“Lembre-se: quando se aponta um dedo para alguém, outros três estão virados para você”, diz o ditado popular. O ex-presidente Lula apontou na quarta-feira (13) o indicador para o juiz Sergio Moro durante o depoimento no processo do terreno do Instituto Lula. Censurou Moro por ter usado a palavra politicamente incorreta “denegrir” – tida por muitos como racista (assista ao vídeo). Mas o ex-presidente se esqueceu dos outros dedos voltados para ele. A defesa do próprio Lula já usou pelo menos três vezes a palavra “denegrir” em notas públicas, como é possível verificar na imagem acima.
Na parte final do depoimento, quando afirmava estar sendo “difamado” e “achincalhado” diariamente pela imprensa, Lula quis “ensinar” Moro: “Aliás, um conselho: o senhor usa numa frase a palavra ‘denegrir’ com relação a um advogado da Espanha que fez acusações que o senhor não gostou. Politicamente não é correto falar ‘denegrir’, que o movimento negro não gosta”. O termo é contestado por carregar uma conotação pejorativa sobre o negro, associando-o a algo ruim. Para muitos, é um termo racista.
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Lula se referia à nota de Moro em que ele contestava reportagem publicada em agosto pelo jornal Folha de S.Paulo . Na ocasião, o juiz classificou o texto de “matéria jornalística irresponsável para denegrir-me”. A reportagem trazia acusações de Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht que hoje mora na Espanha, de que um advogado amigo de Moro teria intermediado negociações paralelas dele (Duran) com a força-tarefa da Lava Jato.
O problema do conselho é que...
O problema do conselho de Lula é que ele nem mesmo é seguido por seus advogados. Na página na internet A Verdade de Lula, abastecida pelos defensores do ex-presidente, há o registro de três notas públicas dos advogados do petista em que a palavra “denegrir” foi usada.
“O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido o alvo preferencial e recorrente de acusações infundadas veiculadas pela mídia, com base em vazamentos orquestrados por alguns membros da Força Tarefa da Lava Jato com o único intuito de atacar sua honra e denegrir sua imagem”, diz nota de 24 de março assinada pelos advogados Cristiano Zanin Martins, Valeska T. Zanin Martins e Roberto Teixeira.
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Os outros dois textos que usam o termo “denegrir” não tratam do ex-presidente em si, mas sim de acusações contra um dos filhos dele, Luis Claudio Lula da Silva. As notas contestam duas reportagens da revista IstoÉ. Numa delas, de 4 de junho de 2016, os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira escrevem que Luis Claudio é vítima de “perseguição imposta pelos que desejam denegrir sua imagem e reputação”.
A segunda nota sobre o filho de Lula, com data de 29 de junho de 2016, repete num determinado trecho exatamente os mesmos termos do texto anterior. Essa segunda nota, embora esteja no site A Verdade de Lula, não está assinada por nenhum dos defensores do ex-presidente.
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