Relatório da Polícia Federal apontou que o ex-deputado federal paranaense Rodrigo da Rocha Loures (PMDB) tinha uma “interlocução facilitada com a Presidência da Republica, inclusive com o próprio presidente Michel Temer”.
Datada de 12 de junho último, a informação policial número 12 procurou investigar os laços históricos entre Rocha Loures e Temer. Em acordo de delação premiada fechado com a Procuradoria Geral da República (PGR), o dono da JBS Joesley Batista afirmou que Loures foi indicado por Temer como um interlocutor dos interesses do seu grupo empresarial. Loures recebeu R$ 500 mil em uma mala de dinheiro da JBS.
Em conversa gravada no dia 7 de março no Palácio do Jaburu, Temer confirmou a Joesley que Loures era pessoa de sua confiança. A PF produziu o relatório com o objetivo de confirmar a relação entre os dois políticos do PMDB.
Segundo a PF, extratos do “Diário Oficial da União” demonstram que Rocha Loures “já vem, de fato, de longa data, ocupando espaços no Palácio do Planalto, especificamente em cargos comissionados vinculados aos mandatos de vice-presidente e de presidente da República de Michel Temer”.
Leia também: “Império das barrinhas de cereal” deu projeção a Rodrigo Rocha Loures
Durante o mandato de deputado federal, de 2007 a 2010, segundo a PF, Loures foi “membro de frentes ambientalista e de educação, além de comissões de energias renováveis, finanças e tributação e habitação; além disso, atuou como membro da executiva nacional” do mesmo partido de Temer, o PMDB.
Em 2010, Loures disputou e perdeu a eleição para vice-governador do Paraná. No ano seguinte, em 26 de maio, ele foi nomeado para o cargo de chefe da assessoria parlamentar da Vice-Presidência da República, na época ocupada por Temer.
Rocha Loures tentou se eleger em 2014 a deputado federal, mas perdeu a campanha e se tornou suplente. Naquela disputa, a tesouraria da campanha de Temer, então candidato a vice-presidente, destinou R$ 200 mil à campanha do paranaense, segundo o registro na Justiça Eleitoral. Durante o pleito, Temer gravou um vídeo de apoio à candidatura de Loures, chamando-o de “belíssima figura da vida pública brasileira”. “Aliás, ele, aqui [assessoria da Vice-Presidência], operava não só auxiliando a mim no Brasil todo, mas basicamente como uma espécie de embaixador do Paraná.”
Derrotado na campanha, Loures voltou a ocupar o cargo de chefe da assessoria parlamentar da Vice-Presidência em 23 de janeiro de 2015, “mantendo-se assim o vínculo com o então vice-presidente Temer”, conforme anotou a PF. Três meses depois, Loures foi nomeado chefe de gabinete do ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência. O ato foi assinado pelo então ministro Aloizio Mercadante (PT-SP).
Em setembro de 2016, após o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a posse de Temer como presidente, Rocha Loures passou a um novo cargo, o de assessor especial do Gabinete Pessoal do Presidente da República, com ato assinado pelo ministro Eliseu Padilha (PMDB-RS).
Leia também: PF conclui que Temer e Rocha Loures receberam “pagamento de vantagem indevida”
Loures permaneceu nessa função até 8 de março de 2017, quando saiu do Planalto para assumir o mandato de deputado federal no lugar de Osmar Serraglio (PMDB-PR), que havia sido nomeado ministro da Justiça um dia antes, em 6 de março.
Assim, o encontro entre Temer e Joesley, no dia 7 de março no Palácio do Jaburu, ocorreu “justamente no dia de intervalo entre a nomeação de Serraglio para o Ministério da Justiça e a reassunção de Loures a deputado federal”.
Na primeira quinzena de maio, a PF passou a interceptar ligações telefônicas de Loures com autorização do ministro do STF Edson Fachin e a pedido da PGR, já como parte da Operação Patmos. A partir daí, segundo a PF, fica evidenciada a “interlocução facilitada” de Loures com o Planalto e com Temer.
“Dupla jornada”
Em um dos telefonemas, segundo a PF, Loures afirmou a seu interlocutor que, embora exercesse o cargo de deputado federal, “estava exercendo uma ‘dupla jornada’, referindo-se à continuidade dos seus trabalhos no Palácio do Planalto”.
Telefonemas, apontou a PF, “demonstram as vertentes de atuação e influência de Rocha Loures junto ao Palácio do Planalto na busca pela inserção de cláusulas em decreto” voltado para o setor portuário. Para a PF, o decreto tinha “nítido interesse das empresas concessionárias, com questões técnicas e legais controvertidas”. Um dos telefonemas para tratar do assunto foi dado por Loures ao próprio presidente Temer.
Outro aspecto abordado pela PF era o trânsito facilitado de Loures no Planalto e na agenda de autoridades. “Observa-se que o deputado Rocha Loures, embora já não mais ocupando o cargo de assessor especial da Presidência da República, continuava intermediando contatos com a Presidência da República e gozando de facilidade e celeridade na marcação de audiência no Palácio do Planalto”, apontou o relatório.
“Loures mantinha um canal aberto de comunicação com a Presidência da República, o que lhe propiciava saber não só de ocorrências cotidianas do Palácio do Planalto, mas sobretudo e em particular, sobre a agenda presidencial.”
A PF concluiu que telefonemas dados por Loures “merecem ser novamente frisados, sob o ângulo da demonstração das facilidades em se estabelecer contato direto com o presidente da República”.