Em Brasília, milhares de pessoas trabalham no governo federal ou no seu entorno. Políticos, assessores, especialistas técnicos em áreas de serviços prestados pelo governo, servidores públicos e ainda lobistas e consultores, que oferecem sua mão de obra e serviços a qualquer que seja o partido e a linha ideológica do presidente da República. Dentro do governo de Michel Temer é grande o número de autoridades que se movimentam para tentar continuar em seus cargos ou serem alçados a um posto na gestão de Jair Bolsonaro (PSL).
Entre as autoridades do alto escalão que articulam sua permanência estão a ministra da Advocacia-Geral da União (AGU), Grace Mendonça (que teria apoio dentro do Supremo Tribunal Federal para permanecer no cargo), o presidente do BNDES, Dyogo Oliveira. Ambos teriam chances de ficar, com perfil que agrada ao time de Bolsonaro. Oliveira nega que esteja pleiteando o cargo e diz que é um servidor de carreira.
A proximidade da pauta econômica proposta por Bolsonaro com a que Michel Temer apresentou ao chegar à Presidência ajuda a reforçar esse movimento. Corte de gastos, redução de cargos, privatizações e ajuste fiscal são pontos dos dois planos de governo. O movimento também se intensificou após mensagens de Bolsonaro e de seus interlocutores de que nomes da atual equipe de Michel Temer poderiam ser mantidos, a começar por Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central. Mas ainda é incerta a permanência do banqueiro no BC.
Essa sinalização agrada ao mercado financeiro, que acalenta a ideia de manter o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, e sua equipe nos cargos. Dentro do Ministério, a possibilidade é tida como remota, já que o economista Paulo Guedes deve ser o ministro da superpasta da Economia - e Guardia não aceitaria ser rebaixado de cargo.
Dentro do BC especula-se que a negociação com Ilan ainda não começou. Entre os pontos que estarão na mesa há uma Medida Provisória (MP) enviada pela autoridade monetária antes das eleições e que ainda não foi publicada. Tal medida traz ações defendidas por Ilan para melhorar a administração do BC e a sinalização de que será aprovada na gestão Bolsonaro pode pesar na decisão de Ilan de seguir no posto.
Políticos em corrida por cargos
No meio político, o esforço para entrar para o governo Bolsonaro é visível e pautas com temas bem-vistos pela futura gestão ganham espaço. Exemplo disso é a movimentação do deputado federal Leonardo Quintão (MDB-MG), um dos cotados para assumir o Ministério de Minas e Energia ou assumir um cargo no Ministério da Infraestrutura.
Quintão esteve à frente do grupo de representantes do setor energético que visitou Bolsonaro cinco dias antes do segundo turno, aparecendo em foto com o então candidato e agentes do setor. Ele também assumiu o comando informal na articulação da Medida Provisória (MP) 844, sobre o Marco Legal do Saneamento Básico, na comissão em sessão na terça-feira (30). Quintão não foi reeleito deputado federal.
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Outro que está cotado para assumir um cargo na área energética do governo é o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA). Ex-presidente da Chesf (empresa estatal de energia no Nordeste), o deputado acompanha o setor há longa data e foi cotado para assumir o Ministério de Minas e Energia em maio de 2016, no processo de impeachment de Dilma Rousseff. Agora, também estaria se movimentando no entorno da equipe do presidente eleito.
O deputado Fernando Coelho Filho (DEM-PE), ex-ministro de Minas e Energia de Temer, também corre por fora para tentar voltar ao ministério. Ele esteve em evento do setor nesta semana, ao lado de Temer e o atual ministro Moreira Franco, situando-se nos holofotes em um momento importante.
Tais nomes teriam de passar pelo crivo do formulador da área de energia de Bolsonaro, o professor Luciano de Castro, que figurará na equipe de transição. Castro participa nesta semana de evento na Colômbia, situando-se como um dos mais importantes estudiosos do setor elétrico no mundo.
Falsas sinalizações
Além do meio político, consultores, especialistas e representantes das empresas também circulam próximo aos nomes que já se apresentaram como interlocutores de Bolsonaro. O especialista em infraestrutura Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), foi apontado nesta quarta-feira (31) como um dos nomes que poderiam ser indicados para o Ministério de Minas e Energia.
Pires esteve em reunião com Bolsonaro na semana passada e tem bom trânsito com a nova equipe técnica. Porém, como representante de empresas e investidores do setor privado, teria dificuldade em deixar sua participação societária em diversos negócios para poder abraçar a administração pública.
Para pessoas ligadas ao setor energético, o suposto vazamento do nome de Pires para assumir um cargo alto no setor no governo seria um balão de ensaio para chamar atenção e tirar o foco de postulantes com chances e interesses reais em assumir o cargo, como os deputados Quintão e Aleluia.
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Tentando garantir um espaço no próximo governo, políticos, técnicos, assessores e atuais ocupantes de cargos públicos assediam quem está próximo ao futuro presidente. O deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), um dos homens de Bolsonaro para segurança pública, tem sido caçado nos corredores da Câmara dos deputados.
Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) também tem sido cercado e em alguns momentos chega a ter dificuldades de seguir seu caminho sem ser interpelado dentro da Câmara. O mais assediado é Onyx Lorenzoni (DEM-RS), futuro ministro da Casa Civil.
O governo Bolsonaro terá 24 mil cargos de livre provimento para nomear dentro dos ministérios. Desse total, porém, 12 mil só podem ser destinados a servidores públicos ou funcionários de estatais. Esses cargos estão hoje ocupados e são eles que distribuem a hierarquia dentro dos órgãos de governo. Outros 10 mil podem ser destinados a pessoas sem concurso, como assessores de confiança.
Dentro do governo, mostrando serviço
Em algumas secretarias dos ministérios da área econômica, a tentativa é mostrar a Bolsonaro e seus interlocutores os resultados do trabalho feito na gestão Temer, que podem ser considerados ponto de partida para futuras medidas de Bolsonaro.
Na Secretaria de Empresas Estatais (SEST) do Ministério do Planejamento, está pronto um relatório sobre todas as empresas estatais que podem ser privatizadas ou alvo de alguma medida de gestão.
Já na Receita Federal, a publicação em 15 de outubro de uma portaria que cria uma classificação para os pagadores de impostos (programa chamado de Pró-Conformidade) foi considerada um gesto da atual gestão para mostrar seu alinhamento com a próxima gestão. A medida foi taxada de “liberal” por alas do órgão, que viram no gesto uma forma de mostrar alinhamento ao programa do PSL.
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