O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, nega que esteja em campanha, mas está percorrendo o itinerário de pré-candidato – e começou esse caminho buscando se aproximar de eleitores cristãos. Esse é uma parcela do eleitorado que alguns partidos avaliam ser crescente e que está à procura de candidatos fortes na próxima eleição. Para o PSD, Meirelles se encaixa nesse perfil, de homem que acredita em Deus e na família, além de atender aos anseios do mercado financeiro.
“Estamos vivendo um conflito político daquilo que a sociedade pensa. Ainda se está em busca de um perfil (de político) que não está na praça. Estamos buscando e é hora de aparecerem os candidatos”, afirmou Marcos Montes (MG), líder do PSD na Câmara dos Deputados. “Enxergamos Meirelles como o comandante da retomada econômica. Imaginamos que pode ser um perfil que ainda não foi descoberto pela sociedade, com sua gestão, compromisso e uma forma diferente e de fazer política. Vejo nele um candidato que pode ser o que a sociedade está procurando”, completou.
Ao mesmo tempo que o PSD tenta colocar no debate político o nome do ministro (que é filiado ao partido desde 2011), Meirelles também passou a se permitir aparecer mais e escolheu os cristãos para sua primeira mensagem pública após o partido convidá-lo a ser candidato. Nesta semana, o ministro gravou um vídeo pedindo “oração” pela melhora da economia.
“Estamos juntos, todos, trabalhando dentro dos princípios da ética, da integridade e do trabalho duro. Porque eu me sinto muito à vontade para conversar com vocês porque nós temos os mesmos valores, da lei de Deus e dos homens, visando crescer e colaborar com o país. Portanto, Preciso da oração de todos e estaremos aqui trabalhando e conto com vocês”, afirmou Meirelles no vídeo, no qual incorporava um tom político, usando até os maneirismos e gestuais de mão adotados pelos candidatos.
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O Ministério da Fazenda afirmou, em nota, que o vídeo foi gravado porque Meirelles não poderia participar de um evento de pastores evangélicos e enviou a mensagem para ser transmitida no evento, de forma amadora. “Não sabemos quem editou o material que está circulando em grupos de WhatsApp, que incluiu algumas imagens ao final da fala do ministro”, informou a pasta.
Na semana passada, a bancada do PSD na Câmara divulgou que havia feito convite a Meirelles para ser candidato da legenda em 2018, para Presidente da República. O ministro negou ser pré-candidato, em sua conta no Twitter. Porém, menos de uma semana depois um vídeo gravado espontaneamente pelo ministro foi divulgado, no qual pedia orações para a geração de empregos e dizia ter os mesmos valores que os cristãos.
Risco de fogo amigo e reconhecimento pelo governo do potencial eleitoral
O surgimento e ascensão da pré-candidatura de Meirelles pode também atrapalhar o ministro e as ações do governo de Michel Temer na pauta econômica, criando desafetos entre alas do governo que passarão a ver Meirelles como um concorrente e a mandar fogo amigo contra as pautas do Ministério da Fazenda.
Dentro do governo Temer, a avaliação é que Meirelles não deve ser candidato, apesar da movimentação. Essas recentes falas e o vídeo foram apenas acenos ao público, mas não configuram uma real intenção em lançar uma candidatura, avaliam interlocutores de Temer.
Porém, parlamentar do PMDB próximo ao Palácio do Planalto afirma que contar com um candidato “como Meirelles” nas eleições presidenciais de 2018 pode ser uma boa opção, atendendo a uma camada do eleitorado que preza candidatos que defendam pautas cristãs. O mesmo parlamentar destacou que o PMDB não deve lançar candidato próprio em 2018, mas evitou dizer se o partido apoiaria Meirelles.
Pouco carismático, Meirelles precisará de investimento político
O ministro nutre ambições políticas. Ele já disputou e venceu eleição para deputado federal por Goiás, em 2002, sendo eleito com o maior número de votos no estado. Mas não chegou a assumir o cargo, pois foi nomeado presidente do Banco Central pelo então presidente Lula.
Para disputar algum cargo, não bastará o discurso de que é uma espécie de novato na política e de que tem o apoio do mercado financeiro. O cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, avalia que Meirelles já tem apelo político junto a dois nichos de eleitor: o mercado financeiro e a classe média que confia em candidatos que defendem valores da família e cristãos. Porém, ele precisará desenvolver seu carisma se quiser se candidatar.
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“Ele sempre flertou com a possibilidade de ser presidente da República. Mas tem carisma zero. Porém, num contexto em que a classe política nunca esteve num ponto tão difícil, ele pode ser sim uma novidade, um tecnocrata, para uma parcela significativa do eleitorado”, disse o analista.
O PSD também enxerga que é preciso polir o político Meirelles se ele de fato quiser se candidatar: “Ele precisa ter um verniz político nas ações dele, precisa transitar nesse campo politico. Estamos oferecendo ao partido e à sociedade essa figura de gestor que se encaixa no que o partido quer”, afirmou Montes. “Temos de colocá-lo como o gestor. As pessoas precisam conhecer melhor ele”, disse o líder do PSD na Câmara.
O discurso para o eleitorado cristão pode ser um caminho bom a ser traçado por Meirelles, avalia Montes, e já que está alinhado com os princípios de Meirelles. “O partido vai pegando a característica de vida dele. Por essa participação na economia, ele já é bem avaliado, mas a figura pessoal dele vai se mostrando e ele sendo conhecido. Ele tem essa religiosidade. Mas isso é com o tempo. O vídeo (aos pastores) é uma questão clara de que ele tem princípios morais e éticos que a sociedade está precisando encontrar. E ele preenche esse lado. Tem esses quesitos éticos”, afirmou o deputado.
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