A “fritura” que atinge o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, foi minimizada por integrantes do PSL no Congresso Nacional. O líder do partido no Senado, Major Olímpio (SP), a deputada federal Joice Hasselmann (SP) e outros integrantes da legenda se manifestaram, nesta quinta-feira (14), em defesa de Bebianno.
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“O Bebianno contribuiu demais para que nós [PSL] tivéssemos uma chapa nas eleições de São Paulo. Se isso não tivesse ocorrido, até a eleição de Jair Bolsonaro poderia estar comprometida. Eu seria o mais leviano dos homens se eu tivesse qualquer queixa a Gustavo Bebianno”, disse Olímpio. Já Joice disse que “não existem provas” contra o ministro. Outros membros da legenda alegaram que a situação de Bebianno não cria desconforto ao partido.
Bebianno entrou no foco do debate político após a revelação, pelo jornal Folha de S. Paulo, de que o PSL lançou “candidatas laranjas” em Pernambuco nas eleições de outubro. As integrantes do partido participaram formalmente da eleição, mas obtiveram votações frágeis e mesmo assim receberam vultosos recursos do fundo partidário. Desde a divulgação dos fatos, o PSL entrou em uma guerra interna, com a responsabilidade pelo caso sendo transferida entre Bebianno e o presidente da legenda, o deputado Luciano Bivar (SP).
A temperatura do episódio subiu ainda mais após o presidente Jair Bolsonaro “retuitar”, na quarta-feira (14), uma postagem do seu filho Carlos que negava uma conversa entre Bebianno e o chefe do Executivo. Na madrugada de quarta e ao longo da quinta-feira, a demissão de Bebianno era dada como certa. Mas ele disse que não pretendia largar voluntariamente o cargo.
O choque entre Bebianno e Carlos também repercutiu negativamente entre os parlamentares do PSL. Um deputado afirmou que o filho do presidente mostrou “falta de maturidade” ao expor o ministro nas redes sociais. Major Olímpio reconheceu o cenário de crise, mas falou que “o presidente [Bolsonaro] vai ter sabedoria e discernimento de colocar as coisas nos devidos termos”.
Além da tentativa de minimizar a controvérsia entre Bebianno e o filho do presidente, o esforço dos integrantes do PSL é para fazer com que os tumultos que envolvam o partido não cheguem até o governo. “Nós temos que separar as coisas. O Legislativo atua de um jeito, o Executivo de outro, e o partido é outra esfera”, alegou o deputado Coronel Chrisóstomo (RO).
Mas a defesa de Bebianno não é unanimidade dentro do partido. O deputado federal Alexandre Frota (SP) foi à tribuna da Câmara dos Deputados para fazer um discurso de ataque a PT e PSOL, mas acabou por mostrar um sinal de discordância na legenda. Ele disse, nesta quinta-feira, que quer “o Queiroz na cadeia”, numa referência ao motorista ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que o partido irá “esmagar as laranjas podres”.
Comunicação
As divergências dentro do PSL e os choques entre instâncias do partido e membros do governo são diagnosticados por integrantes da legenda como reflexo da inexperiência que marca grande parte da sigla.
O PSL, até a chegada de Jair Bolsonaro ao partido, era uma legenda inexpressiva. Nas eleições de 2014, obteve apenas uma cadeira na Câmara dos Deputados e nenhuma no Senado. Agora, tem a maior bancada na Câmara e quatro senadores. E grande parte desse contingente é de novatos na política, que não ocuparam nenhum mandato antes de chegar a Brasília.
“A nossa bancada é muito heterogênea. Tem professor, militar, ator pornô...”, ironizou um integrante do partido. Para outro, a sigla está majoritariamente coesa, mas sofre com alguns deputados “que querem aparecer mais do que os outros”. Um racha que ganhou holofotes recentemente se deu entre o líder do governo, Major Vitor Hugo (GO), e o líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (GO). O líder da Câmara, que está em seu quarto mandato, questionou publicamente a experiência do colega, que é um estreante no Congresso. Vitor Hugo respondeu nas redes sociais, com diversos elogios recebidos por outros parlamentares.
Para tentar apaziguar os ânimos, o presidente Luciano Bivar promoveu um jantar em sua casa na quarta-feira. O encontro teve caráter de confraternização mas serviu também como uma espécie de “defesa prévia” do deputado no caso das candidaturas laranjas: membros do PSL relataram que ele apresentou material de campanha das candidatas e alegou que elas realmente fizeram campanha. “O único problema do jantar é que faltou vinho”, brincou um parlamentar.
Em outra ação para uniformizar a linguagem do PSL, o partido estuda a criação de um novo estatuto. Os trabalhos foram delegados ao deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (SP) - que também é estreante na Câmara. Uma das ideias que deve estar presente no texto é a criação de regras e de um perfil para os novos integrantes da legenda. Além de buscar mais unidade entre os novos filiados, a sigla quer evitar adesões motivadas apenas pelo fato de o PSL ser o partido do presidente da República.
“O PSL de ‘patinho feio’ virou o ‘cisne bonito’ no cenário político. E a nossa bancada é, principalmente, de pessoas que ainda não se conheciam. Nos partidos mais tradicionais, a pessoa começa como militante e depois vai galgando postos dentro da estrutura partidária. O PSL tem uma identidade partidária? Ainda não”, alegou Major Olímpio.
Novo partido?
Em meio às divergências internas, uma especulação lançada nos últimos dias dá conta de que dois filhos do presidente, Carlos e Eduardo Bolsonaro, estariam se articulando para a criação de uma espécie de “PSL do B” - um novo partido que carregaria as estrelas do PSL, mas se livraria de figuras momentaneamente incômodas, como o ministro Bebianno.
Integrantes do PSL que falaram de forma reservada com a Gazeta do Povo disseram desconhecer a movimentação. A análise geral é que, embora existam tropeços por parte dos filhos do presidente, o partido tem apresentado mais virtudes do que defeitos. “Isso é pura baboseira”, disse um parlamentar.
“Sobre quem está falando em criação de novo partido: o alucinado que tiver isso como projeto vai marchar sozinho”, resumiu Major Olímpio.
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