A escolha dos ministros pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) demonstra que os militares possivelmente serão a principal força dentro do futuro governo. Além do vice-presidente, general Hamilton Mourão, serão militares pelo menos mais cinco ministros (veja a lista de todos os ministros). E ao menos uma indicação – a do general Santos Cruz para a Secretaria de Governo, atualmente responsável pela articulação política com o Congresso – levanta a discussão: a política ficará submetida às Forças Armadas na gestão de Bolsonaro?
O Podcast República, programa semanal da Gazeta do Povo de análise sobre a política nacional, debateu nesta quarta-feira (28) qual será a influência dos militares no governo de Bolsonaro. Sob a mediação de Fernando Martins, os jornalistas Débora Álvares, Lucio Vaz e Renan Barbosa avaliaram se a indicação de Santos Cruz para uma função eminentemente política significa um enfraquecimento do núcleo político do governo, especialmente do futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), a quem também caberá a interlocução com o Congresso.
Os jornalistas também trataram de um tema correlato a esse: se um governo com mais militares e menos políticos do que tradicionalmente vinha ocorrendo no Brasil será capaz de superar o “toma lá dá cá” para poder aprovar seus projetos no Congresso.
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O Podcast República também avaliou outros fatos que podem eventualmente ser interpretados como indicativos de uma possível estratégia dos militares para colocar os políticos contra a parede no futuro governo. Um deles foi a declaração de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente eleito, de que a escolha de Mourão para vice seria uma “vacina anti-impeachment” – já que o Congresso teria receio colocar um general na Presidência. Outro caso debatido foi a composição da Secretaria-Geral da Presidência, cujo ministro será um político (Gustavo Bebbiano), mas que terá militares em postos-chave, como no comando da Secretaria de Comunicação – responsável, por exemplo, pela publicidade governamental.
O futuro Ministério da Infraestrutura, que também será chefiado por um militar (o ex-capitão Tarcísio Gomes de Freitas), por sua vez, pode vir a ficar responsável pelo Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), que trata das concessões e privatizações. A agenda da venda de estatais, contudo, em princípio seria uma área sob responsabilidade do superministro da Economia, o ultraliberal Paulo Guedes. O Podcast debateu a possibilidade de que os militares – que no Brasil tradicionalmente são nacional-desenvolvimentistas – não vão entrar em conflito com Guedes.