A gravação feita em uma lancha pela indicada ao Ministério do Trabalho Cristiane Brasil estava incompleta. Faltou o presidente Michel Temer tirar a camisa para defendê-la. Afinal, ele colocou seu governo em um impasse histórico em uma nomeação que é a cara do que deve ser seu último ano no Planalto.
Na gravação, a deputada federal defende sua indicação ao ministério com o argumento de que ela achava que não devia nada para as pessoas que a processaram na Justiça do Trabalho. Ela é apoiada por empresários descamisados, que afirmam ter também ações trabalhistas.
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A cena é constrangedora e desnuda, literalmente, o modo Temer de compor seu ministério. O loteamento entre partidos não olha para o passado dos indicados, apenas para seu valor no balcão da política de Brasília. E ele está disposto a enfrentar qualquer constrangimento para não criar o precedente de ter sua indicação derrubada pela Justiça.
Cristiane Brasil foi condenada duas vezes na Justiça do Trabalho. Ela não assinava a carteira dos funcionários que entraram com as ações, o que não é o procedimento correto. Na vida pública, esse tipo de deslize pode custar caro, inclusive com o questionamento da opinião pública em indicações para cargos no Estado.
Se a indicação da deputada fosse cercada somente dessa polêmica, poderia ser mantida com um mea culpa bem elaborado e o compromisso de corrigir o erro. O problema é que não é o único enrosco da parlamentar. E como mostra o vídeo, o mea culpa não faz parte da estratégia.
Temer expôs seu governo a uma disputa judicial que chega ao segundo mês para defender uma figura eleita com doações da J&F e acusada de fazer caixa 2 pela Odebrecht. Ela é filha do mensaleiro Roberto Jefferson, hoje cacique do PTB, que negociou pessoalmente a nomeação da deputada para o ministério. Não é, portanto, um nome que atenda o desejo público para se virar a página da corrupção no país.
Para manter seu acordo com o PTB, o governo abriu uma brecha para questionamentos jurídicos que no fim foram aceitos pelo Judiciário. Temer tem alguma razão em entender que precisa brigar. Se fosse o nome de um membro do primeiro escalão da equipe econômica com sua posse suspensa pela Justiça, haveria efeitos além da turra política – imagine se fosse o Banco Central esperando pela posse de Ilan Goldfajn. O Palácio do Planalto fez uma jogada arriscada demais para um país inconformado com a corrupção e pode colher um precedente perigoso.
As indicações para ministérios, entende-se, são sempre políticas e refletem o funcionamento do sistema partidário de cada país. Como se vê, o Brasil tem uma política disfuncional, que leva a indicações inaceitáveis para os estômagos de quem vê os acordos de fora. O que Temer fez com seu ministério (que tem quase uma dezena de investigados pela Lava Jato) é o estado da arte da disfuncionalidade. O vídeo de Cristiane Brasil em um iate acompanhada dos empresários descamisados é prova disso.