• Carregando...
 | /
| Foto: /

Em cinco horas de interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz federal Sergio Moro na última quarta-feira (10), poucos pontos referentes ao processo envolvendo o tríplex no Guarujá – parte central da acusação – foram esclarecidos. A maior parte das dúvidas sobre o imóvel pertencer ou não ao ex-presidente continua no ar e o interrogatório trouxe à tona apenas uma guerra de versões entre acusação e defesa.

De um lado, o Ministério Público Federal acusa o ex-presidente de receber benesses da empreiteira OAS através da compra e reforma do tríplex como pagamento de propina por obras da Petrobras. O ex-presidente, porém, foi enfático ao negar que tenha adquirido o imóvel.

Segundo a versão de Lula, sua falecida esposa Marisa Letícia teria comprado uma cota do empreendimento quando ele pertencia à Bancoop – presidida por João Vaccari Neto. A cota daria direito a um apartamento simples no Condomínio Solaris. Depois que a obra foi assumida pela OAS, porém, o casal desistiu de comprar o apartamento. Lula conta que o presidente da OAS, tentou vender ao casal um tríplex, mas Lula e Marisa não tiveram interesse no imóvel.

Em depoimento no mesmo processo, Leo Pinheiro, presidente da OAS, confirmou que o imóvel era destinado ao ex-presidente e sua família. O executivo busca desde o ano passado firmar um acordo de delação premiada com o MPF, mas só agora as negociações voltaram a avançar. Em agosto do ano passado, o procurador-geral da República Rodrigo Janot chegou a suspender o acordo de Pinheiro e outros executivos da OAS.

Lula atacou, inclusive, o uso das delações premiadas como provas na Lava Jato. “Eu entendo e acompanho pela imprensa que pessoas como Leo Pinheiro estão há algum tempo tentando fazer delação. Primeiro ele foi condenado a 23 anos de prisão. Depois se mostram na televisão como é a vida de nababo dos delatores. O cara fala: porra, eu estou condenado a 23 anos e os caras pagaram uma parte estão vivendo essa vida? Então, delatar virou quase o alvará de soltura dessa gente”, disse o ex-presidente.

Lula desafiou o MPF a apresentar provas de que o tríplex realmente pertence a ele. “Nunca solicitei e nunca recebi apartamento. Eu imaginei, ou imagino, que o Ministério Público a hora que for falar, vai apresentar as provas. Ele deve ter pelo menos algum documento que prova o direito jurídico de propriedade para poder dizer que é meu o apartamento”, desafiou Lula.

Reformas

Assim como a propriedade do tríplex, Lula também negou que tenha solicitado reformas no imóvel. A principal explicação para provar que não solicitou nenhuma reforma foi um problema de cartilagem sofrido por Marisa. Um dos pontos da reforma foi a instalação de um elevador no tríplex, segundo o executivo da OAS.

Segundo o relato do ex-presidente, sua esposa tomava remédios todos os dias para aliviar as dores causadas pelo problema e, ainda assim, conseguia subir as escadas do apartamento do casal em São Bernardo do Campo sem a necessidade de um elevador.

“Será que há alguém de bom senso nesse país que imagina que eu iria pedir um elevador em um apartamento que não era meu e deixar de fazer um elevador no prédio que dona Marisa morava há 20 anos, tomando remédio todo santo dia?”, argumentou.

Reuniões

Leo Pinheiro detalhou uma série de reuniões que teve com o ex-presidente, supostamente para tratar do tríplex no Guaujá. Lula não nega os encontros, mas nega que o assunto tenha sido o imóvel. “Posso ter tido outras reuniões, o Leo não tratava de tríplex, o Leo trabalhava de empresa, de economia”, disse Lula. “Eu conversei do tríplex com Leo em outubro de 2013. Só fui visitar o prédio em fevereiro de 2014. Nunca mais se conversou sobre tríplex”, garantiu Lula ao juiz Moro.

Como não havia testemunhas na maior parte das conversas, não é possível determinar com certeza quais foram os assuntos tratados por Pinheiro e Lula nos encontros – o caso vira, assim, uma guerra de versões.

Destruição de Provas

Outro ponto que ficou sem resposta no interrogatório de Lula foi a suposta orientação que o ex-presidente teria dado a Pinheiro para que ele destruísse provas da corrupção na Petrobras. O executivo disse ao juiz Sergio Moro que foi orientado por Lula a destruir as provas em junho de 2014, quatro meses depois da deflagração da Operação Lava Jato pela Polícia Federal. Documentos anexados ao processo mostram que entre junho e novembro de 2014, o empresário esteve cinco vezes em encontros com Lula até ser preso pela primeira vez pela PF.

“Me encontrei com Léo Pinheiro [em 2014] mais de uma vez. Jamais disse pro Léo o que ele falou”, garantiu Lula. Assim como no caso das reuniões sobre o tríplex, não há como saber com certeza se o pedido de destruição de provas realmente aconteceu.

Registro de ligações

No conjunto de provas do processo também consta uma lista com 163 telefonemas entre Léo Pinheiro e Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula e um dos homens mais próximos ao ex-presidente. Os telefonemas foram feitos entre agosto de 2013 até meados de 2014. Para o MPF, as conversas reforçam a tese de que o imóvel no Guarujá pertence ao ex-presidente.

“Os telefonemas com relação ao Leo e ao Paulo Okamotto, os dois são vivos e pode perguntar para eles”, disse Lula, fugindo do assunto.

No final do interrogatório, Lula disse ser vítima de uma “caçada jurídica”. “eu gostaria de dizer que eu estou sendo vítima da maior caçada jurídica que um presidente ou um político brasileiro já teve”, afirmou o ex-presidente em suas considerações finais. “Estou sendo julgado pelo que fiz no governo. Estou sendo julgado pela construção de um powerpoint mentiroso. Aquilo é ilação pura”, disse Lula, sobre a denúncia oferecida pelo MPF.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]