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 | Reprodução/Facebook; Mauro Pimentel/AFP
| Foto: Reprodução/Facebook; Mauro Pimentel/AFP

A influência do filósofo Olavo de Carvalho no governo de Jair Bolsonaro é inegável. Ele indicou ministros, inspira funcionários de segundo e terceiro escalão, e dita indiretamente políticas em áreas como relações exteriores, educação e família. Junto aos militares e aos políticos do Democratas, o ‘olavismo’ forma o tripé de sustentação do governo.

Mas, acreditando fazer o bem, ele não passa um dia sem fustigar setores do próprio governo, com acidez nas críticas e ataques diretos em perfil no Twitter. Um de seus alvos prediletos é o vice-presidente Hamilton Mourão, que caiu em desgraça junto ao guru do bolsonarismo logo no início do governo.

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A ponto de o filósofo radicado nos EUA decretar na semana passada: “o maior erro da minha vida de eleitor foi apoiar o general Mourão. Não cessarei de pedir desculpas por essa burrada”. Olavo crê que o general atua contra o presidente Bolsonaro, mas não percebe que sua metralhadora virtual ajuda a ‘sangrar’ um governo com apenas dois meses de gestão.

Mais de 100 postagens em menos de duas horas

Na tarde desta segunda-feira (11), Olavo fez mais de 100 postagens em menos de duas horas em que desferiu críticas a adversários dos mais variados perfis.

A sequência de mensagens começou às 16h05, com uma única palavra: “teste”. A partir dali, os tuítes alvejaram a imprensa (”Alguém ainda não percebeu que o pessoal da mídia e do show biz tem ÓDIO IMPLACÁVEL ao povo brasileiro?”), a intelectualidade nacional (”Nenhum professor universitário deste país – NENHUM, ABSOLUTAMENTE NENHUM – está qualificado para debater comigo na base do um-contra-um”), os militares (”Generais, parem de querer paparicar a mídia criminosa. Respeitem o presidente e o povo, cumpram a sua missão”) e, claro, o vice-presidente (“O Mourão jamais correu o menor risco ou sofreu o menor prejuízo por defender em público a honra das Forças Armadas, embora vivesse do soldo que elas lhe pagavam”), entre outros.

Em meio a uma crise interna no Ministério da Educação, que opôs militares e ‘olavettes’ – como o próprio filósofo escreve –, Olavo repetiu que não pediu cargos a seus alunos no governo federal.

Bolsonaro é um dos poucos poupados por Olavo. O filósofo disse acreditar que exista uma conspiração contra o presidente da República – “mídia, crime organizado, Lumpenproletariado, políticos ladrões e empresários corruptos, aliados contra o Bolsonaro” – e voltou a defender que Bolsonaro intensifique a comunicação direta com a população.

A postura de Olavo indica que está distante uma trégua entre ele e outros segmentos do governo, em especial o dos militares. O episódio ganhou ainda mais relevância após a divulgação de que o filósofo estará em um dos compromissos oficiais que Bolsonaro terá em sua viagem para os EUA, na semana que vem. Num contexto de disputa deflagrada, as demonstrações de força adquirem mais peso.

Recordando

A briga recente entre Olavo e segmentos do governo Bolsonaro começou na semana passada. Motivado pelo que chamou de “traições” e “equívocos”, o filósofo pediu que seus alunos e ex-alunos deixassem o governo. Ainda antes de sua solicitação, porém, exonerações de “olavettes” começaram a acontecer dentro do Ministério da Educação.

A pasta se tornou um dos principais campos de batalha porque seu titular, Ricardo Vélez Rodriguez, foi uma indicação direta de Olavo a Bolsonaro. Então cargos de destaque dentro do ministério passaram a ser cobiçados tanto por seguidores do filósofo quanto por militares. A disputa teve como um dos seus pontos-chave a criticada carta enviada por Vélez a escolas, em que ele pedia a execução do hino nacional e a reprodução do slogan de campanha de Bolsonaro. Os “olavettes” foram considerados os culpados pelo incidente, e acreditam que a responsabilidade deveria ser distribuída também para outros membros do ministério.

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O último episódio no Ministério da Educação foi uma vitória de Olavo, a demissão do coronel Ricardo Wagner Roquetti, então secretário-executivo da pasta. Roquetti foi apontado como o executor do “expurgo” contra os “olavettes”.

