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Protesto contra Bolsonaro em Brasília. | SERGIO LIMA/AFP
Protesto contra Bolsonaro em Brasília.| Foto: SERGIO LIMA/AFP

Manifestantes contrários ao candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) fizeram protestos em várias cidades do Brasil neste sábado (29). Eles usavam bandeiras, cartazes, camisetas e adereços com a expressão “elenão”, criada por um grupo no Facebook que reúne 3,8 milhões de mulheres. Vários trajados de lilás, cor escolhida pelo movimento. O dia também teve atos a favor do candidato, ainda que em menor número.

As lideranças do movimento “elenão” afirmam que a campanha busca alertar a população sobre as ideias de Bolsonaro, consideradas pelos participantes como “fascistas e machistas”. Pelo menos 60 atos foram agendados em cidades como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Porto Alegre, Vitória, Florianópolis, Belo Horizonte, Salvador, Natal, João Pessoa, Recife, Fortaleza, Aracaju, Palmas, Campo Grande, Manaus, Belém e Cuiabá.

As manifestações ganharam espaço nas redes sociais. Entre os dez assuntos mais comentados no Twitter Brasil, na tarde de sábado, três tinham relação direta com as demonstrações populares – as hashtags #ÉPelaVidaDasMulheres e #TodosContraBolsonaro, além do local na capital paulista onde grande parte dos manifestantes se concentrava, o Largo da Batata.

Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, a criadora do grupo, Ludimilla Teixeira, afirmou que só “acendeu um fósforo no barril de pólvora” com a criação do grupo. Na sexta-feira (28), a cantora Madonna postou uma mensagem contra Bolsonaro e aumentou a visibilidade do movimento nas redes sociais.

Em São Paulo, a manifestação começou no Largo da Batata, no Centro e depois se dirigiu à Avenida Paulista. A Polícia Militar não calculou o número de participantes, que segundo alguns organizadores pode ter chegado a 150 mil pessoas. O ato colocou lado a lado eleitores e militantes do PSOL ao PSDB, passando por Rede, PDT, PCdoB e PSTU.

Todas as candidatas que estão na disputa presidencial, exceto a senadora Ana Amélia (PP-RS), vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), passaram pela manifestação. Estavam presentes a ex-ministra Marina Silva, candidata da Rede, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), vice de Ciro Gomes (PDT), a deputada estadual Manuela d’Avila (PcdoB-RS), vice de Haddad, a líder indígena Sonia Guajajara (PSOL), vice de Guilherme Boulos (PSOL).

Para evitar críticas sobre o uso político do evento, elas optaram por não subir no carro de som, que estava aberto apenas para mulheres. Ao chegar ao Largo da Batata, Marina Silva comentou a declaração de Bolsonaro de que ele não aceitará o resultado da disputa caso não seja eleito e disse que o deputado do PSL “amarelou”.

“Parece um discurso de quem está amarelando diante da crítica da opinião pública. No Norte, quando alguém se porta desse jeito, quando pega a bola e tenta encerrar o jogo com a bola na mão, como se fosse o dono da bola e do jogo, a gente chama isso de amarelar”, disse Marina, que foi acompanhada de seu vice, Eduardo Jorge.

A senadora Kátia Abreu, por sua vez, disse que, apesar da ausência de Ana Amélia, não acredita que a senadora gaúcha apoiaria Bolsonaro no 2° turno. “Conversei com Ana Amélia e ela não me disse isso. Somos amigas. Não creio que uma mulher lúcida como Ana Amélia possa votar no Bolsonaro.”

A senadora também aproveitou para criticar a fala do adversário do PSL de que não reconheceria o resultado das eleições 2018. “Ele só demonstra com isso a sua insanidade. Ele não está no seu juízo perfeito. O atentado também afetou de certa forma seu lado emocional”, afirmou.

A deputada Manuela D’Ávila exaltou o caráter pluripartidário do ato. “Aqui existem pessoas que defendem diversas candidaturas e que se unem justamente na denúncia daqueles que não aceitam a democracia e os direitos da maior parte do povo do Brasil. O povo brasileiro fará nas ruas com a bossa vitória”, afirmou a vice de Haddad.

