Irmão do candidato derrotado à presidência Ciro Gomes (PDT), o senador Cid Gomes (PDT) articula um bloco com discurso de “independência” em relação ao governo de Jair Bolsonaro. A ideia é formar um grande grupo de partidos no Senado, nos moldes do que foi o Centrão na Câmara.
A intenção é juntar 12 partidos e uma maioria de 50 senadores em um único bloco ainda antes da eleição interna, em 1º de fevereiro. A ideia é aproveitar a força do grupo para propor mudanças e permitir maior distribuição de poderes da presidência da Casa e na Mesa Diretora.
Até agora, o bloco informal liderado por Cid antes mesmo de sua posse é formado por quatro siglas, PDT, PSB, PPS e Rede. O irmão de Ciro Gomes (PDT) tem se aproximado de lideranças de outras sete agremiações: PP, PTB, PSC, PSDB, PSD, Podemos, PRB e DEM. Nas conversas, eles discutem a criação de um agenda única tanto para a reestruturação de algumas dinâmicas internas do Senado como para a análise de pautas consideradas importantes para o País.
VEJA TAMBÉM: Ameaça concreta ou barulho por nada: qual o tamanho da oposição a Bolsonaro
Entre os nomes que Cid já conversou estão Tasso Jeiressati (PSDB-CE) e Alvaro Dias (Podemos-PR), que, segundo pessoas envolvidas nas negociações, se disseram simpáticos à ideia do blocão, embora ainda não tenham batido o martelo se toparão participar.
Questionado sobre a similaridade com o Centrão da Câmara, grupo que ficou conhecido pelo fisiologismo, Cid respondeu que não vê problema na comparação. “Se Centrão não é ser situação e nem é ser oposição a qualquer custo...”, afirma. “Definitivamente não há identidade ideológica entre esses partidos, mas há nas linhas de discussão e atuação.”
A ideia é tentar construir consenso para que algumas das mudanças sejam encaminhadas já na eleição do Senado, marcada para o dia 1º de fevereiro. A principal delas visa repartir os poderes da presidência da Casa com os outros ocupantes da Mesa: primeiro e segundo vice-presidentes, além de quatro secretários. “Conversei com um senador que reclamou não conseguir pautar um único projeto para votação. Todos os poderes ficam na mão da presidência”, afirmou Cid. O modelo a ser seguido seria a Câmara dos Deputados, na qual os outros ocupantes da Mesa tem atribuições específicas.
Eleição no Senado
Outra medida discutida é inverter a forma como acontece o pleito interno. Em vez de eleger primeiro o presidente do Senado, Cid tem consultado os senadores dessas bancadas para que os parlamentares comecem escolhendo quais legendas vão comandar comissões permanentes e mistas no Senado, “com base na competência”. Em seguida, os senadores iriam definir os ocupantes da Mesa Diretora, passando pela vice-presidência e, só depois, a eleição do comandante máximo. Na prática, isso permitirá ao grupo maior poder de barganha para garantir espaços importantes na Casa.
Caso haja um entendimento entre esses partidos, Cid não descarta também que o Centrão do Senado apresente ainda um candidato para a disputa da presidência da Casa, com a restrição de que ele não será este nome. Esse é um dos motivos pelo qual o senador cearense não tem tentando uma aproximação com o MDB de Renan Calheiros (AL) e Simone Tebet (MS). Segundo ele, a interpretação de que o partido de ambos deve ficar com o comando do Senado é um impeditivo para a entrada dos emedebistas no bloco, mesmo a legenda se declarando independente em relação ao Palácio do Planalto.
Para questionar a tradição de a maior bancada ficar com a cadeira de presidente, no caso o MDB, ele cita o primeiro parágrafo do artigo 59 do regimento interno. “O texto diz que ‘na constituição da Mesa é assegurada, tanto quanto possível...’“, enfatiza a expressão aumentando o tom de voz. “‘...a representação proporcional dos partidos e blocos parlamentares que participam do Senado’. Esse trecho já mostra que isso é, mas também não é (bem assim)”, afirmou.
Sobre as conversas com o DEM, do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), o pedetista diz que, se efetivamente ele decidir que seguirá com a candidatura patrocinada pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), não terá espaço no grupo, já que a ideia é garantir a independência.
Desde que começou esses movimentos, além de Tasso e Álvaro, Cid já se reuniu com nomes como Esperidião Amin (PP-SC), Telmário Mota (PTB-RR), Otto Alencar (PSD-BA), Rodrigo Pacheco (DEM-MG), entre outros. Uma das possibilidades é que alguns desses parlamentares se reúnam na segunda-feira, 28, em Brasília, para discutir os termos da possível união. É que, se quiserem colocar as propostas em prática, os partidos precisam bater o martelo sobre as medidas antes da eleição. “Vou continuar pregando para os senadores até o dia 1º de fevereiro”, disse Cid.