O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), teve o muro de sua casa pichado por manifestantes do Levante Popular da Juventude na manhã deste sábado. O ato contra as privatizações teve a presença de aproximadamente 200 pessoas.
Os manifestantes chegaram à residência de Doria no Jardim Europa, na zona oeste, por volta das 9h30, com cartazes, bandeiras do Brasil e do Movimento Sem-Terra, máscaras do prefeito e tambores. O muro da casa do prefeito foi pichado com a inscrição "SP não está à venda".
O protesto foi marcado por gritos de ordem contra os projetos de desestatização que são uma bandeira da gestão Doria. A dada altura, os manifestantes simularam um leilão de locais como o estádio do Pacaembu e o parque do Ibirapuera, contemplados nos planos do prefeito.
Um rapaz foi detido suspeito de ter feito a pichação no muro da casa, e houve empurra-empurra entre manifestantes e guardas civis metropolitanos que faziam a segurança do local. Os guardas afirmaram que a pichação foi filmada pelo circuito de câmeras da casa do prefeito e que, dessa forma, o autor da ação foi localizado e detido.
"O que fazemos aqui é uma forma popular de protesto e indignação, que busca canalizar a voz de forma coletiva e organizada às milhões e pessoas prejudicadas em São Paulo pelas políticas que cortam Passe Livre dos estudantes, que cortam programas culturais da população periférica, que derrubam imóvel com pessoas dentro na região da Luz", dizia panfleto distribuído pelos manifestantes.
Natali Santiago, porta-voz do movimento, afirmou que o protesto tinha caráter de denúncia do processo de privatização de equipamentos públicos e até "do fim da vida" referência ao plano de concessão de cemitérios de São Paulo.
"Ele não dialoga com a população. Quando ele aparece é fantasiado, numa ação de marketing", disse Santiago.
O movimento foi acompanhado por cerca de 50 policiais militares e civis.
O prefeito informou por meio de sua assessoria de imprensa que se pronunciará mais tarde sobre o ato.
Resposta
Pouco depois do incidente, João Doria comentou o protesto e disse não se intimidar: “Não há nenhum 'ista', nenhum petista, nem ninguém que me ameaça e que me intimida", afirmou.
Doria afirmou que estava em casa no momento da manifestação. “Quero deixar registrado primeiro o meu protesto: residência não é local de manifestação, que façam em frente à prefeitura ou em outros locais, não ameaçando ou pichando muros", disse.
Privatizações
O pacote de privatizações elaborado por Doria é dividido em dois projetos: um foca apenas o Pacaembu e outro, maior, inclui parques, Bilhete Único, terminais de ônibus, entre outros equipamentos.
No início do mês, o segundo projeto foi aprovado em primeira votação na Câmara Municipal de São Paulo. Para ser ratificado, o projeto de lei precisa ser aprovado em segunda votação, que deve ocorrer em agosto, quando a Casa retoma suas atividades.
Segundo o vereador Antonio Donato (PT), o PL representa um "talão de cheques em branco" nas mãos da prefeitura. Já o vereador Reis (PT) afirma que o projeto "apressa" o processo legislativo para a aprovação. "Não tem justificativa. É praticamente a vontade exclusiva do prefeito em conceder sem dizer o porquê e quais serão os ganhos", afirmou.
Entre lucro e desoneração, a prefeitura espera ter receita de R$ 1 bilhão com o pacote.
O plano de desestatização do prefeito lista 55 tópicos. Há 12 considerados prioritários em razão do interesse que desperta no mercado e do bom potencial financeiro para a prefeitura. Três são chamados internamente de "joias da coroa": o Bilhete Único, os terminais de ônibus e o serviço funerário.
Ao repassar a gestão do Bilhete Único para a iniciativa privada, a prefeitura avalia que conseguirá economizar R$ 456 milhões no gerenciamento anual do serviço. A expectativa é a de que bancos ou empresas do mercado financeiro passem a administrar o bilhete, dando-lhe outras funções, como cartão de débito e vale-refeição. O cartão magnético dos transportes é usado atualmente por 5,6 milhões de passageiros, mas há 15 milhões de bilhetes em circulação. Ou seja, trata-se de uma base enorme de clientes, sendo que muitos deles não estão hoje no sistema bancário.
Doria ainda pretende repassar para a iniciativa privada a gestão dos 29 terminais urbanos da cidade neste caso, há lei aprovada, de 2015. As empresas interessadas poderão aumentar a área de construção de cada um deles em até quatro vezes, sendo que os novos pisos passariam a ser explorados como shoppings, escritórios comerciais, hotéis e residências.
O serviço funerário também é considerado um ativo da prefeitura. São 22 cemitérios, um crematório, 18 lojas (venda de caixões) e cinco centros distributivos. Em São Paulo, há cerca de 400 óbitos por dia, sendo que, em média, 180 funerais acabam realizados em outras cidades em razão de deficiências do serviço estatal.
Contra as pichações
Nos primeiros meses de seu mandato, Doria fez dura campanha contra os pichadores, chamando-os de "bandidos urbanos" e "agressores".
Mais de 60 pichadores foram presos no início do mandato do prefeito, que sancionou projeto aprovado pela Câmara que estabeleceu multa de R$ 5.000 por pichação em prédios públicos e privados e de R$ 10 mil no caso de dano a monumentos e bens tombados. Também foi determinada a restrição da venda de tinta spray apenas para maiores de 18 anos.
No entanto, após ter recebido críticas por ordenar que boa parte dos grafites da avenida 23 de Maio fosse coberta por tinta cinza, buscou aproximação com os grafiteiros ao criar o projeto MAR (Museu de Arte de Rua).
Após falar em "erro" em sua ação na 23 de maio, Doria fechou parceria com coletivos de artistas para que pintassem paredões, muros e pilares em áreas públicas ao longo de seu mandato.
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