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Entre os temas abordados nas conversas entre motoristas e especialistas de instituto estão política de armas,  crime organizado e a responsabilidade de União, estados e municípios quanto à segurança pública . | Arquivo/Gazeta do Povo
Entre os temas abordados nas conversas entre motoristas e especialistas de instituto estão política de armas, crime organizado e a responsabilidade de União, estados e municípios quanto à segurança pública .| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Motoristas de um aplicativo de transporte estão ajudando a compor um documento que vai levar aos pré-candidatos à presidência da República propostas sobre segurança pública. A iniciativa, parceria entre a 99 Pop e o Instituto Sou da Paz, vai permitir que os condutores, com o auxílio de especialistas da organização não governamental, transformem a preocupação com a violência do dia a dia, a qual estão suscetíveis nas grandes cidades, em sugestões e propostas.

As ideias serão reunidas em um documento, que será entregue a todos os pré-candidatos. A expectativa é que elas passem a fazer parte da agenda dos presidenciáveis e sejam consideradas pelo presidente que será eleito em outubro. Ainda não há data definida para entrega do documento às campanhas, que deve ser formatado já nas próximas semanas.

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Orientada pelo do Sou da Paz, a plataforma escolheu 72 motoristas de São Paulo e da Grande São Paulo, divididos em grupos, por gênero e faixa etária. Os primeiros encontros, com consultores especialistas no tema parceiros da ONG, aconteceram entre os dias 10 e 11 deste mês. Outros três ainda serão realizados em julho. Um dos grupos envolveu apenas mulheres que trabalham para o aplicativo. Outros dois se dividiram entre homens até 35 anos e de 35 em diante.

Os mediadores do Sou da Paz realizam as entrevistas com os profissionais, a partir de eixos relacionados ao tema segurança pública pré-definidos pelo instituto, que envolvem gestão pública, os papéis da União, estados e municípios na segurança pública, crime organizado, facções criminosas e maneiras de combater as ações desses grupos, política de armas, tráfico de drogas, sistema prisional e atividade policial.

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Nas conversas, os integrantes da ONG querem ouvir dos motoristas o que eles gostariam de dizer aos presidenciáveis e o que pensam sobre, por exemplo, as notícias sobre violência que ganham repercussão nacional.

A ideia do instituto é tentar também que algumas das propostas apontadas pelo documento sejam incluídas nos debates entre candidatos, que serão realizados pelas emissoras de TV.

Mulheres motoristas do 99 Pop durante um dos encontros com especialistas do Sou da Paz para a construção das propostas sobre segurança pública.

Foto: Adriano Duarte/divulgação

Tema complexo

“O tema é absolutamente prioritário, as pessoas têm muito interesse e desejo de debater o assunto”, destaca Felippe Angeli, do Sou da Paz. Ele ressalta o interesse dos participantes no assunto, as opiniões expressadas pelos motoristas e os desejos em relação ao assunto. “Você percebe dúvidas em relação à complexidade do tema, o caráter federativo do estado, e as incertezas quanto aos papéis da União, estados e municípios”, aponta. Mas que, de forma geral, os participantes mostraram conhecimento e clareza com o que esperam do próximo presidente e do que entendem como caminho certo.

“Pelo próprio perfil [dos entrevistados], os motoristas são pessoas que por conta do caráter do trabalho, que é de atendimento à população, ouvem muitas opiniões, e nesse contato surge muito conhecimento sobre tema. E como estão mais nas ruas, às vezes são vítimas da violência, têm suas preocupações”, lembra.

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“O retorno que recebemos tanto dos motoristas quanto do Sou da Paz foi muito positivo, tanto na linha de questão de conteúdo, de ideia transmitida, quanto da oportunidade de participar dessa discussão”, revela Paulo Dallari, diretor de Relações Institucionais do 99.

Dallari informa que a empresa conta com um sistema de inteligência artificial que monitora todo o trabalho realizado pelos motoristas que auxilia na prevenção e que, por meio de padrões, consegue identificar, por exemplo, áreas de risco, e informar aos condutores sobre a aproximação dessas localidades. A tecnologia rastreia ainda as ocorrências mais frequentes, e a empresa informa contar com uma equipe de seguranças, monitoramento 24 horas por dia e apoio a motoristas e passageiros em caso de algum incidente. A companhia não informa, porém, quais os tipos mais comuns de ocorrências que atingem os motoristas.

Em janeiro deste ano, casos de assassinatos envolvendo motoristas de aplicativos em Curitiba assustaram profissionais e passageiros. Um grupo de motoristas do Uber levou demandas relativas a segurança à Secretaria da Segurança Pública e Administração do Paraná (Seap) e ao secretário municipal da Defesa Civil.

Em Salvador, cálculos de janeiro do Sindicato dos Motoristas por Aplicativo e Condutores de Cooperativas do Estado da Bahia (Simactter) apontam que, em média, entre 15 e 18 motoristas de plataformas são assaltados por dia. Em Santos, no litoral paulista, entre 2017 e março deste ano, mais de 300 condutores já haviam sido assaltados, apontou a Associação dos Motoristas de Aplicativo da Baixada Santista (Amabs).

União para discutir segurança pública

“Segurança, durante muito tempo, foi confundida com polícia. Mas a gente tem há muitos anos a percepção de que é fundamental um esforço federativo. Estados, municípios e União, todos têm seu papel. A gente não pode pensar em segurança como questão só de polícia, ou como uma questão estadual. A união [para discutir segurança pública] é fundamental. A gente tem buscado comprometer, no bom sentido, os pré-candidatos a tratar [o tema] de forma mais ampla”, acrescenta Angeli.

Segundo o representante da ONG, historicamente o Sou da Paz tem sido bem recebido por governantes. No mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, Angeli informa que a instituição teve participação efetiva na construção do pacto pela redução de homicídios, que em 2015 envolveu União, estados e municípios na luta pela redução, em 5% ao ano, no número de homicídios dolosos – quando há intenção de matar. Já no governo de Michel Temer, informa Angeli, o instituto tem participado de discussões no âmbito do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), sancionado pelo presidente em junho deste ano.

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