O ministro Carlos Marun negou qualquer envolvimento com as denúncias sobre fraudes no Ministério do Trabalho.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MDB-MS), um dos principais articuladores políticos do governo Michel Temer, é suspeito de envolvimento com a suposta organização criminosa que, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público, fraudava registros sindicais no Ministério do Trabalho.

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A PF pediu autorização para cumprir mandados de busca e apreensão em endereços de Marun e de sua chefe de gabinete, Vivianne de Melo, mas a Procuradoria-Geral da República (PGR) entendeu que, por ora, não havia provas de que o emedebista integra a organização criminosa. Marun negou qualquer envolvimento com as denúncias sobre fraudes no Ministério do Trabalho.

No despacho de sexta-feira (29) em que afastou do cargo o ministro do Trabalho, Helton Yomura, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator das investigações da Operação Registro Espúrio, concordou com o posicionamento da PGR, mas destacou trechos que reforçam suspeitas sobre Marun.

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Em suas manifestações ao Supremo, a PF e a PGR apontaram que materiais apreendidos anteriormente pela Registro Espúrio, como mensagens de celular, mostram que Marun “se vale de sua força política para solicitar concessões de registros das entidades [sindicais] de seu interesse”.

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Há conversas entre a chefe de gabinete de Marun, Vivianne, e Renato Araújo Júnior, ex-coordenador de Registro Sindical do Ministério do Trabalho atualmente preso, que, para os investigadores, evidenciam as demandas do ministro da Secretaria de Governo dentro do Ministério do Trabalho.

Em relatório, os investigadores registraram que, em 23 de maio deste ano, Júlio de Souza Bernardo, o Júlio Canelinha, chefe de gabinete do ministro do Trabalho preso nesta quinta (5), enviou uma mensagem a Araújo Júnior na qual pediu que um despacho no Diário Oficial da União fosse revertido para atender a um pleito de Marun. A publicação contrariava interesses do ministro.

O despacho retirava o termo “cooperativas” do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Cooperativas de Carnes de Derivados, Indústrias da Alimentação de São Gabriel do Oeste (Sintrael), em Mato Grosso do Sul, base eleitoral do ministro. Também excluía a cidade de São Gabriel da base territorial do Sindicato Estadual dos Trabalhadores Celetistas nas Cooperativas no Mato Grosso do Sul (Sintracoop-MS).

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Conforme mensagens do ministro Yomura com auxiliares, interceptadas na operação, a decisão publicada no Diário Oficial era para atender aos interesses do Solidariedade em Santa Catarina, mas desagradou a Marun. A PF registrou que, em mensagem de 25 de maio de 2018, Júlio Canelinha retornou ao assunto das demandas repassadas por Marun, pedindo informações sobre o que já havia sido resolvido.

“Percebe-se que, pela insistência, Júlio Canelinha está sendo cobrado para dar celeridade nos processos de interesse do ministro Marun, pressionando Renato a priorizar tais processos”, diz o relatório. “Os interesses políticos norteiam os trabalhos da Secretaria das Relações do Trabalho, contaminando todo o processo de concessão de registros sindicais, com fins de recebimento de vantagens, sejam elas políticas ou econômicas”, acrescentou.

Marun se diz vítima de ‘conspiração asquerosa’

Em entrevista no Palácio do Planalto no final da tarde desta quinta, o ministro Carlos Marun se disse vítima de uma “conspiração asquerosa” por ser suspeito de envolvimento com organização criminosa que atuou para fraudar registros sindicais no Ministério do Trabalho.

Irritado, o ministro negou que as suspeitas contra ele tenham fundamento. Ele se diz alvo de retaliação por ter feito críticas a órgãos de investigação. “Fui alertado e também sabia que poderia ser alvo de retaliações, só não sabia que viria de forma tão covarde e pusilânime.”

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Marun cobrou do Congresso a aprovação do projeto de lei que trata do abuso de autoridade. Ele disse ainda que apresentará na próxima segunda-feira (9) requerimentos nas corregedorias da Polícia Federal e do Ministério Público Federal para apurar o vazamento de informações sobre o caso.

“Vou apresentar uma queixa-crime em relação a este vazamento direcionado, seletivo, canalha, vagabundo que só tem esse objetivo: que eu passe pelo constrangimento que estou passando”, afirmou.

O ministro negou que tenha qualquer envolvimento com o caso que está sendo apurado no Ministério do Trabalho. Ele diz que houve apenas conversas entre seus assessores e representantes da pasta, o que ele classificou como “atos de rotina”.

“Desde que assumi a Secretaria de Governo eu nunca pus os pés no Ministério do Trabalho. Nunca conversei com nenhum servidor”, afirmou. De acordo com ele, foi enviado um assessor para conversar com servidores do Trabalho a pedido de sindicalistas de seu estado, Mato Grosso do Sul.

“Recebi sindicalistas de Mato Grosso do Sul que tinham várias demandas em relação à sua atividade sindical. O que fiz? Solicitei a uma assessora que acompanhasse esses sindicalistas no Ministério de Trabalho. Coisa de rotina que faço diariamente em relação a várias questões”, completou.

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