“PMs são presos após morte de cinco jovens no subúrbio do Rio”. “Policial confunde macaco hidráulico com arma e mata dois jovens”. “PMs atiram contra carro e matam estudante”. “Justiça torna réus dois PMs pela morte da menina Maria Eduarda”.
Todos esses casos estão na conta do 41º Batalhão da Polícia Militar, ao qual a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), morta a tiros na noite de quarta-feira (14), vinha fazendo críticas públicas na última semana.
Em nenhuma outra região do Rio a polícia mata e atira mais. Cálculo feito pela Folha de S.Paulo com base em informações do Instituto de Segurança Pública do Estado mostram que a unidade está no topo do ranking de homicídios em supostos confrontos com a polícia.
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Foram 567 desde 2011, quando os números referentes ao batalhão começaram a ser compilados. Criado em 2010 pelo então secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame em 2011, o batalhão é responsável pelos bairros de Irajá, Pavuna, Vicente de Carvalho e Costa Barros, onde estão os complexos de favelas da Pedreira e Chapadão, dois dos mais violentos da cidade, cada um controlado por uma facção.
Em janeiro, 41% das mortes violentas naquela região foram de autoria dos policiais do 41º BPM. Desde que foi fundado, responde sozinho entre os 41 batalhões existentes por 12% de todas as mortes em decorrência de oposição à intervenção policial.
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Entidades de direitos humanos denunciam há anos o comportamento dos policiais desse batalhão. Marielle somava-se a esse coro, mas não se dedicava exclusivamente a isso. No local do crime, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), aliado de Marielle, disse que não acredita que as denúncias feitas por ela tenham relação com sua morte. “Muitos fizeram denúncias, inclusive ela, que é o que cabia a ela como figura pública, mas foram denúncias genéricas, e não contra um grupo específico.”
Numa rede social, Marielle publicou um texto criticando abusos do batalhão contra moradores da favela de Acari, na zona norte. No último sábado (10), ativistas da favela denunciaram, em redes sociais, que policiais militares do 41° BPM invadiram casas e fotografaram documentos, nos moldes do que as Forças Armadas vinham fazendo nas favelas de Vila Kennedy e Vila Aliança, na zona oeste.
Marielle ecoou as denúncias. “Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”, dizia um trecho da publicação da vereadora.
A Polícia Militar confirma que esteve na favela no último sábado. Diz que foi recebida a tiros e apreendeu drogas. A PM não respondeu sobre as mortes de dois jovens citadas por Marielle. Procurados, nem o comandante do batalhão e nem a Polícia Militar comentaram o histórico de homicídios em supostos confrontos com a polícia, tampouco as denúncias que Marielle havia feito recentemente.
Um dia antes de ser assassinada, a vereadora postou um desabafo em uma rede social ao comentar a morte de Matheus Melo, 23. O jovem foi baleado na segunda (12) quando saía da favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio.
A família acusa policiais pela morte do rapaz. Matheus era evangélico e trabalhava na Fundação Oswaldo Cruz. Na rede social, a vereadora postou: “Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”, perguntou a vereadora.