A vinda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Curitiba para ser novamente interrogado pelo juiz Sergio Moro, nesta quarta-feira (13), será uma amostra do território hostil que o petista deverá encontrar nas próximas caravanas que fará pelo país.
Lula vai depor na capital paranaense em processo da Lava Jato no qual é réu sobre a compra de um terreno do Instituto Lula, que teria sido adquirido pela Odebrecht com recursos de propina. O petista aproveitará a presença na cidade para participar de um ato em solidariedade a ele próprio organizado pela Frente Brasil Popular, mas também haverá protestos contra ele.
Grupos de apoio à Lava Jato prometem se concentrar na região do Museu Oscar Niemeyer, no bairro Centro Cívico, em ato para pedir a prisão de Lula. Outdoors espalhados pela cidade também dão o tom da hostilidade: “Seja bem-vindo! A República de Curitiba te espera de grades abertas”, diz um deles, com a ilustração do ex-presidente dentro de uma cela. Outro diz: “A República de Curitiba adverte: a lei é para todos!”
Após caravana pelo Nordeste, o ex-presidente planeja novos giros pelo Sul e Sudeste do país antes do final do ano. Uma dessas caravanas irá passar pelo Paraná. A primeira delas deve começar em Minas Gerais, em outubro. O PT chegou a cogitar aproveitar a vinda do ex-presidente nesta quarta para dar o pontapé inicial da caravana pela região Sul por Curitiba, mas a ideia acabou não vingando.
Ainda não há data nem itinerário definido, segundo o ex-deputado. Os dirigentes aguardam decisões da executiva nacional e do estafe de Lula em relação à outra caravana, que deve partir de Minas Gerais e percorrer partes do Sudeste do país.
De acordo com o secretário geral do PT-PR, o ex-deputado federal Ângelo Vanhoni, o PT planeja uma caravana pela Região Sul do país com eventos focados na agricultura familiar. Pela natureza do tema, a “turnê” do ex-presidente deve ocorrer em cidades menores. Vanhoni, entretanto, não descarta passagens pelas capitais para discutir “outros temas, como educação, por exemplo”.
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Popularidade e rejeição
No Nordeste, onde ainda goza de altos índices de popularidade, o ex-presidente foi bem recebido nos nove estados pelos quais passou. As próximas etapas, porém, passarão por territórios hostis ao petismo. Enquanto o ex-presidente e seu partido ainda possuem uma alta popularidade no Nordeste, o Sudeste e, particularmente, o Sul são as regiões onde o PT encontra maior rejeição.
Em levantamento nacional realizado no último mês de julho, o instituto Paraná Pesquisa verificou que Lula possui 41% das intenções de voto no Nordeste para as eleições presidenciais de 2018 – enquanto no Sudeste ele conta com 20% e no Sul com 14%.
Ao longo do ano, o mesmo instituto realizou dez sondagens em nível estadual, e os resultados não foram diferentes. Na Bahia e em Sergipe, únicos estados nordestinos pesquisados pelo instituto, Lula possui 43% e 45% das intenções de voto. No Sul do país, os resultados são bem diferentes: 13% no Paraná, 15% em São Paulo e Santa Catarina, e 18% no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Presidente do PT-PR, Dr. Rosinha admite que o contexto do Sul é bastante diferente do Nordeste. “Mas o objetivo [da caravana] não é só o aplauso. Estamos viajando para ouvir a população e construir um programa de governo para 2018 a partir do que o povo quer”, afirma. “Também queremos dizer que temos condição de reconstruir todos os processos que estão sendo destruídos pelo atual governo.”
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Vanhoni admite que há a possibilidade de situações mais tensas, mas diz que o partido está orientando os militantes para “evitar confrontos” com manifestantes contrários. “Sabemos que a sociedade está muito dividida. Mas queremos discutir e apresentar propostas em um clima de paz”, afirma.
Tendência antiga
Pesquisas recentes refletem tendências que já eram verificadas, pelo menos, desde 2006. Aquela eleição marcou um ponto de virada na trajetória eleitoral regional de Lula e do PT em eleições presidenciais.
Até então, havia pouca diferença entre as votações do petista no Nordeste e no Sul e Sudeste do país. Nas eleições presidenciais 1994 e 1998, quando foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso, o desempenho de Lula foi melhor nos estados do Sul – principalmente no Rio Grande do Sul, onde foi o mais votado em ambas as eleições – do que no resto do país. Já no Nordeste, Lula registrou votações pífias em estados como Piauí e Alagoas, apesar de já ter alta popularidade em Pernambuco, seu estado natal.
Em 2002, o desempenho do petista foi melhor no Sul e Sudeste do que no Nordeste no primeiro turno. No segundo, os dois Brasis votaram igual: cerca de 62% dos eleitores do Sul/Sudeste e do Nordeste elegeram Lula presidente do Brasil pela primeira vez.
Em 2006, entretanto, a situação mudou radicalmente. Enquanto 67% dos eleitores nordestinos votaram em Lula no primeiro turno, apenas 43% dos eleitores do Sudeste e 35% dos eleitores do Sul votaram pela reeleição do petista. No segundo turno, Lula virou o jogo contra Alckmin no Sudeste, mas ainda perdeu no Sul.
As eleições seguintes, com Dilma Rousseff como candidata do PT, seguiram o mesmo padrão – assim como as últimas pesquisas de opinião para as eleições de 2018.
Vários fatores podem explicar essa mudança em 2006. Por um lado, o sucesso de políticas de redistribuição de renda como o Bolsa Família inflou a popularidade do ex-presidente na região mais pobre do país. Além disso, a solidificação de alianças com líderes regionais ao longo do seu primeiro mandato como presidente ajudou no crescimento de Lula e do PT na região.
Por outro lado, a partir de 2005, com as primeiras denúncias do mensalão, a popularidade de Lula e do PT começou a cair no Sul e no Sudeste do país. A partir da era Dilma, a deterioração econômica do país também teve um impacto bastante negativo na popularidade do PT na região – assim como os novos escândalos surgidos a partir da Operação Lava Jato, que começou em 2014.
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