A seu jeito, discreto e sem alarde, Rodrigo Maia (DEM-RJ) começa a se descolar de Michel Temer. A percepção é quase geral. O presidente da Câmara é peça-chave na manutenção do presidente da República no cargo. Principal beneficiado imediato com a queda de Temer – ocupará de forma interina o comando do país –, Maia tem conversado cada vez mais com colegas e já atraiu críticas públicas da oposição, que cobra diretas já e percebeu o movimento do deputado do Democratas.
Esses indicadores são visíveis. Maia tem circulado muito mais pelos corredores do plenário, chega à Câmara pela entrada do cafezinho onde ficam os parlamentares e, nas reuniões com líderes, abandonou até a cabeceira da mesa e se junta no meio de seus pares, como ocorreu essa semana. Ele tem feito reuniões seguidas com os líderes de partido.
Maia não será para Temer o que Temer foi para Dilma Rousseff. Não vai conspirar abertamente contra o titular do cargo, como o peemedebista fez com a petista, quando escreveu carta se dizendo um vice decorativo e atuou arduamente pela queda de Dilma.
“Já acabou para Temer. E o Rodrigo Maia se fortalece a cada dia, e sem precisar fazer muita força. Ele não vai repetir os gestos de Temer. Na época do impeachment de Dilma, meu nome aparecia nos levantamentos como indeciso e ele me ligou pedindo para votar a favor da saída dela. O Rodrigo não vai precisar fazer isso”, disse um líder de partido da base, que preferiu não se identificar.
A escolha de Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) como relator da denúncia contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara passou pelo gabinete de Maia. Pouco antes do anúncio de seu nome, Zveiter esteve com Maia. A Gazeta do Povo presenciou um encontro do deputado fluminense com Beto Mansur (PRB-SP) e revelou ao colega de onde estava vindo.
O presidente da Câmara não vai também trair o presidente e lançar mão de um dos mais de 20 pedidos de impeachment que está em seu poder. Nem vai precisar. A força dos fatos contra Temer e seus auxiliares vão fragilizar ainda mais o ocupante do Palácio do Planalto.
“Brasil não aceitará governo de Vossa Excelência”
O fortalecimento de Maia já incomoda a oposição. Durante a discussão na noite de quarta-feira (5) no plenário, Henrique Fontana (PT-RS) foi direto e já até disse que o país não aceitará um governo Rodrigo Maia.
“A minha avaliação é que Temer cairá nas próximas semanas. E nós temos esse problema de legitimidade na democracia brasileira. Então, eu quero desde já pedir a Vossa Excelência, dizer que o Brasil não aceitará a legitimação de um governo de Vossa Excelência na Presidência da República. O que repactua o nosso país é a eleição direta no momento em que Temer sair do governo”, disse Fontana, que foi vaiado por vários colegas e pessoas presentes nas galerias, outra demonstração de força do presidente da Casa. Nas notas taquigráficas da Câmara, esse momento apareceu assim: “(Manifestações nas galerias: Uuuu)”
Uma vez presidente interino, Maia vai se tornar o natural candidato à Presidência da República na eleição indireta, caso Temer seja afastado de vez do cargo pelo Supremo Tribunal Federal.
Assista à manifestação do deputado Henrique Fontana:
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares