O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, saiu em defesa do procurador geral da República, Rodrigo Janot, em relação ao acordo firmado com os irmãos Wesley e Joesley Batista, donos da JBS. Os acordos de colaboração premiada têm sido criticados pelas benesses recebidas pelos executivos em troca de informações à Procuradoria Geral da República sobre a participação de figuras políticas do alto escalão na prática de crimes.
“Os fatos que vieram à tona são crimes gravíssimos. Nós temos aí evidências, em maior ou menor grau, que apontam para crimes praticados pelo próprio presidente da República, líder máximo do país [Michel Temer], por um presidenciável, presidente de um grande partido do país [Aécio Neves]. Nós temos ainda indícios de que se buscava aniquilar a Lava Jato. Nós temos ainda crimes praticados por mais de 1800 políticos, segundo é noticiado”, ressaltou Deltan.
O procurador disse que não entraria em detalhes sobre os benefícios do acordo por não ter participado da mesa de negociações. Os irmãos ganharam o perdão judicial pelos crimes praticados, além de não terem medidas cautelares – como prisão ou uso de tornozeleiras eletrônicas – determinadas pelo acordo. Deltan afirmou que traria apenas “alguns pontos para reflexão” sobre o assunto.
“Ninguém gosta de impunidade, seja para quem for. Ninguém quer ver benefício nenhum para colaborador. Em um mundo ideal, todo mundo seria punido. Todos os nossos colaboradores seriam punidos de modo perfeito, com a punição máxima independente da colaboração. Mas o grande problema é que nós não vivemos no mundo ideal”, disse o procurador.
Deltan lembrou que os irmãos Batista não estavam sendo processados nem estavam presos quando procuraram a PGR para firmar o acordo de colaboração. “Eles tinham investigações, mas 97 em cada 100 casos de investigações de corrupção acabam em impunidade”, lembrou o procurador.
“Os irmãos Joesley [e Wesley] tinham alternativas razoáveis. Agora pensem no outro lado. Quais eram as alternativas do procurador geral da República? A alternativa dele [Janot] ao acordo era não ter o acordo e possivelmente não ter todas aquelas informações e provas. Conseguiria ele aquelas gravações e aquelas provas com outras pessoas? Tem alguma outra pessoa em potencial negociação que poderia trazer isso? Não que eu saiba”, ressaltou Deltan.
Como parte do acordo de colaboração premiada, os irmãos Batista entregaram à PGR uma série de gravações feitas em conversas com o presidente Michel Temer (PMDB), o senador Aécio Neves (PSDB) e o deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB). Os fatos contados pelos executivos levaram à deflagração, na quinta-feira (18), da Operação Patmos, da Polícia Federal, que levou à prisão pessoas ligadas ao senador Aécio Neves e um procurador da República que agia como um “infiltrado” dos irmãos Batista em uma das forças-tarefas que os investigavam no Ministério Público.
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