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| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

O empresário Marcelo Odebrecht deixou a prisão nesta terça (19), por volta das 10 horas. Ele se dirigiu à Justiça Federal, onde vai colocar uma tornozeleira eletrônica e depois seguir para prisão domiciliar, em uma mansão em São Paulo. Após ficar dois anos e meio detido na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, Odebrecht sai da cadeia com três ideias fixas, segundo interlocutores dele: acha que faltam delatores no acordo que o grupo assinou, avalia que seu pai, Emilio Odebrecht, e aliados foram beneficiados nas negociações e está convencido de que foi injustiçado.

Ele deve viajar de jato para São Paulo, de onde seguirá para sua casa num condomínio de luxo no Morumbi. Lá, ficará dois anos e meio em prisão domiciliar, usando tornozeleira.

Marcelo não se conforma, ainda de acordo com esses interlocutores, que o ex-presidente do grupo Newton de Souza e que o vice-presidente jurídico, Maurício Ferro, não tenham sido incluídos no rol de 78 delatores da empresa.

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Souza e Ferro, que é cunhado de Marcelo, são ligados a Emilio, hoje presidente do conselho de administração do grupo. Marcelo brigou com os três, além de ter se indisposto com sua irmã, a advogada Mônica Bahia Odebrecht (casada com Ferro), e até com a mãe.

Segundo relatos de Marcelo, Souza sabia que a empresa recorria a propina e doações via caixa dois para corromper governos com quem fazia negócios.

Ainda segundo pessoas que estiveram com ele na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, Marcelo acusa Souza de ter se beneficiado com bônus pagos fora do Brasil por meio de caixa dois, o que seria crime fiscal.

Outros delatores que receberam bônus fora do Brasil tiveram que devolver o dinheiro, como estabelecia uma das cláusulas do acordo de delação que assinaram com a Procuradoria Geral da República.

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Marcelo tem dito que não é justo que os outros tenham devolvido esses valores e Souza, não.

Souza assumiu a presidência da Odebrecht S/A em dezembro de 2015, quando Marcelo renunciou ao cargo após seis meses de prisão, e deixou o posto em maio deste ano. Foi alçado à vice-presidência do conselho de administração da companhia.

Com a decisão de Emilio de deixar a presidência do conselho em abril de 2018, e não mais em dezembro do ano que vem, como estava previsto, Souza é um dos mais cotados para substituí-lo.

Acusações contra o cunhado

Marcelo tem feito acusações pesadas ao cunhado. Segundo ele, Ferro participou de negociações para tentar parar a Operação Lava Jato e atuou em negociatas com ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com o objetivo de obter decisões favoráveis para a Odebrecht.

Num depoimento que prestou ao juiz federal Sergio Moro em abril deste ano, Marcelo contou que havia procurado a então presidente, Dilma Rousseff, para tratar de questões da Lava Jato no início de 2015. Dilma teria indicado o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para ser o interlocutor da empresa.

Na mesma audiência, Marcelo disse que Ferro procurou o advogado Márcio Thomaz Bastos (1935-2014) para que ele ajudasse a Odebrecht a obter informações sigilosas sobre a Lava Jato com o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Dilma, Mercadante e Cardozo sempre negaram que tenham atuado para ajudar a empresa.

O plano da Odebrecht, segundo Marcelo, era usar o fato de um aparelho que gravava conversas ter sido encontrado na cela do doleiro Alberto Youssef para anular a operação na Justiça. A estratégia deu errado. O aparelho encontrado na cela de Youssef estava inativo, segundo perícia da PF.

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Interlocutores de Marcelo dizem que ele não tem sentimento de vingança, mas que considera o acordo injusto para ele e outros executivos.

Não se sabe bem o que ele fará com as informações sigilosas que detém sobre delatores, mas há um terreno fértil dentro da Odebrecht para qualquer pregação que contenha o binômio injustiça e a ideia de que faltam outros delatores no acordo.

Muito delatores sentem-se pressionados para confirmar crimes que eles julgam não terem cometido. Eles também se sentem abandonados pela companhia. Segundo três delatores ouvidos pela reportagem, há risco de que eventuais revelações de Marcelo funcionem como colocar gasolina na fogueira.

Outro lado

A Odebrecht não quis comentar as questões levantadas pela reportagem da “Folha de S.Paulo”. Em outras ocasiões, a empresa disse que fez uma colaboração robusta e sem omissões e que irá continuar a colaborar com a Justiça.

Executivo terá dificuldade em retomar influência na Odebrecht

Não será fácil para Marcelo Odebrecht retomar o poder de influência no grupo. Não apenas porque a sua pena o proíbe de exercer influência nas decisões internas, mas porque muitas foram as mudanças durante a sua ausência.

O processo de decisão é outro. Desde a sua prisão e a confissão organizada dos executivos, um dos projetos que mais tomaram tempo e dedicação interna na Odebrecht foi a criação de mecanismos que submetam a organização a escrutínio permanente. É muito mais complicado manipular informações.

Pesa também o fato de Marcelo não ter mais amigos lá dentro com o mesmo poder de antes. Os delatores que ainda trabalham no grupo ficaram estigmatizados. Estão isoladas e são vigiados por monitores externos.

A situação financeira, do grupo também é vista como um limitador. Uma fonte ligada à empresa conta que a interpretação interna é que a fase mais crítica passou, mas ainda é delicada. Se Marcelo encampasse uma disputa entre acionistas para ampliar seu poder de influência no conselho poderia prejudicar a recuperação – e pior, atrapalhar o desfecho do acordo de leniência, que vai bem e pode ser concluído em janeiro.

O grupo começou a respirar após a venda de alguns negócios. A Odebrecht TransPort, por exemplo, assinou com a chinesa HNA contrato de venda de suas ações na concessionária RioGaleão, que administra o Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio. O fundo canadense Brookfield, em conjunto com outros investidores, ficou com os 70% que pertenciam ao grupo na Odebrecht Ambiental, da área de concessões de saneamento.

No entanto, a construtora, o coração do grupo, ainda está bem “machucada”, para usar um termo de pessoas próximas a empresa. Tem dificuldade para recompor a carteira de obras, não apenas porque a crise econômica minguou a oferte de projetos, mas porque o seu envolvimento na Lava Jato foi mais profundo que o de outras empreiteiras e ela encontra imensa resistência dos bancos para conseguir a liberação de novos financiamentos.

Existe um entendimento que a entrada de um sócio pode aliviar as desconfianças e a empresa busca um parceiro.

Porém, ainda que feche a leniência com a CGU e consiga um novo sócio, até restabelecer uma carteira de obras e um fluxo de caixa que pareça convincente para os bancos, vai levar tempo. Recuperaria o fluxo de caixa apenas em 2019, na visão de um executivo que deixou o grupo.

Existem também controvérsias em relação ao futuro da petroquímica Braskem, o bem mais precioso do grupo. Suas ações foram dadas em garantia à renegociação de dívidas com os bancos e eles ainda podem ser duros.

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