Alvo de cinco inquéritos, o senador tucano Aécio Neves perdeu força na banca de apostas para 2018.| Foto: Nitro

A lista de inquéritos abertos por determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), a partir das 77 delações premiadas de executivos da Odebrecht, terá um forte e previsível impacto nas eleições de 2018.

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Investigados, os senadores Aécio Neves e José Serra, principalmente, e o governador paulista Geraldo Alckmin perdem força como possíveis presidenciáveis do PSDB. Por outro lado, o prefeito de São Paulo, João Doria – que se pretende “gestor”, e não político – ganha força entre os tucanos. Na trincheira oposta, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), alvo de novos inquéritos e já réu em processos da Lava Jato, vive a possibilidade de ser preso antes das eleições.

“Tucanos de alta plumagem foram abatidos [pela lista]. Tasso Jereissati seria um nome [do partido para a presidência], mas não é considerado pelo partido, que é essencialmente paulista”, diz o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB). “O PSDB está cada mais distante de Aécio e mais próximo de Alckmin e Doria [para 2018]”, concorda o professor Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Na outra ponta, Lula ainda tem a vantagem de ser viável segundo pesquisas eleitorais, avalia Codato. “O eleitor dele, de certa forma, é como o de [Jair] Bolsonaro: está com ele incondicionalmente. Lula tem 30% em toda pesquisa eleitoral para presidente. Ele só não chega como candidato competitivo se for preso”, afirma. Fleischer diverge. “Lula provavelmente estaria na cadeia até lá. O PT não tem outro candidato viável.”

Do mesmo mal, para o professor da UnB, padecem outras grande legendas brasileiras, caso do PMDB e do DEM. “[O senador Ronaldo] Caiado (DEM-GO) é ventilado como presidenciável, mas creio que possivelmente terá mais interesse em ser candidato a governador de seu estado, onde tem boas chances”, diz Fleischer.

Trump à brasileira?

Ainda que a lista seja um ingrediente – de peso – a mais na crise de credibilidade da classe política brasileira, os cientistas são cautelosos em cravar que o caminho está aberto para um outsider – ou seja, um candidato viável totalmente alheio ao universo partidário, ao estilo do agora presidente norte-americano Donald Trump, que venceu em 2016 a primeira eleição que efetivamente disputou na vida.

“Pode vir alguém como Trump, com o mesmo discurso de ‘vou limpar tudo isso aí’. Mas é cedo para falar. Há um que já se apresentou com o Trump brasileiro, [o empresário] Roberto Justus, que comandou um programa igual [ao do atual presidente norte-americano] por aqui. Mas acho que ele tem zero chance”, avalia o norte-americano naturalizado brasileiro Fleischer.

“Trump era o puro não-político. Doria [em 2016], idem. Mas já não seria tão puro assim em 2018”, diz o professor da UnB. “Bolsonaro (PSC-RJ) é deputado há seis mandatos, não pode dizer que não é político. Ele é um outsider só pelo estilo radical, de ex-militar.”

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“Teoricamente, cresce a oportunidade de termos um outsider. Principalmente porque, na campanha, estar ou não na lista [de Fachin] será explorado. E isso será tanto mais forte quanto menos julgamento houver. [Na cabeça do eleitor] A lista já é a lista de culpados”, argumenta Codato.

“Mas a lista tem impacto em quem assiste o Jornal Nacional todo dia, em quem discute política no Facebook. Para boa parte da população, o custo da informação é muito alto. E essas pessoas tendem a assumir que todos os políticos são iguais, então, a escolha é feita, racionalmente, por quem trará mais benefícios concretos, ou seja, creche, escola. O eleitor médio é materialista”, diz o professor da UFPR.

Doria, bem avaliado em seus primeiros dias como prefeito de São Paulo e único tucano de alta plumagem poupado na lista de Fachin, pode preencher tal lacuna. “A divulgação enche o balão dele”, corrobora Fleischer. Em Seul, Coreia do Sul, onde estava na quarta-feira (12), o tucano disse ao jornal Folha de S. Paulo que a lista é “um desgaste para a classe política de forma geral” – ainda que, em seguida, tenha saído em defesa de seu padrinho Alckmin.

Também cotados como candidatos em 2018, Marina Silva e Heloísa Helena (ambas da Rede), Ciro Gomes (PDT) e Luciana Genro (PSOL) passaram incólumes – ao menos por ora – nas investigações da Lava Jato. “Mas todos já foram candidatos, nenhum é novidade”, avalia Fleischer.

No parlamento

A lista da Janot também deve ter impacto nas eleições parlamentares de 2018. “Prevejo uma grande renovação na Câmara. Tradicionalmente, 50% das cadeiras trocam de dono. Ano que vem, deve chegar a 65%, 70% do total. Muitos dos atuais deputados já estão com a ficha bem suja”, projeta Fleischer.

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Codato discorda. “Na eleição proporcional, o impacto se dilui, principalmente pelo voto proporcional aberto, sem lista, em que o eleitor não consegue identificar para onde vai o voto dele.” Tampouco, na opinião do professor da UFPR, deve haver grande impacto na disputa pelo Senado. “É uma eleição majoritária, mas em que conta muito ter um partidos forte e o apoio de prefeitos.”