Ter bom trânsito com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), está valendo mais em Brasília. Nos bastidores dos ministérios, há aliados comemorando e intensificando a proximidade com o atual presidente da Câmara com seu chefe.
A estratégia é vista nesse momento como uma boia de salvação, segundo apurou a reportagem. Maia tem conversado cada vez mais com colegas e já atraiu críticas públicas da oposição, que cobra diretas já e percebeu o movimento do deputado, que não deve ajudar a passar a PEC das Diretas. Ele tem circulado e trocado muitas conversas reservadas com seus pares, arregimentando nomes.
PSDB com Maia e ala liberal econômica do PSB migrando para o DEM
A debandada de até 14 parlamentares do PSB para o DEM é um desses movimentos e uma simbiose favorável para os dois lados envolvidos. Maia tem conversado com o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, e seu pai, o senador Fernando Bezerra (PSB-PE), para migrarem ao DEM e levarem com eles a ala que já não mais se alinha aos socialistas do PSB, que está na oposição. As tratativas de Maia com os dissidentes do PSB estão avançadas e a migração é dada como certa. Ela pode acontecer em setembro, quando o PSB tem reuniões nacionais e pode radicalizar sua posição. Ou antes, com o afastamento de Michel Temer.
O carioca não está tramando pela queda de Temer abertamente, mas se prepara para o que pode ocorrer. Ontem, teria anunciado ao PSDB que manteria a equipe econômica, um alívio para os tucanos, que querem as reformas pedidas pelo setor produtivo. A escolha de Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) relator da denúncia contra Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara passou pelo gabinete de Maia. Pouco antes do anúncio de seu nome, Zveiter esteve com Maia. A Gazeta do Povo presenciou um encontro dele com Beto Mansur (PRB-SP) e revelou ao colega de onde estava vindo.
Eleições indiretas
Maia chegaria à Presidência mesmo sem eleições indiretas: se o plenário da Câmara aceitar a denúncia e a remeter para julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), Maia assume a presidência durante o período de afastamento de Temer, lá permanecendo até que sejam convocadas eleições ou iniciado o processo de eleição indireta. Esse afastamento pode durar até seis meses, respeitando os prazos de defesa.
E mesmo no cenário de que se chegue a uma eleição indireta, Maia também foi o único nome que resistiu aos testes da opinião pública, após nomes como a ministra do STF Cármen Lúcia, o ex-ministro Nelson Jobim, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e outros declararem que não estavam a fim. O fim da força-tarefa da Lava Jato pode ajudar em todo esse cenário, com uma pisada no freio das investigações, delações, devassas, e espaço para os citados em delações respirarem (Maia aparece na delação da Odebrecht como “Botafogo”).
Governo corre com o prazo
Após pressão do Palácio do Planalto, a base aliada garantiu cronograma de votação da denúncia com o presidente. O feito é bastante raro no Câmara: a abertura de uma sessão numa sexta-feira, dia que tradicionalmente o plenário da Casa fica vazio.
Para o governo, a abertura da sessão é importante porque conta para o prazo de conclusão da votação da denúncia contra Temer na CCJ. O Palácio do Planalto tem pressa para barrar a acusação feita contra Temer. A comissão tem o prazo de cinco sessões de plenário para decidir sobre a aceitação ou não da denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
O governo escalou os aliados por meio de seus líderes e conseguiu garantir a contagem da segunda sessão das cinco de prazo para que o parecer sobre a denúncia seja entregue pelo relator. Zveiter sinalizou que vai apresentar seu relatório já na segunda-feira (11) e será iniciada a discussão do tema. Caso esse processo atrase, o presidente da comissão, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), já afirmou que o prazo pode ser ampliado caso os debates não sejam finalizados a tempo.
Para que uma sessão seja iniciada, é necessário que, no mínimo, 51 dos 513 deputados registrem presença. Na semana passada, por exemplo, apenas o deputado presidiário Celso Jacob (PMDB-RJ), esteve na Casa e a sessão foi cancelada. O painel do plenário aponta que às 10h30 desta sexta-feira (7) 73 parlamentares estão na Casa e a Câmara.
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