O ministro da Saúde Ricardo Barros (PP), candidato à reeleição na Câmara, foi nada menos que 20 vezes ao Paraná, onde sua mulher, atualmente vice-governadora, figura como pré-candidata ao governo.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A dois meses de deixarem os cargos para disputar as eleições, os ministros-candidatos do governo Michel Temer aumentaram a liberação de recursos para seus estados de origem e privilegiaram suas bases eleitorais nas agendas oficiais. Levantamento feito pelo jornal O Estado de SP mostra que 7 dos 13 ministros com a intenção de entrar na corrida eleitoral incrementaram o valor autorizado para projetos e obras nos seus respectivos redutos eleitorais.

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No Ministério do Turismo, por exemplo, o ministro Marx Beltrão (MDB) destinou no ano passado R$ 72 milhões para cidades de Alagoas, estado pelo qual pretende disputar uma cadeira no Senado. O aumento em relação ao ano anterior foi de 269%, o que tornou Alagoas o campeão de investimento em turismo no país.

Só a cidade de Coruripe (AL), governada por um tio do ministro, teve R$ 4,4 milhões liberados no ano passado, dois terços a mais do que havia recebido no ano anterior. Parte do valor servirá para pagar a elaboração de projeto básico para a construção de um aeroporto na cidade. A pasta autorizou ainda repasses para Feliz Deserto e Jequiá da Praia, cidades que também são administradas por parentes do titular do Turismo.

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Entre dezembro e janeiro, Beltrão teve três compromissos na capital do Estado, Maceió. Fora Brasília, foi a única cidade do país onde cumpriu agenda oficial no período. Na semana passada, escolheu a capital alagoana para lançar o cadastro nacional de prestadores de serviços turísticos.

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Pasta de Ricardo Barros aumentou os repasses ao Paraná

No Ministério da Saúde a situação é semelhante. O ministro Ricardo Barros (PP), candidato à reeleição na Câmara, foi nada menos que 20 vezes ao Paraná, onde sua mulher, atualmente vice-governadora, figura como pré-candidata ao governo. Em alguns casos, as agendas não tinham relação com o Ministério da Saúde: encontro com empreendedores rurais na Expotrade, assinatura de convênios entre prefeitos e a usina de Itaipu e até entrega de uma honraria, a Ordem do Pinheiro, à sua mulher, Cida Borghetti.

O Paraná não foi favorecido apenas no número de visitas do ministro da Saúde. Em 2017, o valor dos convênios da pasta firmados no Estado mais do que dobrou. Foram R$ 221,6 milhões, R$ 6 milhões a menos do que o total destinado para São Paulo, o estado mais populoso do país. Em Maringá, base eleitoral de Barros, o valor liberado quase quadruplicou. Saltou de R$ 3,6 milhões em 2016 para R$ 12,4 milhões em 2017.

Situação se repete no Norte e Nordeste, reduto das famílias Sarney e Barbalho

A maior concentração de repasses a um mesmo estado, porém, ocorreu no Ministério do Meio Ambiente, comandado por Sarney Filho (PV), filho do ex-presidente e ex-senador José Sarney (MDB-AP). Dos R$ 50,5 milhões autorizados via convênios no ano, R$ 37,4 milhões (74%) foram para o Maranhão. O valor é bem superior ao total repassado ao Estado durante todo o governo Dilma Rousseff: R$ 2,2 milhões.

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No Pará, embora o valor dos convênios com cidades do estado tenha caído no ano passado, o total de R$ 15,2 milhões direcionados à base eleitoral do ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho (MDB), é mais do que a soma do que municípios paraenses receberam da pasta nos oito anos anteriores à sua gestão (R$ 7,6 milhões de 2008 a 2015). O aporte de recursos foi recorde em 2016, quando Helder assumiu - R$ 38,8 milhões, a maior quantia via convênios entre os 26 estados e o Distrito Federal.

Herdeiro político do pai, o senador Jader Barbalho (MDB-PA), Helder tenta se cacifar como candidato ao governo paraense. Para isso, foi ao estado para 14 compromissos como ministro, só dois a menos do que a agenda de despachos na capital federal. Quando está em Brasília, tem como prática abrir espaço no gabinete para receber até vereadores de pequenos municípios do Pará.

Mesmo após Olimpíada, Rio continuou a ser privilegiado em repasses do Ministério do Esporte

Mesmo após a Olimpíada, o Rio continuou a ser privilegiado em repasses do Ministério do Esporte e na agenda do ministro, Leonardo Picciani (MDB-RJ). A pasta liberou R$ 98,2 milhões no ano passado em convênios que tinham como objetivo, entre outros, a construção de campos de futebol, pistas de skate e reformas de quadras poliesportivas em cidades do interior fluminense.

O valor repassado ao Rio no ano passado foi o maior entre todos os estados e superou em 176% o que havia sido destinado em 2016 (R$ 35,5 milhões).

Outros casos

No Ministério da Agricultura, a liberação de recursos para prefeituras de Mato Grosso, reduto eleitoral do ministro Blairo Maggi (PP), passou de R$ 27,6 milhões para R$ 57,6 milhões, um incremento de 109%.

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No Ministério do Desenvolvimento Social, os convênios com cidades do Rio Grande do Sul cresceram 42% em 2017 e somaram R$ 22,1 milhões. O titular da pasta, Osmar Terra (MDB-RS), pretende disputar a reeleição na Câmara.

Ministros vão mais a seus estados, mesmo sem verba

E não foram somente os ministros Ricardo Barros (PP), Jader Barbalho (MDB-PA) e Marx Beltrão (MDB) que aumentaram as visitas aos seus estados. Mesmo em ministérios sem verba para distribuir aos Estados, ministros-candidatos dão um jeito de privilegiar seus redutos eleitorais.

O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), por exemplo, esteve 18 vezes em cidades paulistas, mais do que em Brasília, quase sempre divulgando a prefeitos o programa Internet para Todos, de baixo investimento, mas alta popularidade.

Há casos também de ministros que cumpriram agenda diferente da divulgada oficialmente. O ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa (PR), passou a maior parte de janeiro “sem compromissos oficiais”, conforme sua agenda. Ele, no entanto, concedeu entrevistas, despachou com prefeitos de municípios alagoanos e vistoriou, em três sextas-feiras do mês, obras de rodovias no Estado. Quintella é deputado federal licenciado e se articula para disputar o Senado pela primeira vez ou a reeleição à Câmara.

O chanceler Aloysio Nunes (PSDB), por sua vez, tem uma agenda pública voltada para a política externa brasileira, mas aproveita para tentar conciliar com os interesses de seu mandato de senador por São Paulo, do qual se licenciou. Ele vai se candidatar à reeleição. Quando possível, o ministro despacha do escritório de representação do Itamaraty na capital paulista.

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