O Largo da Batata, em São Paulo, ocupado por manifestantes contra Bolsonaro.MIGUEL SCHINCARIOL/AFP

Pouco antes dos discursos do ato no Largo da Batata iniciarem, Rafael Oliveira, 35 anos, pisou em cartazes que mulheres escreviam no chão ao lado do trio elétrico e abriu um cartaz com as hashtags “#Ele sim #Ele sempre”. No verso, estava escrito “não acredite na TV manipuladora”. Depois de ter o cartaz rasgado por um manifestante, Rafael fez o gesto de armas com as mãos. Sob vaias, ele foi conduzido para fora da movimentação por militantes de outros partidos.

No Rio de Janeiro, o protesto começou na Cinelândia, no Centro, e depois se dirigiu à Praça XV. Por volta das 15h25, manifestantes reagiram com aplausos à passagem de uma bandeira com a imagem da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março. A Polícia Militar não calculou o número de participantes. Alguns organizadores estimaram em 50 mil o total de manifestantes.

A Cinelância, no Rio, ocupada por manifestantes.MAURO PIMENTEL/AFP

No protesto, as palavras de ordem contra Bolsonaro uniram os manifestantes. Performances de arte ficaram lado a lado com ativistas e militantes de partidos, entre eles pessoas com camisetas de apoio ao ex-presidente Lula, preso em Curitiba, além de representantes de religiões de matriz africana. “Ele é machista, ele é machista! Meu voto será feminista!”, dizia um dos gritos de ordem entoados de cima do carro de som.

Em Brasília, sob um calor de 35 graus, manifestantes se concentraram na rodoviária do Plano Piloto e depois se encaminharam para a Torre de TV. Pelas estimativas da Polícia Militar, participaram do protesto cerca de 7 mil manifestantes. Os organizadores falam em 30 mil pessoas.

Passeata em Brasília.SERGIO LIMA/AFP

No ato também houve menções políticas como “Lula livre” e “Haddad é Lula”, além de adaptações de músicas como o funk “Din din din” e a música italiana “Bella ciao”, hino da resistência contra o fascismo de Benito Mussolini e das tropas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Em Curitiba, os manifestantes se concentraram na Boca Maldita e depois se dirigiram à Praça Santos Andrade, no Centro. Em meio aos protestos contra o candidato do PSL, também havia faixas favoráveis ao ex-presidente Lula, que cumpre pena de 12 anos e um mês de prisão na capital paranaense desde o início de abril. A manifestação foi pacífica, sem registro de incidentes. O público era formado, em sua maioria, por mulheres, mas também havia homens e crianças.

Manifestantes na Praça Santos Andrade, em Curitiba.Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A Polícia Federal estimou a participação de 5 mil pessoas no ato. A organização, que durante a marcha calculou em pelo menos 10 mil o número de manifestantes, reajustou o cálculo para 50 mil após a chegada à Santos Andrade. O ex-governador e candidato ao Senado Beto Richa (PSDB), que chegou a ficar preso semanas atrás, foi lembrado pelos manifestantes em gritos de ordem.

Em Belo Horizonte, as manifestações ocorreram na Praça Sete. Com direito a trio elétrico, o clima do protesto foi de carnaval. As canções tinham palavras de ordem contra Bolsonaro. “Nem fraquejada, nem do lar, a mulherada tá na rua pra lutar”, dizia uma das músicas. Os gritos de “ele não” também eram entoados com frequência. Mesmo com a organização feita por mulheres, desde a segurança até instrumentistas, muitos homens marcaram presença no protesto.

Em Juiz de Fora (MG), cidade onde ocorreu o atentado contra Bolsonaro no início de setembro, manifestantes foram às ruas no protesto contra o presidenciável do PSL. A Polícia Militar do estado vetou que a passeata “EleNão” incluísse no trajeto o Calçadão da Rua Halfeld, ponto principal do centro, onde ocorreu o atentado contra o deputado no dia 6 e setembro.

Os organizadores do ato, denominado “Todas e todos contra o fascismo”, estimaram em cerca de 30 mil pessoas. A PM não apresentou uma estimativa. Na tarde de sábado ainda ocorreria um comício da ex-presidente Dilma Rousseff na cidade. Ela é candidato ao Senado. Dilma foi julgada pela Justiça Militar em Juiz de Fora, durante o regime militar, e chegou a ficar presa na cidade naquele período.

