| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A vinda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Curitiba para ser novamente interrogado pelo juiz Sergio Moro, nesta quarta-feira (13), será uma amostra do território hostil que o petista deverá encontrar nas próximas caravanas que fará pelo país.

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Lula vai depor na capital paranaense em processo da Lava Jato no qual é réu sobre a compra de um terreno do Instituto Lula, que teria sido adquirido pela Odebrecht com recursos de propina. O petista aproveitará a presença na cidade para participar de um ato em solidariedade a ele próprio organizado pela Frente Brasil Popular, mas também haverá protestos contra ele.

Grupos de apoio à Lava Jato prometem se concentrar na região do Museu Oscar Niemeyer, no bairro Centro Cívico, em ato para pedir a prisão de Lula. Outdoors espalhados pela cidade também dão o tom da hostilidade: “Seja bem-vindo! A República de Curitiba te espera de grades abertas”, diz um deles, com a ilustração do ex-presidente dentro de uma cela. Outro diz: “A República de Curitiba adverte: a lei é para todos!”

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Após caravana pelo Nordeste, o ex-presidente planeja novos giros pelo Sul e Sudeste do país antes do final do ano. Uma dessas caravanas irá passar pelo Paraná. A primeira delas deve começar em Minas Gerais, em outubro. O PT chegou a cogitar aproveitar a vinda do ex-presidente nesta quarta para dar o pontapé inicial da caravana pela região Sul por Curitiba, mas a ideia acabou não vingando.

Ainda não há data nem itinerário definido, segundo o ex-deputado. Os dirigentes aguardam decisões da executiva nacional e do estafe de Lula em relação à outra caravana, que deve partir de Minas Gerais e percorrer partes do Sudeste do país.

De acordo com o secretário geral do PT-PR, o ex-deputado federal Ângelo Vanhoni, o PT planeja uma caravana pela Região Sul do país com eventos focados na agricultura familiar. Pela natureza do tema, a “turnê” do ex-presidente deve ocorrer em cidades menores. Vanhoni, entretanto, não descarta passagens pelas capitais para discutir “outros temas, como educação, por exemplo”.

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Popularidade e rejeição

No Nordeste, onde ainda goza de altos índices de popularidade, o ex-presidente foi bem recebido nos nove estados pelos quais passou. As próximas etapas, porém, passarão por territórios hostis ao petismo. Enquanto o ex-presidente e seu partido ainda possuem uma alta popularidade no Nordeste, o Sudeste e, particularmente, o Sul são as regiões onde o PT encontra maior rejeição.

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Em levantamento nacional realizado no último mês de julho, o instituto Paraná Pesquisa verificou que Lula possui 41% das intenções de voto no Nordeste para as eleições presidenciais de 2018 – enquanto no Sudeste ele conta com 20% e no Sul com 14%.

Ao longo do ano, o mesmo instituto realizou dez sondagens em nível estadual, e os resultados não foram diferentes. Na Bahia e em Sergipe, únicos estados nordestinos pesquisados pelo instituto, Lula possui 43% e 45% das intenções de voto. No Sul do país, os resultados são bem diferentes: 13% no Paraná, 15% em São Paulo e Santa Catarina, e 18% no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Presidente do PT-PR, Dr. Rosinha admite que o contexto do Sul é bastante diferente do Nordeste. “Mas o objetivo [da caravana] não é só o aplauso. Estamos viajando para ouvir a população e construir um programa de governo para 2018 a partir do que o povo quer”, afirma. “Também queremos dizer que temos condição de reconstruir todos os processos que estão sendo destruídos pelo atual governo.”

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Vanhoni admite que há a possibilidade de situações mais tensas, mas diz que o partido está orientando os militantes para “evitar confrontos” com manifestantes contrários. “Sabemos que a sociedade está muito dividida. Mas queremos discutir e apresentar propostas em um clima de paz”, afirma.

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Tendência antiga

Pesquisas recentes refletem tendências que já eram verificadas, pelo menos, desde 2006. Aquela eleição marcou um ponto de virada na trajetória eleitoral regional de Lula e do PT em eleições presidenciais.

Até então, havia pouca diferença entre as votações do petista no Nordeste e no Sul e Sudeste do país. Nas eleições presidenciais 1994 e 1998, quando foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso, o desempenho de Lula foi melhor nos estados do Sul – principalmente no Rio Grande do Sul, onde foi o mais votado em ambas as eleições – do que no resto do país. Já no Nordeste, Lula registrou votações pífias em estados como Piauí e Alagoas, apesar de já ter alta popularidade em Pernambuco, seu estado natal.

Em 2002, o desempenho do petista foi melhor no Sul e Sudeste do que no Nordeste no primeiro turno. No segundo, os dois Brasis votaram igual: cerca de 62% dos eleitores do Sul/Sudeste e do Nordeste elegeram Lula presidente do Brasil pela primeira vez.

Em 2006, entretanto, a situação mudou radicalmente. Enquanto 67% dos eleitores nordestinos votaram em Lula no primeiro turno, apenas 43% dos eleitores do Sudeste e 35% dos eleitores do Sul votaram pela reeleição do petista. No segundo turno, Lula virou o jogo contra Alckmin no Sudeste, mas ainda perdeu no Sul.

As eleições seguintes, com Dilma Rousseff como candidata do PT, seguiram o mesmo padrão – assim como as últimas pesquisas de opinião para as eleições de 2018.

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Vários fatores podem explicar essa mudança em 2006. Por um lado, o sucesso de políticas de redistribuição de renda como o Bolsa Família inflou a popularidade do ex-presidente na região mais pobre do país. Além disso, a solidificação de alianças com líderes regionais ao longo do seu primeiro mandato como presidente ajudou no crescimento de Lula e do PT na região.

Por outro lado, a partir de 2005, com as primeiras denúncias do mensalão, a popularidade de Lula e do PT começou a cair no Sul e no Sudeste do país. A partir da era Dilma, a deterioração econômica do país também teve um impacto bastante negativo na popularidade do PT na região – assim como os novos escândalos surgidos a partir da Operação Lava Jato, que começou em 2014.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]