O ex-diretor da Petrobras Pedro Duque afirmou, em depoimento nesta sexta-feira (5) ao juiz Sergio Moro, que o ex-presidente Lula comandou o esquema de arrecadação de propina de contratos da estatal para o PT. Duque disse ainda que teve três encontros com Lula (em 2012, 2013 e 2014 – este último já com a Lava Jato em andamento) em que ficou claro que o ex-presidente “tinha pleno conhecimento de tudo”. “Ele tinha o comando [da corrupção na Petrobras].”
VÍDEO: Assista ao trecho do depoimento em que Duque cita Lula
Segundo Duque, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto começou a atuar no esquema de arrecadação de dinheiro com empreiteiras que tinham negócios com a Petrobras em 2007 “porque o ex-presidente Lula determinou”. “O Vaccari era um braço que atuava para o Lula”, disse.
Duque, que pretende fechar um acordo de delação premiada para ter redução de pena, disse que ficou sabendo da participação direta de Lula no esquema quando foi chamado a Brasília, em 2007, para uma reunião com o então ministro Paulo Bernardo. De acordo com o ex-diretor da Petrobras, foi Bernardo quem disse que ele iria conhecer uma pessoa (Vaccari), que seria o responsável a partir de então por arrecadar a verba para o partido – o que já vinha ocorrendo desde pelo menos 2003, quando começou o governo Lula. “Foi, segundo o Paulo Bernardo, o Lula que tinha determinado isso”, disse Duque.
A parte do PT e de Lula
O ex-diretor também detalhou como funcionou, segundo ele, o esquema no caso específico dos contratos da Sete Brasil – empresa constituída pela Petrobras, fundos de pensão e bancos privados para construir sondas de exploração operação do pré-sal. Os contratos com a Sete Brasil foram acertados em 2012, pouco antes de Duque deixar a diretoria da Petrobras, cargo que ocupava desde 2003 – quando começou o governo Lula.
Segundo ele, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, delator da Lava Jato, acertou que os estaleiros que iriam construir sondas para a estatal iriam pagar de 0,9% a 1% do valor dos contratos em propina para o PT. “Na época, eu fiz uma planilha só pra ter uma ideia do que seria [o valor da propina]. Dá quase US$ 200 milhões.”
Duque anda disse que Barusco queria que o partido ficasse com metade desse montante e o restante ficaria com a “casa”: Barusco, ele próprio (Duque), o ex-gerente da Petrobras Eduardo Vaz Musa e o ex-presidente da Sete Brasil João Carlos Ferraz.
Segundo Duque, após a intervenção do ex-ministro Antonio Palocci, ficou acertado que a “casa” ficaria com um terço e o partido com dois terços da propina. No depoimento, ele afirmou ainda que Barusco lhe relatou que os dois terços do PT iam para o próprio partido, para o ex-ministro José Dirceu e para Lula. A parte de Lula seria gerenciada pelo ex-ministro Antonio Palocci. O ex-diretor da Petrobras disse não saber se efetivamente houve pagamentos à sigla e aos petistas, tampouco porque Palocci teria assumido a condução do esquema pela parte de Lula, que até então era feita por Vaccari.
“Ficou muito evidente”
“Eu tive após a saída da Petrobras três encontros com o Lula. Um em 2012, um em 2013 e o último em 2014”, disse Duque na audiência. “Nesse encontro de 2012, pra mim ficou muito evidente [o comprometimento de Lula]. Eu fiquei surpreendido com o conhecimento que ele tinha sobre esse projeto de sondas. (...) Eu fiquei surpreendido porque (...) ficou claro para mim que o nível de informação [que o ex-presidente tinha]. Ele conhecia tudo, e falando esse tipo de coisa na frente do Vaccari e na minha frente. Ele está comandando tudo. O Vaccari era um braço que atuava para o Lula.”
Depois, Duque relatou o encontro de 2013 e de 2014. “Aí teve o segundo encontro. Da mesma maneira, ele [Lula] fez perguntas sobre sondas.
“E por fim, no último encontro, em 2014, já com a Lava Jato em andamento, ele [Lula] me chama em São Paulo, eu tenho uma reunião no hangar da TAM no Aeroporto de Congonhas e ele me pergunta se eu tinha uma conta na Suíça com recebimentos da empresa SBM [empresa holandesa que fabrica e alugava navios-sonda para a Petrobras]”, afirmou Duque.
A participação de Dilma
Nesse trecho do depoimento, Duque cita a ex-presidente Dilma Rousseff. Pela declaração do ex-diretor, a petista também teria conhecimento do esquema de propina. “[Lula] disse que a então presidente Dilma tinha recebido informação que um ex-diretor da Petrobras teria recebido dinheiro, numa conta da Suíça, da SBM. Eu falei: ‘Não, não tenho dinheiro da SBM nenhum, nunca recebi dinheiro da SBM. Aí ele vira pra mim e fala assim: ‘E das sondas? Tem alguma coisa?’. E tinha. Mas eu falei ‘Não, não tem’. Ele falou assim: ‘Presta atenção no que eu vou te dizer. Se tiver alguma coisa, não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no teu nome, entendeu?’. Eu entendi, mas o que eu ia fazer? Eu não tinha mais o que fazer. Aí ele (...) disse que ia conversar com a Dilma que ela estava preocupada com esse assunto e ele queria tranquilizá-la.”
Por fim, Duque concluiu que, pelo grau de interesse e conhecimento de Lula sobre o assunto, ele não apenas sabia da corrupção na Petrobras, mas a comandou. “Nessas três vezes ficou muito claro para mim que ele tinha pleno conhecimento de tudo, ele tinha o comando.”
OUTRO LADO: Depoimento é tentativa de fabricar acusações, diz Lula
Para Lula, o depoimento de Renato Duque é mais uma tentativa de fabricar acusações contra o petista. Em nota divulgada pelo Instituto Lula, o ex-presidente afirma que os investigadores da Lava Jato não conseguiram produzir provas e apelaram para a fabricação de depoimentos mentirosos.
“O desespero dos procuradores aumentou com a aproximação da audiência em que Lula vai, finalmente, apresentar ao juízo a verdade dos fatos”, segundo o comunicado.
A nota afirma que, conforme a defesa de Lula alertou, o adiamento do depoimento do ex-presidente serviu apenas para que se pudesse encaixar no processo os depoimentos fabricados de ex-diretores da OAS e, agora, o de Renato Duque.
“Os três depoentes, que nunca haviam mencionado o ex-presidente Lula ao longo do processo, são pessoas condenadas a mais de 20 anos de prisão, encontrando-se objetivamente coagidas a negociar benefícios penais”, diz o comunicado.
O advogado José Roberto Batochio, que defende Antonio Palocci, afirmou que as declarações de Duque são uma “bala de prata”. “É uma tentativa de alguém que está condenado a muitos anos de diminuir sua pena. É uma verdadeira bala de prata, a última passagem para Berlim”, disse o advogado do ex-ministro, também citado no depoimento do ex-diretor da Petrobras.
A advogada do ex-ministro Paulo Bernardo, Verônica Sterman, afirmou que o depoimento de Duque é “mentiroso”. “Paulo Bernardo nunca esteve com Renato Duque para tratar de qualquer assunto relacionado à Petrobras.”