O Brasil parece ter mergulhado num abismo, no qual deixou o posto de pretendente a potência mundial e vem encarando a pior recessão da história, somada a uma crise política que aumenta a instabilidade no país. Se a situação política, econômica e social faz com que muitos brasileiros larguem tudo por aqui para tentar recomeçar no exterior, ela também afugenta estrangeiros que vinham ao país para trabalhar. Em 2011, foram concedidas 69.077 autorizações de trabalho, temporárias e permanentes, para estrangeiros que vinham para cá. No ano passado, o número de autorizações caiu para 28.658. Os dados são da Coordenação Geral de Imigração (CGIg), do Ministério do Trabalho e maior parte dessas autorizações é temporária, de até dois anos de validade.
A queda se dá por dois motivos principais. O primeiro é que houve uma mudança nas regras para concessão das autorizações de trabalho em 2014. Mas mesmo antes dessa modificação, a tendência de queda já era notada. Entre 2011 e 2013, foram 197.356 autorizações de trabalho. No triênio seguinte, o número caiu para 112.266. A tendência de queda continua em 2017: os números do primeiro trimestre são menores que os do mesmo período do ano anterior. Nos primeiros três meses deste ano, só 6.415 estrangeiros vieram trabalhar no Brasil.
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O CGIg pondera que há flutuações normais, inerentes do processo migratório, mas a falta de perspectivas do país entra nessa conta também. Se está difícil manter os brasileiros por aqui, como atrair estrangeiros?
Quem são os gringos
Os estrangeiros que vêm para o Brasil são na maioria homens, com idades entre 20 e 49 anos e escolaridade que varia em dois grandes grupos: ou possuem ensino médio completo ou superior completo. Em 2016, de acordo com a CGIg, entraram 10.911 profissionais com ensino médio e outros 15.993 com superior completo. O número de mestres e doutores é bem menor: somados, foram 1.506 pessoas que vieram para cá.
A maioria das pessoas que vem para cá são profissionais das ciências e das artes (13.294), seguidos de técnicos de nível médio (6.613) e trabalhadores da produção de bens e serviços industriais (3.173). Profissionais do nível de gestão – tanto para empresas públicas quanto privadas – somam 2.286 autorizações de trabalho. Já os países que mais enviam mão de obra para o Brasil são os Estados Unidos (3.952), Filipinas (2.841), Reino Unido (1.844), Índia (1.675) e Itália (1.664).
Tempo de permanência
Os gringos que vêm ao Brasil podem passar pouquíssimo tempo por aqui. No ano passado, 8.449 autorizações de trabalho eram para contratos de até 90 dias – nesse grupo estão incluídos artistas e desportistas, além daqueles estudantes que fazem intercâmbio profissional no período de férias. Autorizações de até um ano (4.335) vão para profissionais de tecnologia, estudantes recém-formados e empregados de firmas estrangeiras que precisem ficar nas subsidiárias tupiniquins.
Mas há aqueles que ficam até dois anos. A maior parte das autorizações concedidas vão para aqueles que não têm contrato de trabalho no Brasil (11.689) – na maior parte, são pessoas que vêm trabalhar para o governo, em navios turísticos, embarcações ou plataformas e empregados de empresas locais que precisam entender a cultura organizacional da firma.
Na outra mão, foram 2.803 autorizações para quem tinha contrato de trabalho e poderia ficar até dois anos no país. Isso vale para professores e pesquisadores e atletas profissionais, por exemplo.
Sentiu falta dos haitianos?
Quem é bom observador deve ter notado a ausência de haitianos na lista. É que para muitos deles, nem sempre é concedida a autorização para trabalho, mas sim o visto de residência humanitário, que é contabilizado de outra maneira, dessa vez pelo Conselho Nacional de Imigração (CNIg). Mesmo essa concessão de vistos vem diminuindo ao longo dos anos. Em 2011, o CNIg registrou 709 autorizações de visto permanente ou residência permanente pra haitianos. O número saltou para 4.682 em 2012 e desde então vem caindo.
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Depois da concessão deste visto humanitário para os haitianos, de fato o Ministério do Trabalho registrou as autorizações de trabalho para o grupo: foram 34.773 concessões, o que não indica necessariamente os ingressos naquele ano, mas sim a regularização dos imigrantes.
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