O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apareceu pela primeira vez desde sua prisão nesta terça-feira (05), ao prestar depoimento como testemunha de defesa do ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral (PMDB). O petista foi ouvido por videoconferência pelo juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela condução da Lava Jato fluminense.
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Lula chegou a convidar Bretas para um comício no final de sua oitiva. Bretas teria dito ao ex-presidente que já havia participado de um comício, aos 18 anos. “Senhor Luiz Inácio, muito obrigado. Inclusive pela postura que se portou. O senhor é uma figura importante no nosso país, é relevante sua história para todos nós. Para mim, inclusive. Aos 18 anos estava aqui num comício na Avenida Presidente Vargas com um milhão de pessoas e eu estava lá usando o boné e a camiseta com seu nome”, dizia Bretas.
Lula aproveitou a deixa para reafirmar sua pré-candidatura à presidência da República em 2018. “Pode usar agora o boné e a camisa. Quando eu fizer um comício agora vou chamar o senhor para participar”, respondeu o petista.
Lula prestou seu depoimento com uma gravata com as cores do Brasil, a mesma que o petista usou quando o país foi escolhido como sede da Olimpíada de 2016. A oitiva durou cerca de 50 minutos, ao todo, e Lula afirmou que “não acredita que hoje um brasileiro esteja mais em busca da verdade do que ele”.
Olimpíada
Lula depôs como testemunha de defesa do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), condenado a 100 anos de reclusão na Lava Jato e desdobramentos. O ex-presidente depôs no processo em que o peemedebista é acusado de ligação com esquema de compra de votos para eleger o Rio sede da Olimpíada de 2016.
“Lamento que venha uma denúncia de corrupção de compra de delegado [do COI] oito anos depois. Não sei quem fez a denúncia, não quero saber. Não conheço. Como estamos vivendo num momento de denuncismo, em que muita gente…”, disse, antes de ser interrompido pelo juiz Marcelo Bretas. Ao longo do depoimento, o magistrado evitou permitir que Lula fizesse discursos de ataque à Justiça.
O ex-presidente relatou como abordou chefes de Estado e eleitores do comitê. “Eu não sei qual o critério do cidadão que diz que foi trapaça [a escolha do Rio de Janeiro]. Esse cidadão não deve saber nada. O ambiente no COI era de muita seriedade”, declarou o ex-presidente.
O MPF acusa Cabral, o ex-presidente do COB (COmitê Olímpico do Brasil) Carlos Arthur Nuzman e o ex-diretor da entidade Leonardo Gryner de ter pago US$ 2 milhões ao senegalês Lamine Diack. Há a suspeita de que outros membros do COI tenham recebido valores.
O ex-presidente afirmou que era natural o apoio de delegados africanos à candidatura brasileira. “A África apoiar o Brasil era quase uma coisa óbvia. O Brasil era o país mais próximo da África. Eu viajei 34 vezes para África, visitei 29 países, abri 19 embaixadas na África. Isso dava aos africanos quase uma irmandade com Brasil”, afirmou ele.
Condolências
No início da audiência, Bretas prestou condolências ao petista pela morte de sua mulher Marisa, ocorrida em fevereiro de 2017.
Minutos antes do depoimento, Lula procurou demonstrar bom humor. “Estou bonito hein. Essa gravata é da conquista das Olimpíadas”, disse ele, ao se ver no vídeo.
“Carrego ela até ficar desmontada”, disse o ex-presidente sobre a gravata verde, amarela e azul-marinho.
Antes do depoimento gravado, Lula pôde falar com Bretas. O juiz arriscou um chiste neste momento.
“Não fala mal de mim que eu estou ouvindo, hein.”
“Eu sei. Estou com microfone aqui na frente”, disse Lula.
O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) assistiu pessoalmente ao depoimento. Antes do início da audiência, o emedebista pôde conversar rapidamente com o ex-presidente para prestar condolências pela morte de dona Marisa Letícia, em fevereiro do ano passado.
“Estava preso quando dona Marisa faleceu. Presidente, meu abraço ao senhor e meus sentimentos pelo falecimento de dona Marisa. Um abraço meu, da Adriana e dos meus filhos”, disse. Cabral está preso desde novembro de 2016.
“Obrigado, Sérgio”, respondeu o petista.
Lula, condenado na Operação Lava Jato a 12 anos e um mês de prisão no processo do tríplex do Guarujá (SP), disse que “está cansado de mentiras”. “Quero a verdade”, repetiu.
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