Após ficar dois anos e meio preso em regime fechado, o empresário Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro da Odebrecht, deixou a carceragem da Polícia Federal nesta terça-feira (19). Ele continuará preso, mas agora ficará em casa, com uma tornozeleira eletrônica. Odebrecht troca uma cela de 12m² por sua mansão de mais de 3 mil m² no Morumbi, em São Paulo. Tudo isso faz parte do acordo de colaboração premiada do empresário, um dos mais rígidos entre todos os delatores da Lava Jato: ele cumprirá 10 anos de prisão por lavagem de dinheiro e associação criminosa, alternando regimes, do fechado ao aberto.
O empresário deve ir até São Paulo de jatinho, de onde segue para a sua mansão no Morumbi, que fica em um condomínio de segurança máxima em uma área nobre da capital paulista. Pelo acordo, Odebrecht ficará dois anos e meio em prisão domiciliar. A mansão da família tem mais de 3 mil m² – a casa custa entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões, com manutenção mensal estimada em R$ 20 mil. O imóvel tem piscina, campo de futebol e uma academia recém-reformada, para atender às novas necessidades de Odebrecht.
Ele terá direito a duas saídas por ano, com autorização da Justiça. Uma já está definida: ele irá à formatura do ensino superior de uma de suas filhas, em 2018. Enquanto estiver em casa, o empresário poderá receber 15 pessoas previamente cadastradas e autorizadas no processo. Além deles, parentes em até 4º grau (primos e tios-avôs) poderão visitá-lo. Após o cumprimento da pena domiciliar, Odebrecht passará para o regime semiaberto diferenciado, com recolhimento domiciliar noturno e nos fins de semana e feriados. Em dezembro de 2022, o empresário ficará outros dois anos e meio em regime aberto.
Último dia na carceragem
As últimas 24 horas de Marcelo na carceragem da PF em Curitiba foram iguais aos 30 meses de prisão. O empresário acordou um pouco antes do sol nascer, fez exercícios físicos e tomou café da manhã preparado em uma cafeteira localizada no corredor próximo a cela em que divide com o lobista Adir Assad, também acusado de fazer parte do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.
Para garantir a saída do empresário, seus advogados trabalharambastante na segunda-feira (18). Para que saísse nesta terça, prazo previsto em seu acordo de colaboração premiada, ele teria de entregar uma série de documentos solicitados pelo Ministério Público Federal (MPF).
Na última sexta-feira (15), a força-tarefa da Lava Jato cobrou a defesa de Marcelo Odebrecht para que apresentasse "documentos faltantes" – extratos de contas, valores de bens móveis e imóveis, por exemplo – à 13.ª Vara Federal, em Curitiba, responsável pela execução penal do empreiteiro. Esses documentos foram entregues ainda na segunda-feira, pelo advogado Nabor Bulhões, para a juíza Carolina Lebbos, responsável por acompanhar a execução da pena de Odebrecht.
A defesa ficou no local por cerca de 20 minutos. Na saída, o advogado Nabor Bulhões apontou os "dois maiores objetivos" do empreiteiro. "Ele está preocupado com dois pontos: primeiro, voltar para a família, segundo, ser efetivo na colaboração dele como ele vem sendo efetivo na colaboração com a Justiça. São os dois maiores objetivos dele", afirmou.
Retorno conturbado
De acordo com o advogado de Marcelo, o empresário se preocupa em voltar para a família e ser efetivo na colaboração com a Justiça. Mas interlocutores afirmam que as relações com a família foram afetadas durante esse período na prisão, e que Odebrecht se vê como injustiçado e acredita que outros delatores foram beneficiados nas negociações.
O herdeiro da família Odebrecht terá de enfrentar as arestas criadas com seus parentes mais próximos ao longo do processo de prisão e de negociação e assinatura da colaboração premiada. Descontente com sua pena e com a decisão do pai, Emílio Odebrecht, em aceitar os termos do acordo, Marcelo rompeu com o patriarca do clã, com a irmã e o cunhado, o diretor jurídico da empresa Maurício Ferro.
A participação da Odebrecht na Lava Jato
Marcelo Odebrecht foi preso preventivamente pela Lava Jato em junho de 2015, na 14ª fase da operação. Em março de 2016, foi condenado pelo juiz Sergio Moro a 19 anos e 4 meses de prisão. Com a colaboração premiada, sua pena caiu para dez anos, sendo dois anos e meio em regime fechado. Foi a sentença mais dura entre os delatores.
A Odebrecht foi uma das principais empresas envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Lava Jato. A empreiteira é apontada como a que distribuiu mais propina.
Em maio, Moro homologou o acordo de leniência da Odebrecht, que prevê uma multa de cerca de R$ 3,8 bilhões em 23 parcelas anuais, com correção da taxa Selic – total estimado em R$ 8,5 bilhões.
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