Tornozeleira apresentada pela Netflix em sua loja.| Foto: /Reprodução

“Perfeita para as férias pagas com o dinheiro público” traz a plaquinha ao lado de uma capinha estampada com flores vermelhas e brancas, do modelo Red Hawaii.

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Proteção para o celular? Não, quem desembarca no aeroporto internacional de Brasília desde domingo (25) se depara com uma coleção de capinhas para tornozeleira eletrônica.

Nos modelos onça (“para combinar com maços de notas de 50”), Yellow Hawaii, Noel e Gold (“para você desfilar no tribunal”), entre outros, as peças estão expostas na parede da “Loja da Corrupção”.

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O estande é, na verdade, ação promocional da Netflix para divulgar sua nova série “O Mecanismo”, do diretor José Padilha. O seriado que tem causado polêmica recria as primeiras fases da Operação Lava Jato e foi lançado na sexta (23) no serviço de streaming.

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Segundo uma atendente (os produtos, é claro, não estão de fato à venda) que não quis se identificar, o movimento tem sido grande tanto de manhã como à noite.

Prestes a viajar para São Paulo, a esteticista Renata Guedes, 33, desceu para o desembarque para ver do que se tratava e logo escolheu seu modelo preferido de tornozeleira: o de oncinha.

Ela ainda não assistiu à série, mas diz gostar bastante das campanhas do serviço de streaming. “O que mais chama a atenção é a cueca”, diz.

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A cueca, no caso, é a “cueca doleira”, modelito com bolsos cheios de notas falsas de R$ 100.

Já o policial federal aposentado Raphael Rouver, 58, veio ao terminal com a mulher, Magda Rouver, 53, só para dar uma olhada nos objetos, que incluem, além das tornozeleiras e da cueca, um manual de delação premiada, um dicionário dos corruptos, uma gravata filmadora e um salto gravador (“grave áudios comprometedores sem descer do salto”).

Ele diz ter se sentido representado pela maneira como são retratados os policiais na série. “Nessa cena que eles vão deflagrar a operação e os caras ficam fazendo um lanchinho e o alvo foge, isso acontece muito”, afirmou.

“Achei muito boa, retratando essa safadeza toda”, diz Magda. Ela afirma que depois de terem visto todos os episódios de uma vez não conseguiu mais dormir. “Fiquei com raiva porque eu já sei que é isso mesmo, essa safadeza com os políticos.”

Polêmicas envolvem a série, acusada de deturpar fatos históricos. Em determinado episódio, por exemplo, o personagem inspirado no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala em “estancar a sangria” —a frase imortalizou-se na boca de outro político, o senador Romero Jucá (MDB-RR).

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Além disso, o enredo localiza o escândalo do Banestado, ocorrido durante a gestão FHC, em 2003, primeiro ano do governo Lula. A ex-presidente Dilma Rousseff chegou a se manifestar sobre o seriado, afirmando que a Netflix “não está sabendo onde se meteu”. “Netflix não pode fazer campanha política”, disse na segunda (26).

“Se tinha isso [incorreções] não notei. O que pega mesmo é o que tá acontecendo, a realidade”, diz Magda, para quem os ex-presidentes petistas tinham que estar presos juntos há muito tempo.

Parte das críticas sustenta que a série centra o fogo no PT. Padilha nega as acusações e diz que quem reclama das imprecisões dos fatos está desviando do foco principal da série.