“O Ministro Vélez deu um sinal de compromisso com o projeto que o colocou lá e com a vontade popular ao demitir o Coronel Roquetti, mas precisa concluir a limpeza e tirar todo mundo que foi colocado lá pelo Roquetti. Diante de uma operação de infiltração como essa, ninguém pode ser poupado”, celebrou Olavo, também na tarde da segunda-feira (11).

Ainda antes das controvérsias no Ministério da Educação, houve uma cujo cenário foi o Itamaraty: a demissão do embaixador Paulo Roberto de Almeida do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri). Almeida foi destituído da direção do Ipri após publicar críticas a Olavo em um blog pessoal.

Como o titular das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi também sugerido por Olavo de Carvalho a Bolsonaro, a pasta passou a ser vista como um “feudo” do filósofo dentro do governo, tal qual a Educação. A colisão com outros segmentos, como os militares, foi inevitável.

“Porto seguro”

A disputa com os militares tende a ser difícil para Olavo. Em um governo que vive cercado de controvérsias desde seu início, os ministros de formação militar – Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), Almirante Bento (Minas e Energia), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Floriano Peixoto (Secretaria-Geral da Presidência), Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Santos Cruz (Secretaria de Governo), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) – têm representado um raro ambiente de tranquilidade. Até o momento, a atuação dos militares tem se dado sem episódios negativos de maior relevância.

Parte do núcleo militar do governo chegou até a pedir que Bolsonaro retire da Esplanada o titular do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, acusado de promover candidaturas laranjas pelo PSL em Minas Gerais.

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“Um militar, apenas por ser militar, não é perfeito. Mas os militares, pela formação, pela disciplina, pelos valores que aprendem, têm a tendência de serem profissionais responsáveis em qualquer lugar em que trabalhem”, disse o deputado federal Coronel Tadeu (PSL-SP), que é policial militar.

Uma demonstração do prestígio dos militares dentro do governo Bolsonaro foi a presença de dois deles em uma transmissão ao vivo que o presidente fez pela internet na quinta-feira (7). O ministro Augusto Heleno e o porta-voz Otávio do Rêgo Barros, ambos militares, acompanharam o presidente na live.

Heleno até teve a incumbência de ajudar Bolsonaro a tentar desfazer o mal-entendido causado pela frase “democracia e liberdade só existem (sic) quando a sua respectiva força armada assim o quer”, que havia sido dita por Bolsonaro horas antes.

“Isso aí não tem nada de polêmico, ao contrário. As suas palavras foram ditas de improviso para um tropa qualificada e foram colocadas exatamente para aqueles que amam a sua pátria, aqueles que vivem diariamente o problema da manutenção da democracia e da liberdade”, disse o ministro.

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Apesar da harmonia que Bolsonaro tenta mostrar com seu núcleo militar, entretanto, o vice-presidente Mourão prossegue como um ponto de certa incógnita – e o principal choque entre Olavo de Carvalho e o governo. O vice emitiu uma série de opiniões públicas que divergem das externadas por Bolsonaro e foi criticado por aliados do presidente, que disseram “estranhar” as declarações. Em resposta às críticas de Olavo de Carvalho, Mourão falou que mandaria “beijinhos” ao filósofo.

“O Olavo de Carvalho conhece muito de direita, mas pouco de política. Quando ele fala sobre política, ele parece um elefante numa loja de cristais”, disse o deputado Coronel Tadeu. Membro da oposição, Glauber Braga (PSOL-RJ) celebra o impasse: “se eles, nessa briga, deixarem em compasso de espera a aplicação da agenda ortodoxa que pretendem, melhor para o Brasil”.

Em meio à disputa, o governo nomeou o coronel Didio Pereira de Campos para a estrutura de Comunicação Global do Planalto, que terá, entre outras tarefas, a de monitorar as redes sociais – um dos principais campos de ação de Bolsonaro e seus seguidores. A indicação foi divulgada em reportagem da Folha de S. Paulo. Horas depois da publicação do texto, Bolsonaro chamou a matéria de “Fake news”; entretanto, a nomeação de Campos foi apresentada no Diário Oficial.

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