Exterior

Houve protestos também no exterior, em cidades dos Estados Unidos, Alemanha, França, Suíça, Itália, Portugal e Chile.

Manifestante em Paris.ZAKARIA ABDELKAFI/AFP

Em Genebra, os manifestantes protestaram na frente à sede da Organização das Nações Unidas (ONU) na Europa. Elas levavam cartazes com palavras contrárias ao candidato e pediam o fim do “fascismo”. Em Paris, na França, onde a candidata de extrema-direita Marine Le Pen, da Frente Nacional, tem ganhado força nos últimos anos, pelo menos 250 pessoas se organizaram no centro da cidade para protestar contra o candidato.

Imagens publicadas nas redes sociais com a hashtag “elenão” mostram também manifestações em Milão, na Itália. Em Barcelona, na Espanha, e em Lisboa, em Portugal, também houve protestos. O mesmo ocorreu em Santiago (Chile).

Na Union Square, em Nova York, cerca de 50 pessoas se reuniram para protestar contra o candidato do PSL. A bateria da banda Fogo Azul NYC tocava uma versão de Bella Ciao, música da resistência italiana contra o fascismo do ditador Benito Mussolini e tropas nazistas na Segunda Guerra. A manifestação reunia mulheres, homens e crianças, que seguravam cartazes em português e em inglês com frases contra Bolsonaro.

Protesto em Nova York.DON EMMERT/AFP

Protestos a favor de Bolsonaro

Também houve atos favoráveis a Bolsonaro neste sábado. Em São Paulo, pela manhã, a concentração ocorreu em frente ao estádio do Pacaembu. Um boneco inflável de cerca de 12 metros do general Hamilton Mourão (PRTB), vice do presidenciável, começou um tour pelos principais pontos de São Paulo que deverá durar até o final do período eleitoral. Ele marcará presença na Avenida Paulista, durante manifestação a favor de Bolsonaro.

O boneco do general da reserva já existe há anos e pertence a um grupo de manifestantes que defendem a intervenção militar. Segundo eles, o avatar foi confeccionado devido a declarações pró-intervenção de Mourão quando ainda estava na ativa no Exército, antes de se tornar companheiro de chapa de Bolsonaro.

No Rio de Janeiro, a praia de Copacabana foi palco dos apoiadores do deputado federal. A Polícia Militar não calculou o número de participantes. O ato “Mulheres com Bolsonaro”, convocado como contraponto aos diversos protestos contra a candidatura de Bolsonaro. O público, formado tanto por mulheres quanto por homens, se espalhou por um trecho de cerca de 100 metros. Com uma imagem de Bolsonaro de papelão em tamanho real em cima do carro de som, o ato começou às 14h20 com o Hino Nacional e um Pai Nosso.

Bolsonaro deixou o hospital

O candidato a presidente, que recebeu alta médica neste sábado, deixou o hospital Albert Einstein e chegou ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo, pouco depois das 14h, onde foi recebido por um grupo de cerca de 30 apoiadores com camisetas e bandeiras com o seu rosto estampado. O candidato estava dentro de um carro escoltado por motos e caminhonetes da PM e não parou para fotos ou para falar com o público. Ele entrou por um portão reservado para oficiais.

Manifestantes favoráveis a Bolsonaro na Praia de Cobacabana, no Rio de Janeiro.

CARL DE SOUZA/AFP

Na chegada ao Rio de Janeiro, Bolsonaro deixou o aeroporto Santos Dumont às 17 horas sem cumprimentar apoiadores e escoltado pela Polícia Federal e pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar.

Ao longo da manhã e também no início da tarde apoiadores de Bolsonaro fizeram uma carreata pela zona oeste. Os carros chegaram ao aeroporto no centro com cerca de 100 apoiadores. Parte aguardou no saguão do local, mas o presidenciável deixou o Santos Dumont pela saída da base aérea, em protocolo utilizado por autoridades que visitam o Rio. Os integrantes da carreata foram surpreendidos pela saída lateral do presidenciável.

Bolsonaro deixou o aeroporto Santos Dumont, no Rio, por uma saída lateral.

DANIEL RAMALHO/AFP
Colaboraram Felipe Ribas, especial para a Gazeta do Povo, e Evandro Éboli, correspondente em Brasília
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