A delação premiada dos donos da JBS embaralhou as cartas para a sucessão do presidente Michel Temer (PMDB) e pode antecipar uma disputa que só ocorreria em 2018. Isso porque a própria permanência dele no Planalto é incerta. Incerta como o modo de escolha do novo presidente se o peemedebista cair. Dependendo de qual for a regra do jogo, mudam até mesmo as cartas. Ou melhor, os candidatos. E também os favoritos.
O ex-deputado e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim é tido nos bastidores como um dos favoritos na primeira possibilidade, prevista na Constituição, de eleição indireta. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por exemplo, pode ser carta fora do baralho nesse cenário e forte concorrente em outro, de eleições diretas.
Eleição indireta para suceder Temer já tem 8 “candidatos”; saiba quem são
Há três possibilidades colocadas na mesa para escolher o novo presidente caso Temer caia: eleição indireta realizada por deputados e senadores (como prevê a Constituição); eleição antecipada apenas para presidente; ou antecipação das eleições gerais de 2018 (com a mudança inclusive de todo o Congresso, dos governos estaduais e das Assembleias). As duas últimas hipóteses, que são defendidas por diferentes correntes, exigiriam uma mudança no texto constitucional para serem viabilizadas.
O favorito na eleição indireta
A lista de candidatos numa eleição indireta para presidente, feita pelo Congresso, possivelmente seria muito diferente da relação de concorrentes de uma escolha pelo voto popular. Afinal, contaria menos a popularidade. E mais a capacidade de articulação política e de atender às expectativas de deputados e senadores.
Nos bastidores do Congresso, especula-se que o ex-ministro do STF e ex-deputado Nelson Jobim seria o favorito na escolha de deputados e senadores — um nome que não teria chance na escolha pelo voto popular. Jobim tem ligações com o PMDB (partido do qual foi uma das principais lideranças) e com o PSDB (foi ministro de Fernando Henrique Cardoso e indicado pelo tucano para o Supremo). Também seria um nome aceitável para parte da esquerda. Jobim foi ministro de Lula.
Outros nomes além de Jobim vem sendo cogitados, nos bastidores e publicamente, para a eventualidade de uma eleição indireta à Presidência. Poucos também são colocados como pré-candidatos numa disputa pelo voto. Os “concorrentes” especulados até agora, além de Jobim, são os seguintes: a presidente do STF, Cármen Lúcia; o ministro do Supremo Gilmar Mendes; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB); o senador Alvaro Dias (PV-PR); o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB); o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ); e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD).
Lula mais forte
Lula não tem chance se a eleição for feita pelo Congresso, pois não conta com apoio suficiente de deputados e senadores. Mas volta ao jogo com força numa eleição popular antecipada. Talvez até com mais força do que teria em 2018.
A candidatura do petista no ano que vem era uma grande incógnita diante da possibilidade de ele vir a ser condenado, até lá, em duas instâncias judiciais em algum dos processos da Lava Jato a que responde. Se isso ocorrer, ele estará inelegível, segundo a Lei da Ficha Limpa. Com a antecipação da disputa ao Planalto, dificilmente Lula deixa de se candidatar porque não haverá tempo para que eventualmente sofra condenação no segundo grau da Justiça.
Diretor do Instituto Paraná Pesquisas, especializado em sondagem de opinião pública, Murilo Hidalgo afirma que Lula é favorito para vencer pelo menos o primeiro turno numa eleição antecipada. Na última pesquisa eleitoral, divulgada pelo Instituto Datafolha em 30 de abril, o petista apareceu à frente, com 30% das intenções de voto.
O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), diz que nesse cenário perde força o nome do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) — que estava tentando viabilizar-se para 2018 como o candidato da esquerda na eventualidade de Lula não concorrer.
Monteiro também avalia que a tendência é que a eleição não traga grandes novidades e apenas reproduza a polarização entre o PT e o PSDB. Os tucanos possivelmente teriam apoio de grande parte da atual base de apoio de Temer. E dois nomes surgem como prováveis candidatos da sigla: o governador paulista, Geraldo Alckmin, ou o prefeito de São Paulo, João Doria.
A chance dos pequenos
Hidalgo concorda que, numa eleição antecipada, a tendência é de polarização entre PT e PSDB. Mas ele afirma que, numa disputa só para presidente, candidatos de partidos menores — Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSC) e Alvaro Dias (PV), por exemplo — teriam chances.
Para o diretor do Instituto Paraná Pesquisas, concorrentes de legendas menores enfrentariam obstáculos quase intransponíveis se houver eleições gerais. Numa campanha nessas condições, candidatos a presidente ganham, como cabos eleitorais para pedirem votos nas ruas, todos os concorrentes aos demais cargos que estão filiados a seus partidos ou coligações. Assim, estar numa legenda grande faz muita diferença.
Mas esse “exército” eleitoral se reduz numa disputa restrita ao Planalto. E, consequentemente, também cai a importância de o candidato estar filiado a uma sigla mais estruturada. “A eleição exclusiva para presidente tende a ser mais televisiva”, diz Hidalgo. Monteiro discorda. Ele acredita que as militâncias partidárias não vão estar desmobilizadas nesse caso: “A importância da Presidência é muito grande”.
Os dois, porém, concordam que a tendência é que não haja antecipação das eleições gerais. “Haveria uma ‘limpa’ no Congresso. Acho que uma proposta assim teria muita dificuldade de passar. Eles [deputados e senadores] não vão legislar contra eles próprios”, resume Murilo Hidalgo.
Falta de legitimidade
“Uma eleição indireta resolve o problema de quem vai ser o presidente. Mas não o da falta de legitimidade popular”, diz o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro. Além disso, vai continuar pairando a suspeita sobre um presidente eleito por um Congresso em que cerca de 30% dos parlamentares estão envolvidos de alguma forma na Lava Jato. “A eleição indireta me parece o caminho mais inadequado para solucionar a crise”, diz.
E o “novo”?
O diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, afirma que as sondagens de opinião indicam que a população quer votar no “novo” para presidente – alguém de fora do sistema político tradicional. O problema é que esse nome, até agora, não apareceu. “O povo quer o ‘novo’. Mas quem vai ser o ‘novo’? Vai aparecer esse ‘novo’? E ele vai ter um nome limpo?”, questiona.