente Venceslau. Esse plano de fuga utilizaria até um exército de mercenários para o resgate dele e de parte da cúpula da facção.
Eles estão sendo levados para Mossoró, Brasília e Porto Velho. Sete foram transferidos porque haviam sido alvos da operação Echelon em 2018. Outros 15 porque fazem parte da sintonia geral final do PCC, com seu primeiro e segundo escalão. Policiais militares e agentes penitenciários da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) participaram da operação.
Marcola é o ultimo grande líder de facção criminosa do país a ir para a rede de presídios federais. Lá já estão seu rivais do Comando Vermelho e da Família do Norte e seus aliados do Terceiro Comando Puro.
O governo federal soltou um decreto específico autorizando o uso das Forças Armadas no entorno de presídios federais de Rondônia e Rio Grande do Norte para garantir a segurança das unidades prisionais para onde irá parte de cúpula do PCC. “Fica autorizado o emprego das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem, no período de 13 a 27 de fevereiro de 2019, no Estado do Rio Grande do Norte e no Estado de Rondônia, para a proteção do perímetro de segurança das penitenciárias federais em Mossoró e Porto Velho, em um raio de dez quilômetros”, determina o governo federal.
Publicado no Diário Oficial da União, o documento é assinado pelo presidente Jair Bolsonaro, pelo ministro do gabinete de Segurança Institucional, General Heleno, pelo ministro da Defesa Fernando Silva e pelo ministro da Justiça Sergio Moro.
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Transferência estudada
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o plano inicial era esperar alta do presidente Jair Bolsonaro, pois se temia possíveis reações da facção em São Paulo, o que não ocorreu até agora. Todos os presídios de paulistas estão passando por blitze simultâneas para evitar tumultos. A decisão foi tomada pelo secretário da Administração Penitenciária, Nivaldo Restivo. Em mais de 100 unidades prisionais do Estado existe presença de integrantes do PCC.
Os criminosos foram transferidos por decisão do juiz Paulo Zorzi, corregedor dos presídios, e a pedido do promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), de Presidente Prudente. “Essa é a maior operação já feita. Esperamos desarticular momentaneamente a cúpula da facção”, afirmou Gakyia. O pedido é de 28 de novembro de 2008 e solicitava a “transferência imediata em caráter excepcional de 15 presos, entre eles o Marcola”.
A inteligência policial detectou planos da facção em outubro e novembro de 2018 de matar autoridades judiciais, o ex-secretário do governo da SAP Lourival Gomes, um diretor de presídio e um deputado estadual caso Marcola fosse transferido para o sistema federal. Todos estão com escolta reforçada desde que a Justiça confirmou que ia deferir o pedido de transferência dos presos.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e a cúpula da Secretaria da Segurança Pública (SSP) convocaram uma coletiva de imprensa às 14h para falar sobre a transferência dos presos.
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Plano de resgate
De acordo com o MP, havia um plano de resgate de integrantes do PCC que estavam na Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Venceslau. Os alvos do resgate seria Marcola e outros membros da facção. O aeroporto de Presidente Venceslau fica a apenas dois quilômetros, cerca de seis minutos, da unidade prisional. Segundo o MP, na mesma ação, o líder havia sido condenado recentemente há 30 anos de prisão pela comarca de Presidente Venceslau. O total de penas impostas a Marcola já ultrapassa 300 anos.
O plano de resgate seria comandado por outro membro do PCC, Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como “Fuminho”. Ele fugiu da Casa de Detenção em 1999, é procurado pela Justiça e teria se estabelecido na Bolívia, de onde enviava drogas e armas para Brasil, Europa, Ásia e África, diz o documento do MP.
Entre os integrantes do grupo que iria resgatar Marcola estavam bandidos que já haviam participado de roubos contra empresas de valores. Ainda de acordo com a Promotoria, a facção teria investido dezenas de milhões de dólares nesse plano de resgate – inclusive com a compra de veículos blindados, aeronaves e armamentos.
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O plano de resgate incluía o bloqueio de rodovias e o ataque à penitenciária de Presidente Venceslau e também o ataque ao Batalhão da Polícia Militar, além do corte de energia e comunicações nas unidades policiais do entorno.
“A equipe que iria resgatar Marcola se dividiria em várias frentes, uma delas iria bloquear a Rodovia Raposo Tavares, a outra iria atacar a polícia e uma outra iria tentar impedir a decolagem do helicóptero Águia da PM do aeroporto de Presidente Prudente, que fica na região”, diz o MP.
Ainda segundo os promotores, o plano previa que os criminosos seriam resgatados da prisão e levados para um aeroporto no norte do Paraná, de onde partiriam em outra aeronave para o Paraguai ou a Bolívia.
A descoberta desse plano fez com que o aeroporto fosse fechado por um mês. O aeródromo foi fechado no dia 10 de outubro de 2018, inclusive com colocação de barreiras físicas na pista por determinação da Justiça.
Mesmo com o reforço da segurança policial no entorno do presídio, no dia 27 de outubro uma câmera registrou um sobrevoo de um drone nas imediações da cadeia. “Podia ser um sinal de que um plano de resgate estaria em ação”, diz o MP. Segundo a ação, os drones seriam usados pelo PCC para fazer filmagens e o reconhecimento do local antes do resgate.
Temor por represálias
A transferência de Marcola provocou um racha nos meses do governo Márcio França (PSB) entre integrantes da cúpula que defendiam a transferência de Marcola e outros que temiam represália por parte dos criminosos se essa transferência fosse concretizada, a exemplo do que ocorreu em maio de 2006, quando forças de segurança foram atacadas em represália à transferência de 765 presos para Presidente Venceslau.
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Mais de 300 ataques da facção a prédios públicos na época deixaram 59 agentes de segurança mortos em cinco dias. O saldo de mortes aumentaria nos dez dias que se seguiram, quando grupos de homens encapuzados saíram às ruas para vingar as mortes de policiais. Foram 505 civis mortos.
O principal a defender a permanência de Marcola e outros integrantes do PCC em São Paulo era o então secretário Mágino Alves Barbosa Filho, sob argumento de ter informações seguras de que esses ataques ocorreriam. Já o então secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, e membros do Ministério Público, refutavam a descoberta de planos de ataques por parte dos criminosos e defendiam a transferência imediata.
Ao mesmo tempo que ocorre a transferência, a Polícia Militar realiza em todo o estado uma operação com 21.934 policiais, com 8.104 viaturas, 13 helicópteros em 3.362 pontos. Segundo a Secretaria da Segurança, “as equipes estão em locais estratégicos, apontados pelo serviço de inteligência da PM, para sufocar possíveis ações de criminosos”.
Organização criminosa
O PCC movimenta quase US$ 800 milhões por ano no Brasil e tem cerca de 30 mil membros. É a maior organização criminosa da América do Sul. Com ligações com a máfia da Calábria (sul da Itália), passou a dominar o envio de cocaína da Bolívia para a Europa por meio de portos no Nordeste, Sudeste e Sul do País.
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